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Projeto vai definir manejo para evitar invasão da algaroba no ambiente semi-árido

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Planta benéfica ou vilã? Entre esses dois extremos têm se dividido as opiniões sobre a presença da algaroba no ambiente semi-árido. A espécie produz madeira de qualidade para estacas, carvão e uso em fornos industriais, bem como vagens para a produção de forragem, e farinha para alimentação humana. A espécie também possui uma estrutura biológica que ajuda na fixação do nitrogênio ao solo e na recuperação de áreas degradadas. Por outro lado, se mal manejada, a algaroba, por ser extremamente agressiva, é capaz de invadir habitats naturais e inibir a regeneração das espécies de caatinga, reduzindo a biodiversidade vegetal do bioma.

Para o pesquisador Paulo César Fernandes Lima, da Embrapa Semi-Árido (Petrolina/PE), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a algaroba merece uma abordagem mais ampla da sua presença no ambiente da caatinga. É difícil estabelecer uma regra que a caracterize estritamente como benéfica ou vilã. Na sua opinião, há várias questões de ordem econômica e ecológica que precisam ser observadas para se poder estabelecer um valor para a planta. Uma coisa, porém, é certa: se mal manejada, a espécie é capaz de causar grandes malefícios, principalmente de ordem ambiental.

Manejo - No Nordeste, a algaroba foi introduzida na década de 40. No início, foram cultivadas apenas quatro plantas. Hoje, sessenta anos depois, são milhares espalhadas por todas as zonas agroecológicas da região. Essa expansão se deu de forma desordenada, sobre extensas áreas com maior umidade do solo, recomendadas para produção agrícola. A Embrapa Semi-Árido está iniciando um projeto inovador que pretende favorecer a exploração produtiva da algaroba sem causar maiores danos ao meio ambiente.

O projeto Manejo de Áreas Invadidas por Algarobeira vai receber recursos no valor de R$ 210.293,00 do Programa Nacional de Diversidade Biológica (PRONABIO), do Ministério do Meio Ambiente. A Embrapa Semi-Árido irá executá-lo em conjunto com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Diretoria de Desenvolvimento Florestal (DDF), da Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia. Os trabalhos serão realizados durante dois anos, em dez áreas de invasão desta espécie, localizadas nos estados do Piauí, Paraíba, Bahia e Pernambuco.

Segundo Paulo César, o projeto fará análises da situação existente nestas regiões, procurando conciliar os problemas de ordem ecológica, pela regeneração espontânea e excessiva da espécie, ao melhor aproveitamento dos produtos extraídos da espécie e que geram renda para os produtores do semi-árido. Mesmo com a invasão, pode-se extrair madeira da planta, usar a vagem in natura para alimentação dos rebanhos, ou processá-la para produção de farelo e de farinha para alimentação humana. Essas utilidades são mais valorizadas ainda porque estão disponíveis para os agropecuaristas do semi-árido no período da seca. Aliás, sua introdução no Nordeste teve o objetivo de explorar o seu potencial forrageiro e torná-la mais uma cultura alternativa para convivência com a seca.

Degradação - Em estudo realizado na Bahia, Paulo César comparou a diversidade de espécies vegetais regeneradas em uma área de caatinga natural e em outra sob pressão de atividades humanas. Na área preservada foram encontradas cerca de 62 espécies arbóreas/arbustivas diferentes, estimados em 902 plantas adultas/hectare. Na totalmente degradada, encontrou-se apenas 2 espécies, correspondendo a 18 plantas adultas/ha, sendo a algarobeira a espécie dominante. A análise da regeneração espontânea, no mesmo local, demonstrou a existência de quase 4 mil algarobeiras/hectare na fase adulta contra, apenas, 700 mudas de espécies da caatinga.

Paulo César explica que o grau de interferência do homem na caatinga, provocando a degradação dos solos, é um dos fatores que contribuem para o estabelecimento e invasão das algarobeiras na região. Com grande capacidade de dispersão e regeneração, a planta se estabelece com mais rapidez e de forma desordenada na área degradada e inibe a implantação natural das espécies nativas da caatinga. A realidade ambiental do semi-árido favorece ainda mais a invasão da planta. Segundo dados da Embrapa, perto de 70% das áreas de caatinga já sofrem pressão da ação do homem. Na região, cerca de 20 milhões de hectares estão sob processos de degradação do solo devido ao desmatamento desordenado, sobrepastejo animal, salinização e outras.

Na Paraíba, o maior percentual de área matriz energética do estado tem grande dependência do corte de árvores para produção de carvão. Esse estado tem o maior percentual de área degradada no Nordeste. Nas áreas de mata ciliares e úmidas na região do Cariri, na Paraíba, já se observa uma invasão significativa da algarobeira, segundo o professor Leonaldo Alves de Andrade, do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba. Para ele, é preciso agir rápido para que a situação não saia do controle.

Como resultado dos estudos ora iniciados, o plano de manejo a ser definido pelo projeto pretende reduzir em até 60% o avanço espontâneo da algarobeira sobre áreas de caatinga. Uma das medidas que está sendo avaliada é o manejo de animais nessas áreas. A ingestão das vagens in natura não elimina totalmente as sementes que são disseminadas pelas fezes, que, em contato com o solo e encontrando condições ótimas de umidade, germinam e crescem, infestando as áreas. Esta tem sido a forma de dispersão da algaroba nos sertões, sendo os animais os agentes dispersores e a água os facilitadores.

O projeto também vai estudar os segmentos da cadeia produtiva da algaroba na região, com análises dos custos de produção e venda de lenha, estaca, carvão, farinha de algaroba e o comércio de vagem in natura. Na região Nordeste existem fábricas de ração que utilizam a algaroba na fabricação de ração para os animais e indústrias, que utilizam lenha como fonte energética para processamento de seus produtos.

Maiores informações:

Paulo César Fernandes Lima , Pesquisador/Embrapa Semi-Árido, tel 87 3862 1711 - Endereço eletrônico: pcflima@cpatsa.embrapa.br

Marcelino Ribeiro Embrapa Semi-Árido - tel 87 3862 1711 Endereço eletrônico: marcelrn@cpatsa.embrapa.br  

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