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Medidas urgentes para melhorar setor cafeeiro foram o foco da abertura do III Simpósio de Pesquisas dos Cafés

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O discurso de abertura do III Simpósio de Pesquisas dos Cafés do Brasil, na noite do dia 11 de maio, foi marcado pela aula-magna do diretor-executivo da Organização Internacional de Café (OIC), Néstor Osorio, que ressaltou a necessidade urgente de medidas para melhorar o setor cafeeiro. Ele enfatizou que a maioria dos setores da cafeicultura passa por crise, principalmente a produção cujos preços são insuficientes para cobrir os custos. Em dificuldades financeiras, as conseqüências são imediatas como por exemplo, a diminuição da geração de empregos e o desequilíbrio entre oferta e demanda. "A principal característica do mercado o ano passado, sem dúvida, foi a queda dos preços do café a seus níveis mais baixos de 30 anos, o preço indicativo composto da OIC registra 41,65 centavos de dólar dos Estados Unidos por libra-peso em 29 de janeiro de 2002, e a seus níveis mais baixos de 100 anos em valores reais", disse Osório.

O diretor-executivo da OIC expôs que em quase todos os países produtores de café, os preços são insuficientes para cobrir os custos de produção e têm levado a graves problemas sociais e econômicos. As receitas monetárias geradas pelo café para os cafeicultores de subsistência caíram substancialmente e com a falta de recursos para educação, saúde e outras necessidades que requerem pagamentos em dinheiro, a pobreza em geral aumentou. O endividamento forçou muitos agricultores a abandonar suas propriedades ou recorrer a cultivos ilícitos. Quem insistiu na cafeicultura enfrenta problemas como a redução dos tratos culturais e dos cuidados na colheita comprometendo a qualidade da produção. O resultado é um reflexo imediato na economia dos países.

Para o diretor-executivo da OIC "o que causou esta situação foi um desequilíbrio entre a oferta e a demanda, pontilhado, durante quatro anos, por um excesso de produção em relação ao consumo, e exacerbado, em 2002/03, por uma supersafra brasileira com volume estimativo de 47,3 milhões de sacas". Esse volume é o maior que se registrava em termos históricos, correspondentes a 40% da produção mundial. Os dados da OIC mostram que estes altos níveis de produção resultaram de extenso plantio e aplicação de melhores tecnologias no Brasil em meados dos anos 90, na seqüência da alta de preços após a geada de 1994, assim como do crescimento contínuo da produção do Vietnã nos anos 90, que levou a níveis de produção de 14,8 milhões de sacas em 2000/01 e de 12,3 milhões de sacas e, 2001/02. Para tentar minimizar esse desequilíbrio entre oferta e demanda, a OIC identificou diversas iniciativas de médio prazo, em consonância com os objetivos do Convênio Internacional do Café de 2001. Dentre os destaques destas medidas estão: programa de melhoria da qualidade do café sendo que os exportadores não devem exportar café que sendo Arábica tenha mais de 86 defeitos por amostra de 300g (classificação do café verde de Nova Iorque/método brasileiro ou equivalente); sendo Robusta, tenha mais de 150 defeitos por 300g (Vietnã, Indonésia ou equivalente); que seja Arábica ou Robusta, tenha um teor de umidade inferior a 8% ou superior a 12,5%, mensurado pelo método ISSO 6673.

Quanto ao crescimento anual do consumo registrou-se nos últimos cinco últimos anos, um índice mais modesto, em contraste com o crescimento anual da produção. Em termos macroeconômicos, o valor das exportações de café de todos os produtos básicos vem sofrendo um declínio acentuado desde 1966. Isso preocupa as lideranças da cafeicultura, pois o café é uma das poucas atividades econômicas em que numerosos países tropicais em desenvolvimento gozam de certa vantagem comparativa.

A qualidade do café também mereceu destaque no discurso de abertura do Simpósio. Para o diretor-executivo da OIC os investimentos em pesquisas resultam no aperfeiçoamento da produção, melhoria na qualidade e conseqüentemente maior competitividade internacional. "Creio que a pesquisa desempenha um papel vital ao contribuir para a saúde do setor cafeeiro", diz Osório. Ele ressaltou que o Programa da Qualidade deve ser visto mais como um meio de expandir o consumo do que como uma forma de limitar as exportações, que em grande parte seria um efeito de curta duração. "Há provas claras de que hoje em dia o consumo é mais afetado pela qualidade do que pelo preço", explicou. Números mostram que os EUA em 1962 importaram 24,7 milhões de sacas, e em 2002 o volume caiu para 21,7 milhões. O Programa deve ser visto como um processo gradual, já que muitos não poderão implantar as medidas na íntegra. Aqueles países que investirem no Programa terão maior competitividade na comercialização de seus cafés. No próximo dia 16, o Comitê de Qualidade da OIC fará uma avaliação do progresso obtido na implementação do Programa. Outro evento será no dia 19 de maio, na OIC, em Londres, será realizado, no Banco Mundial, uma mesa-redonda de alto nível para discutir as questões no contexto de uma busca de soluções realistas e implementáveis referentes à cafeicultura.

A OIC está buscando apoio para programas de diversificação em outras atividades econômicas em áreas onde a cafeicultura pode ser vista como marginal, e alternativas apropriadas podem ser identificadas. A OIC também está interessada em apoiar projetos de diversificação vertical destinados à busca de tipos de café que garantam maior valor agregado.

Encerrando a aula-magna "A Contribuição da Pesquisa no Confronto com a Crise Mundial do Café", o diretor-executivo da OIC Nestor Osorio disse que tem procurado conscientizar o público e as instituições acerca dos problemas existentes "pois o sustento de 25 milhões de famílias cafeicultoras no mundo todo depende do café". Para Osorio, "o uso eficaz de novas pesquisas, confirmando aquilo que a maioria das pessoas sabe intuitivamente – que o café faz bem -, constitui uma parte vital de nosso pensamento para estimular a demanda e criar um equilíbrio mais saudável no mercado internacional, com preços eqüitativos para os consumidores e remunerativos para os produtores", concluiu.

Participaram da abertura do III Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, aproximadamente 1 200 pessoas. O evento que prossegue até o próximo dia 14, no Centro Cultural de Eventos do Descobrimento de Porto Seguro (BA), registrou a presença de lideranças como representante do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Clayton Campanhola, presidente da Embrapa; diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, José de Paula Mota; representante do secretário da Agricultura do Estado da Bahia, José Joaquim Santana e Silva; presidente da Comissão Organizadora do Simpósio e chefe-geral da Embrapa-Café, Antonio de Pádua Nacif; diretor-presidente do Instituto Agronômico do Paraná, Anaur Ruana; e o presidente da Câmara Municipal de Porto Seguro, vereador Humberto Adolfo Fonseca Nascimento; representante do Setor Produtivo do Café, João Lopes Araújo. Nos pronunciamentos foi ressaltada a escolha da realização do evento na Bahia devido ao grande apoio do governo estadual à cafeicultura, completa infraestrutura para sediar o Simpósio, além das belezas naturais.

A extensa programação consta de plenárias, cursos, workshop e debates envolvendo grande número de técnicos e profissionais voltados para a cafeicultura. Nos dias 15 e 16, será realizado o Workshop Latino-americano sobre pesquisa de Café na Região Tropical, no Hotel Beach Hills, em Porto Seguro.

Jornalista: Flávia Bessa - Reg. Prof.: 4469 MTb/DF Área de Comunicação e Transferência de Tecnologia da Embrapa Café Tel.: (61) 448-4551 E-mail: flavia.bessa@embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Matérias Primas\Café 

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