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O verdadeiro "milagre" brasileiro

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O verdadeiro "milagre" brasileiro

"A excelência da tecnologia brasileira é um dos fatores que estimulam agricultores americanos a comprar terras no País"

Pessimistas incorrigíveis ainda insistem que o Brasil não dá certo. Eles se esquecem de que o País ainda está se descobrindo. Um exemplo é o surgimento de uma nova fronteira agrícola, não no Centro-Oeste ou no Meio-Norte, como seria natural, mas no Paraná, estado que tem uma agricultura forte, responsável por 21% da produção brasileira de soja de um total de 50,3 milhões de toneladas para citar apenas este grão.

Esta fronteira é o arenito caiuá, também chamado de "areião", no noroeste do estado. É uma área de 3,2 milhões de hectares, correspondente a 16% dos 20 milhões de hectares utilizados para agricultura e pecuária. Até agora, nesta região predomina a pecuária de corte extensiva, porque o solo é composto basicamente por areia (80%) e um pouco de argila, ou seja, é muito pobre em nutrientes. Em contrapartida, tem pouca acidez, o que reduz a necessidade do uso de calcário.

Os agricultores pioneiros que estão plantando soja além de milho e Trigo em menor escala no arenito caiuá, num programa apoiado pela Cocamar Cooperativa Agroindustrial de Maringá (PR) que envolve produtores rurais de 107 municípios, já vêm obtendo produtividade bem próxima ou em alguns plantios até superior à de áreas convencionais. A incorporação do "areião" à atividade agrícola cria a possibilidade de, no longo prazo, o Paraná duplicar a sua produção de soja, hoje de 10,6 milhões de toneladas/ano. O segredo é a utilização da moderna tecnologia disponível atualmente, como a técnica do plantio direto, sementes certificadas, fertilizantes e defensivos agrícolas em volumes adequados.

Mas o avanço da agricultura sobre as pastagens não se resume ao Arenito caiuá. Estima-se que em menos de dez anos 22 milhões de hectares de pastos se transformarão em áreas de plantio com grãos. Isso significa que a pecuária de corte brasileira perderá importância econômica? Ao contrário. Este segmento ingressa em novo momento o da saída dos amadores da atividade, cedendo o espaço para empreendedores profissionais, detentores de moderna tecnologia e capacidade de investir.

Redução do espaço de pastagens implica em aumento da produtividade, ou seja, criar mais cabeças de gado por hectare, reduzir a idade de abate e melhorar a qualidade da carne. Isto só se torna possível com a combinação de três fatores: genética, sanidade e nutrição. Nesse campo, há avanços perceptíveis e um novo passo está sendo dado pela Central Bela Vista Genética Bovina, que formalizou parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolvimento do Projeto Genoma Funcional do Boi.

Se o Brasil se tornou uma potência agrícola é porque detém a melhor tecnologia de agricultura tropical, graças aos esforços de pesquisa desenvolvidos nas últimas décadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e por outros órgãos, como o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Instituto Agronômico de Campinas e outros. O trabalho dos especialistas destas instituições nem sempre é valorizado como merece, tanto pelo poder público como pelo setor privado. Por exemplo, o orçamento de custeio da Embrapa programado para este ano é menor do que o do ano passado, que já havia sido inferior ao de 2001. Para complicar, há atraso na liberação das verbas, o que coloca em risco muitos projetos de pesquisas em curso.

A excelência da tecnologia brasileira, reconhecida mundialmente, é um dos fatores além da disponibilidade de terras cultiváveis e de água, clima favorável, luminosidade e qualidade do solo que têm estimulado centenas de grandes produtores agrícolas dos EUA a comprar terras no País. A secretária de Agricultura norte-americana, Ann Veneman, já estaria preocupada com este movimento recente, que segundo ela se deve à tendência de redução da renda dos agricultores nos países ricos com a possível, mas ainda difícil, queda do protecionismo no setor agrícola.

Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, os americanos têm em vista o grande aumento da demanda por alimentos prevista para as próximas décadas. Estudos indicam que, entre 1993 e 2020, a demanda global por soja deverá dobrar, e a de carne aumentar 120%.

A descoberta do potencial agrícola do cerrado e a sua exploração intensiva vem se dando no curto espaço de tempo de uma geração. Sem a incorporação dessas vastas áreas, as cadeias do agronegócio não responderiam hoje por 37% dos empregos do País, 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 41% das exportações. De 1990 a 2002 a área plantada cresceu 12%, ou menos de 1% ao ano, enquanto a produtividade deu um salto de 75% no período. Este é o verdadeiro "milagre" brasileiro.

Gazeta Mercantil – Editorial - página A-3 (22/05/2003) – (afurtado@gazetamercantil.com.br)  

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