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Centro comemora 25 anos e apresenta nova braquiária

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No dia 28 de abril, a Embrapa Gado de Corte (Campo Grande/MS), uma das 40 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, completará 25 anos de existência. Para comemorar, a empresa fará o pré-lançamento, durante a Expogrande 2002, de 11 a 21 de abril, em Campo Grande, de uma nova cultivar de Brachiaria brizantha, a ser batizada comercialmente de capim-xaraés.

O xaraés vem sendo estudado e testado pela equipe de pesquisadores da Embrapa Gado de Corte há mais de 10 anos e segue uma tradição, iniciada em 1984 pela empresa, de batizar as cultivares de braquiárias com nomes de origem tupi-guarani ou de povos e culturas indígenas locais. Naquele ano, a Embrapa Gado de Corte lançou o capim-marandu. A palavra marandu significa "novidade" na linguagem indígena que foi sistematizada pelos jesuítas no século XIX. Já o termo "xaraés", provavelmente de origem indígena também, foi uma denominação difundida pelos colonizadores espanhóis, no século XVI, à área inundável do Pantanal brasileiro, para definir o conjunto formado por ecossistemas pantaneiros, vazantes, cheias e pelos povos que a habitavam, a partir do termo criado pelo mercenário bávaro Ulrico Schmidl.

Há, no Brasil, produzidas em escala comercial, sete cultivares de braquiárias para alimentação do gado. Pensando em forrageiras, de um modo geral, constata-se que a Embrapa Gado de Corte lançou nesses seus 25 anos de funcionamento outras 6 cultivares: capim-marandu, mombaça, tanzânia, pojuca, estilosantes mineirão, e, mais recentemente, o capim-massai e o estilosantes Campo Grande. O marandu, o pojuca e o estilosantes mineirão foram lançados em parceria com a Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) e, nos dois últimos casos, a unidade de Campo Grande contribui com os testes dos ensaios regionais, uma vez que mineirão e pojuca resultaram de pesquisas desenvolvidas pela unidade do Distrito Federal. O mercado brasileiro de sementes de forrageiras movimenta anualmente cerca de 240 milhões de dólares e, deste, as sementes oriundas de cultivares lançadas pela Embrapa, em todo o Brasil, somam 60%: na proporção de 48% de sementes de braquiarão (capim-marandu) e 12% de sementes de mombaça e tanzânia.

A cultivar

Coletada em Cibitoke (no Burundi, África do Leste), a gramínea já vem sendo estudada pela Embrapa há, pelo menos, 10 anos. Ela foi introduzida, primeiramente, por cultivo "in vitro", dentro de tubos de ensaio e chegou ao Brasil a partir de uma cooperação científica com o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), instituição que tem sede em Cali, na Colômbia. No Brasil, foi submetida à quarentena da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e distribuída para duas unidades de pesquisa na região Centro-Oeste. Em 1988, ocorreu o primeiro experimento em campo com essa cultivar sob irrigação. O capim-xaraés não é um híbrido, mas é uma variedade que resulta de um processo de seleção. "A Embrapa certifica e garante a pureza genética desse material", lembra a pesquisadora Cacilda Borges do Valle, que é também a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Corte.

O capim-xaraés começou sua escalada rumo ao lançamento em testes com outras 213 cultivares por três anos. De uma primeira seleção, mostraram melhor desempenho 19 cultivares de brizanta e outras duas de humidícola. Esses materiais percorreram uma rede nacional de ensaios para testes de adaptação em várias regiões e em nove estados. Dois anos depois, os testes selecionaram oito cultivares de braquiária brizanta para testes sob pastejo, que estudam o efeito do animal sobre a pastagem (ingestão, pisoteio, entre outras). A próxima etapa contou com a avaliação de apenas quatro materiais em testes de ganho de peso, medindo, então, o efeito do pasto sobre o animal, nos estados da Bahia, São Paulo, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. A cultivar xaraés obteve o melhor desempenho entre os materiais para o gado de corte. Não foram realizados ensaios com ela para o gado leiteiro, e as únicas informações que se têm são oriundas de testes realizados na Colômbia, em que a xaraés mostrou desempenho inferior ou semelhante ao da cultivar marandu para essa atividade. O capim-xaraés foi desenvolvido em parceria da Embrapa Gado de Corte com a Comissão Estadual de Pesquisa da Lavoura Cacaueira do Centro de Pesquisa do Cacau (CEPLAC/CEPEC) na Bahia, o Instituto de Zootecnia (IZ), com sede em Nova Odessa/SP, e a Embrapa Cerrados.

