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Pesquisador defende planejamento para preservar a caatinga

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A caatinga é o único ecossistema exclusivamente brasileiro. Seus 800 mil km2 – 70% da região Nordeste – têm distribuição geográfica restrita ao Brasil. Apesar disso é o menos estudado e conhecido ecossistema do país e, também, o mais desprotegido: apenas 0,28% da sua área está coberta por unidades e parques de conservação. É quase nada para um ambiente que abriga quantidade expressiva de espécies vegetais e animais, endêmicas, que não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta, garante o pesquisador Marcos Antonio Drumond, da Embrapa Semi-Árido (Petrolina/PE), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Em geral, a caatinga é descrita nos livros como pobre em recursos florestais e de possuir pouca importância biológica. Nada mais errado, afirma Drumond. As plantas secas, esgalhadas, sem folhas, que é como a vegetação da caatinga se apresenta durante vários meses do ano por causa da falta de chuvas com a aparência de mortas, pode dar a impressão da pouca utilidade. Mas, este é um mecanismo que as plantas usam para, justamente, sobreviverem aos períodos de estiagem prolongada, nesta época, as plantas perdem suas folhas para economizar energia e ficam como se tivessem em estado de latência.

Na verdade, a caatinga detém uma grande diversidade de espécies vegetais. Hoje, já são conhe-cidas cerca de 1000. Especialistas estimam que elas podem chegar a 3000. Várias delas têm po-tencial econômico e são usadas em propriedades rurais como forrageiras, frutíferas e madeireiras para usos diversos. Muitas das plantas também se prestam ao uso medicinal, especialmente, pelas famílias nas áreas rurais.

Conhecimento precário – A fauna da caatinga não tem a diversidade de espécies da flora. Nela há baixas densidades de indivíduos e poucas são as espécies exclusivas desse ambiente. Atual-mente estão identificadas 695 espécies de aves, 120 de mamíferos, 44 de répteis e 17 de anfíbios. Dos animais invertebrados pouco se conhece. Pesquisas recentes, contudo, tem descoberto novas espécies de animais. Isto é revelador do quanto são precárias os conhecimentos botânico e zoológico da caatinga, explica o pesquisador.

O pesquisador da Embrapa Semi-Árido alerta que a exploração econômica das plantas da caatinga de maneira predatória está degradando seus recursos naturais ao ponto de já está se observar perdas quase que irrecuperáveis de espécies vegetais e animais. A ararinha-azul-de-lear, por exemplo, está restrita a uma população selvagem de 100 indivíduos na região do município de Canudos (BA). Mais grave é a situação da ararinha-azul: apenas alguns poucos indivíduos são cri-ados em cativeiro e somente um vive solto na natureza e há cerca de dois anos que não é visto na área do município de Curaçá-BA.

As perdas também atingem a vegetação. Plantas como a aroeira e jaborandi integram as listas do IBAMA de espécies ameaçadas de extinção no Brasil. Segundo Marcos Drumond, o desmatamento atinge os oito estados da região Nordeste em níveis críticos. Estudos revelam que a cobertura vegetal em todos eles é inferior à 50% da área dos seus territórios. Em alguns locais o uso da caatinga tem sido tão inadequado que está instalando processos de desertificação em grandes áreas dos estados do Piauí (6131 km2), Pernambuco (5962 km2), Ceará (4062 km2) e Rio Grande do Norte (2341 km2).

Marcos explica que quase não há mais mata original de caatinga. Mais de 80% da vegetação nessa área são sucessionais, ou seja, as plantas rebrotaram após corte para uso diversos (lenha para padarias, industria ceramista, consumo domestico, indústria de gesso e outros). E, 40% são man-tidas em estado pioneiro de sucessão secundária, o que quer dizer que já foram submetidas a mais de um período de exploração. As conseqüências do desmatamento sobre o solo são graves. A ausência de cobertura vegetal expõe o solo a perder suas qualidades. A incidência de uma chuva de 50 mm sobre a terra descoberta do semi-árido chega a arrastar 4-5mm de solo. A natureza, por sua vez, leva de 30 a 40 anos para formar 1mm de solo.

Uso sustentável – Segundo Marcos Drumond, é urgente a valorização da caatinga como ecossis-tema rico em biodiversidade. O esforço de várias instituições de pesquisa e ensino, como a Embrapa Semi-Árido e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e organizações não governa-mentais a exemplo da Fundação Biodiversitas, tem gerado várias informações e ações que esti-mulam e apóiam o uso sustentável dos recursos naturais.

O pesquisador revela que há um consenso entre os estudiosos da caatinga da necessidade de criar um grupo de planejamento para se estabelecer estratégias de uso sustentável da caatinga. Esse planejamento, na sua opinião, deve ter como base um conhecimento profundo das causas da degradação ambiental, das tendências sócio-econômicas e os prováveis cenários futuros das atividades baseadas nos usos dos recursos naturais da caatinga. Para Marcos, o fundamental desse plano é ser formulado de maneira participativa, estabelecido com todos os níveis de governo e segmentos da sociedade.

Maiores informações:

Marcos Antônio Drumond – pesquisador, Embrapa Semi-Árido – tel. 87 3862 1711 Endereço eletrônico: drumond@cpatsa.embrapa.br

Marcelino Ribeiro Embrapa Semi-Árido tel. 87 3862 1711 Endereço eletrônico: marcelrn@cpatsa.embrapa.br  

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