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Especial 30 Anos - Tecnologias mudaram a cara do Centro-Oeste brasileiro

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Cultivares especiais, tratamento do solo e integração da lavoura com a pecuária transformaram o Cerrado no novo celeiro de grãos do mundo

O Centro-Oeste era uma região desconhecida e pouco explorada há trinta anos. A pesquisa agropecuária transformou esse cenário: graças aos trabalhos de desenvolvimento de cultivares e tecnologias adequadas à região, o Cerrado hoje abriga 41% dos 163 milhões de bovinos do rebanho nacional. É responsável também por 46% da safra brasileira de soja, milho, arroz e feijão. São 50 milhões de hectares de pastagens cultivadas, doze milhões de hectares de culturas anuais e dois milhões de hectares de culturas perenes e florestais. Recentemente novas culturas também foram adaptadas à região, como o algodão, o girassol, a cevada, o trigo, a quinoa, o amaranto, a seringueira e os hortifrutigranjeiros.

Hoje o desafio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é continuar buscando tecnologias para o Centro-Oeste brasileiro, incorporando os princípios da conservação e sustentabilidade aos sistemas de produção agropecuária. O Cerrado é um dos mais importantes ecossistemas mundiais, que ocupa 24% da área total do país (204 milhões de hectares) e representa a segunda maior biodiversidade da América do Sul, superada apenas pela Amazônia. Existem cerca de 6.500 espécies de plantas no Cerrado, das quais mais de 200 já têm identificado algum uso econômico (forrageiro, madeireiro, medicinal e ornamental) pela pesquisa.

Tecnologias em destaque – Quatro tecnologias desenvolvidas na Região Centro-Oeste são destaque durante a comemoração dos 30 anos da Embrapa. A primeira, representando todo o avanço da pesquisa com hortaliças para o Brasil, é o desenvolvimento de novas cultivares de cenoura, como a Brasília e a Alvorada, que permitiram o cultivo em todas as épocas e regiões do país. A conseqüência econômica imediata dessas tecnologias foi a regularização da oferta durante o ano inteiro. A disponibilidade do produto a preços mais baixos integrou definitivamente a cenoura na dieta da população brasileira. Em 1982, a produção nacional não chegava a 167 mil toneladas, abrangendo 11,2 mil hectares. Na safra de 2002 a área evoluiu para 27,4 mil hectares, com a produção de 755 mil toneladas.

A produção interna de sementes de cenoura, que antes era impossível, reduziu sensivelmente as dependências de importações. Considerando os custos adicionais da tecnologia, os benefícios econômicos líquidos creditados à pesquisa da Embrapa e transferidos para a sociedade no ano 2002 foram de R$ 3.167 mil (equivalente a US$ 1.082 mil). Os impactos são significativos também com relação ao número de empregos gerados pela cadeia produtiva da cenoura: cerca de 150 mil no Brasil.

A pesquisa foi além: a Embrapa chegou a uma variedade de cenoura com teor de carotenóides totais cerca de 35% maior em relação às cultivares existentes no mercado. Com coloração interna da raiz mais uniforme e menor incidência de ombro-verde, a Alvorada representou para o consumidor um novo padrão de qualidade nutritiva e visual, sendo ainda resistente às doenças de folhagem e aos nematóides formadores de galhas, diminuindo sensivelmente emprego de agrotóxicos em qualquer época do ano.

Mistura múltipla - A produção de gado de corte, especialmente no Brasil Central, depende quase que exclusivamente das pastagens. Na época da seca, as pastagens não suprem as necessidades alimentares dos animais, provocando perda de peso. Para corrigir essa deficiência alimentar, a Embrapa desenvolveu a mistura múltipla ou sal protéico, constituída pela associação de sais minerais com ingredientes que servem como fontes naturais de energia (milho), de proteína natural (farelo de soja) e de nitrogênio não-protéico (uréia pecuária). Deve ser utilizada preferencialmente para suplementar os animais no período seco para complementar as exigências nutricionais dos animais, mas pode ser usada também no período chuvoso para potencializar o ganho de peso dos animais nessa época do ano.

Ao receber essa mistura, o gado é estimulado a aumentar o consumo de forragem, mesmo que ela esteja seca, fibrosa e com baixo teor de proteína. Com isso, evita-se a necessidade de queimar o pasto seco e causar problemas ambientais graves no período de seca. O ganho de peso esperado, na época da seca, com base na experiência já obtida por produtores na região do Cerrado, é da ordem de 200 a 400 gramas por cabeça, o que pode significar um retorno líquido de até setenta reais por hectare, considerando 120 dias. Para cada um real aplicado nessa suplementação, podem ocorrer ganhos de até cinco reais para o produtor, ajudando-o a superar as dificuldades do período da entressafra. A tecnologia, que pode beneficiar tanto o grande quanto o pequeno produtor, está sendo usada em praticamente toda a América do Sul e também na Austrália e na África do Sul.

Integração agricultura/pecuária – Outra solução importante encontrada pela Embrapa para a renovação dos mais de 40 milhões de hectares de pastagens do Cerrado foi o sistema de associação de culturas anuais (principalmente arroz, milho, sorgo ou girassol) com pastagens. A tecnologia contribui para o abastecimento de grãos, melhora a reciclagem de nutrientes do solo e reduz a escassez de carne e leite, inclusive no período seco. Dois sistemas especialmente desenvolvidos pela Embrapa são o Barreirão e o Santa Fé. Com o uso do Sistema Barreirão, por exemplo, cerca de 500 mil hectares de pastagens já foram renovados somente no Mato Grosso do Sul, reduzindo-se a necessidade de desmatamento de novas áreas para a formação de pasto.

Os resultados de pesquisa indicaram que a tecnologia foi responsável por um ganho adicional de 100 kg de peso vivo/ha/ano ou 50 kg de carne/ha/ano, como resultado da melhoria das condições da pastagem no sistema de rotação com lavoura, sem custo adicional. A integração lavoura/pecuária tem proporcionado também aumento, na receita líquida, superior a 20%, em relação à exploração da terra apenas com culturas anuais, durante a estação chuvosa. Além dos benefícios com a maior reciclagem de nutrientes e com a redução de incidência de doenças (principalmente fungos de solos), o sistema permite redução de 30% na quantidade de herbicidas, no cultivo subseqüente.

Brasil tem seu primeiro clone bovino - No dia 17 de março de 2001, nasceu em Brasília a bezerra Vitória, o primeiro bovino resultante da clonagem por transferência nuclear produzido na América Latina, fruto de pesquisas da Embrapa. O aprimoramento da técnica abriu a possibilidade de multiplicação de bovinos de elevado padrão genético pela clonagem a partir de indivíduos adultos. Vitória está completando dois anos com perfeita saúde neste mês. A clonagem em animais deve ser entendida como uma importante ferramenta de trabalho que contempla diferentes setores estratégicos, sejam científicos ou produtivos. Na reprodução animal, a clonagem tem por objetivo atender tanto a programas de melhoramento genético, como também de regeneração de recursos genéticos em vias de extinção. Espera-se que num período de cinco anos esta tecnologia esteja disponível para o setor produtivo.

Jornalista: Robinson Cipriano (MTb 2057/88-DF) Assessoria de Comunicação Social da Embrapa Telefone: (61) 448-4113 E-mail: robinson@sede.embrapa.br http://www.embrapa.br

Brasília-DF, 29 de abril de 2003  

Tema: A Embrapa 

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