Características da planta

O capim-xaraés é uma planta muito vigorosa, que atinge uma altura média de 1,5m. Tem folhas mais largas que as do marandu e sua coloração é verde-escura. Ela é indicada para regiões de clima tropical úmido e para as de cerrados, com estação seca variando entre quatro e cinco meses. É indicada também para solos de média fertilidade e apresenta boa resposta à adubação. Sua produtividade é boa e o xaraés apresenta uma distribuição da sua produção em cerca de 30% na seca e 70% no período das chuvas, pois floresce tardiamente, por volta do mês de abril. Os coloniões, em comparação, concentram 90% da sua produção anual durante as chuvas e 10%, apenas, durante o período seco.

A capacidade de suporte do capim-xaraés também é uma vantagem para a cultivar, pois ela propicia uma maior quantidade de animais na pastagem - 60% a mais que o marandu nas águas e chega a proporcionar um ganho de peso anual por área 30% maior também. No período seco, o desempenho do capim-xaraés é similar ao do marandu e superior ao dos coloniões. Esta cultivar apresenta, ainda, teor de proteína em torno de 13% e resistência moderada à cigarrinha. Nestes anos de experimentação, não se percebeu a presença desse inseto no campo, nem de danos causados por fungos nas áreas plantadas com capim-xaraés.

A Embrapa tem a previsão de colher, em outubro de 2002, nove toneladas de sementes para repassá-las aos multiplicadores. Essas sementes deverão estar chegando ao mercado lá por meados de setembro/outubro de 2003, quando os sementeiros iniciarão a comercialização delas aos pecuaristas. A cultivar produz cerca de 100 a 120 Kg de sementes por hectare ao ano, com 40 a 45% de pureza.

Com o lançamento dessa nova cultivar, a Embrapa Gado de Corte reforça sua campanha pela diversificação de forrageiras nas pastagens brasileiras, a fim de evitar os problemas derivados dos cultivos em larga escala de um só tipo de material. "Não recomendamos a prática de monoculturas extensas para nenhuma espécie de forrageira. Isso se configura em um grave risco à atividade pecuária", adverte Cacilda Borges do Valle. "O pecuarista precisa diversificar para garantir eficiência, até porque as condições de solo nem sempre são únicas dentro de uma mesma propriedade", conclui a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte.

Até o ano 2010, a Embrapa tem previsão de lançar 13 novas cultivares de forrageiras de várias espécies. Só a unidade de Campo Grande tem planos de colocar no mercado nesse período três novas cultivares de braquiárias brizanta, uma cultivar de humidícola, um panicum e um estilosantes.

Mar de Xaraés

De acordo com o professor de história regional da Escola Mace de Campo Grande, Sérgio Moura Nonato da Silva, o nome "xaraés" remete, de forma genérica, ao conjunto natural em torno da antiga região do Pantanal mato-grossense: aos ecossistemas, lagoas, vazantes, ao fenômeno das enchentes e a um povo que habitava esta região no século XVI, quando da colonização espanhola. Pelo Tratado de Tordesilhas, toda a região compreendida pelos atuais estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, pelo Paraguai, Argentina e Uruguai fazia parte da Província do Paraguai ou Província do Rio da Prata, pertencente à Coroa Espanhola. Em 1546, aconteceu a primeira expedição ao "Mar de Xaraés", comandada pelo então governador paraguaio Alvar Núñes Cabeza de Vaca. Somente a partir do século XVIII, sob o domínio dos portugueses, a região ganhou a denominação de Pantanal, a maior planície inundável do planeta. Um sentido para a denominação de "mar" pode ser encontrado na poesia de Manoel de Barros: "No Pantanal ninguém pode passar a régua. Sobre muito quando chove. A régua é existitura de limites, e o Pantanal não tem limites".

Para conhecer mais alguns aspectos da história e cultura do Pantanal:

COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente: o Pantanal entre os séculos XVI e XVIII. São Paulo: Ed. Liberdade: Kosmos, 1999.

SGRIST, Marlei. Chão Batido. Campo Grande: Ed. UFMS, 2000.

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Thea Tavares - MTb 3207/12/23v/PR Embrapa Gado de Corte (Campo Grande-MS) Fone: (67) 368-2023 E-mail: thea@cnpgc.embrapa.br  

Tema: A Embrapa\A Instituição 

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