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Especial 30 Anos - Pesquisa mostra que é possível conviver com a seca e tornar o Nordeste produtivo

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Irrigação, cultivares e espécies tolerantes à seca e produção animal de base familiar estão mudando fisionomia da região

O Semi-Àrido brasileiro abrange uma área de 912 mil quilômetros quadrados, onde vivem cerca de 22 milhões de pessoas. É um dos ecossistemas mais habitados no meio rural brasileiro, mas sempre foi associado à seca e pobreza. Hoje, a exemplo de outros semi-áridos do mundo, a irrigação, o uso de espécies tolerantes à seca e a produção animal estão transformando o Nordeste brasileiro. O cenário se modifica e começa a dar lugar a um ambiente de produção, mostrando que, apesar da seca, a região também é viável economicamente.

Existem, hoje, tecnologias disponíveis que têm tornado possível a produção comercial de diversos produtos agrícolas e pecuários, capazes de competir nos mercados nacional e internacional. A Embrapa conduziu pesquisas para um melhor aproveitamento das áreas irrigadas do Nordeste (notadamente no Vale do Rio São Francisco, que se tornou referencial na agricultura irrigada no país), desenvolveu cultivares de grãos, frutas e hortaliças adaptadas à região e resistentes a seca e criou tecnologias alternativas para ampliar a produção de pequenos animais junto aos agricultores familiares (principalmente caprinos e ovinos).

Tecnologias em destaque – Quatro tecnologias desenvolvidas na Região Nordeste são destaque durante a comemoração dos 30 anos da Embrapa. A primeira é o algodão colorido. A cultivar BRS 200 Marrom é o primeiro exemplar colorido geneticamente obtido no Brasil por meio de melhoramento convencional, com utilização do método de seleção genealógica. A fibra colorida possui valor de mercado 30% a 50% superior às fibras do algodão branco normal, que associada à produtividade mais elevada e maior rendimento de fibras, resulta em receita acima de 100% em relação ao cultivo do algodoeiro arbóreo ou mocó. É uma cultivar selecionada a partir de algodoeiros arbóreos nativos do semi-árido nordestino, possuindo alto nível de resistência à seca.

Pode ser plantada tanto nas regiões do Seridó e Sertão quanto sob condições irrigadas, no Semi-Àrido, quando possibilitará a obtenção de rendimentos de até 3.300kg de algodão em caroço por hectare. Os preços obtidos com o algodão colorido no mercado internacional variam de US$ 3,79 a US$ 5,00 / kg de fibra verde e de US$ 1,84 a US$ 3,35/kg de fibra marrom, o que propicia alta margem de lucro aos produtores, quando comparado com o algodão de fibra branca, que alcança preços médios de US$ 1,65/kg de fibra. Esta cultivar foi desenvolvida para pequenos agricultores e já gerou benefícios da ordem de R$ 260 mil só de vendas diretas em 2001, sem considerar a produção de roupas e exportação das mesmas para o exterior. O algodão colorido só traz benefícios ao meio ambiente, desde seu plantio, até seus produtos finais (suas fibras não precisam de tingimento químico, evitando a emissão de poluentes e propiciando economia de água e energia).

Mini-usina de beneficiamento de algodão – Com a tecnologia da mini-usina de beneficiamento de algodão os pequenos produtores podem descaroçar, limpar e prensar o algodão, vendê-lo diretamente à indústria, auferindo com isto mais de 100% na rentabilidade líquida da safra. Além do lucro na venda, o agricultor retém sementes para plantar no ano seguinte, vender uma parte aos vizinhos e até alimentar seus animais no período de seca. O foco do projeto está na organização dos produtores e na utilização correta de outras tecnologias (zoneamento agroecológico para o algodão, curva de nível para o solo, utilização de cultivares adequada, controle de doenças e pragas).

Tem-se mostrado excelente alternativa para associação de pequenos produtores, propiciando uma série de vantagens: baixo custo do investimento na aquisição dos equipamentos e instalações, comercialização da pluma diretamente com a indústria de fiação (agregando valor ao produto), produção de sementes de boa qualidade no município ou região de instalação (resolvendo definitivamente os problemas de falta de sementes para plantio no início do inverno) e uso da semente em forma de caroço para alimentar o rebanho local. Com a tecnologia, cinco empregos são gerados no manuseio da usina (no local de instalação) e a produção sofre um incremento de até 208,61% em relação ao sistema tradicional. Os benefícios já gerados estão estimados em R$ 800 mil.

Minifábricas de processamento da castanha de caju – A tecnologia das minifábricas de processamento e beneficiamento da castanha de caju tem como objetivo gerar novos empregos e aumentar a renda de agricultores familiares do Nordeste. Desenvolvida pela Embrapa, está mudando as relações de trabalho no setor: estima-se que, em 2001, a inovação gerou 1.220 empregos diretos e 6.100 empregos indiretos no Nordeste. Para cada tonelada de amêndoa de castanha de caju beneficiada, o pequeno agroindustrial obteve uma renda adicional de R$ 654 reais. Hoje a tecnologia já existe em mais de 120 minifábricas no Nordeste, abrangendo 62 municípios.

Antes, os pequenos produtores exerciam o papel de fornecedores de castanha in natura para as grandes indústrias. Com a introdução das minifábricas, as pequenas comunidades beneficiam suas próprias castanhas e ainda adquirem matéria-prima de outros produtores. Outra mudança importante está nas relações de trabalho. Com o estímulo da Embrapa ao associativismo e ao cooperativismo, os pequenos produtores tornam-se empregadores de si mesmos, auferindo os benefícios do seu próprio esforço e trabalho. Atualmente, os módulos de minifábricas estão se organizando em associações para aumentar a produção, a oferta e a comercialização de amêndoas para o mercado externo. De 2000 a 2001 foram exportadas 272 toneladas de amêndoas, provenientes de minifábricas, para os Estados Unidos, Canadá e Líbano.

Sistema Caatinga-Buffel-Leguminosa (CBL) para produção animal - No modelo tradicional de exploração pecuária no Nordeste são necessários cerca de 12 a 15 hectares de caatinga para manter um bovino adulto por ano. Com o CBL são necessários apenas 2 hectares. O sistema utiliza baixíssimo nível de uso de insumo externo, reduzindo o seu custo operacional. É um sistema de baixa vulnerabilidade aos efeitos adversos das secas periódicas da região semi-árida, onde são utilizados métodos não agressivos ao ambiente, e de produtividade bastante superior à observada nos sistemas extensivos tradicionais.

O impacto econômico da tecnologia é expressivo. O aumento na oferta de carne caprina é da ordem de 130%, passando dos atuais 17kg de animais comercializáveis/matriz criada/ano para mais de 40kg. Na carne bovina, o aumento é de mais de 50%, conseguindo-se o abate de animais de 14-15 arrobas de peso vivo com uma antecipação média 18 meses. O impacto ambiental também é grande: com a sua adoção, o sistema proporcionaria a preservação de cerca de 25 milhões de hectares de caatinga bruta. Atualmente, contudo, o nível de adoção é ainda baixo, sendo estimado entre 100 e 120 mil hectares.

Jornalista: Robinson Cipriano (MTb 2057/88-DF) Assessoria de Comunicação Social da Embrapa Telefone: (61) 448-4113 E-mail: robinson@sede.embrapa.br http://www.embrapa.br Brasília-DF, 29 de abril de 2003  

Tema: A Embrapa 

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