01/06/03 |

Evento internacional define protocolos de biossegurança

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Cientistas reuniram-se em Brasília para avaliar riscos ambientais de OGM's
A avaliação dos riscos ambientais relacionados à liberação de organismos geneticamente modificados (OGM's) foi o tema que reuniu em Brasília, no período de 14 a 18 de junho, cerca de 80 cientistas de 15 países, incluindo o Brasil, durante o 2° Workshop sobre Diretrizes para Avaliação de OGM's. O evento resultou em um pré-relatório contendo diretrizes científicas relevantes para a avaliação de riscos ambientais relacionados à liberação de OGM's. Essas diretrizes poderão contribuir para a definição de protocolos oficiais pelo governo brasileiro e também ser muito úteis para pesquisadores que atuam nessa área.

Os cientistas partiram do estudo de caso do algodão geneticamente modificado que contém a bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), ou algodão Bt, como é mais conhecido, para avaliar os possíveis impactos ambientais. Segundo uma das organizadoras do evento, Carmen Pires, pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o algodão foi escolhido por ser um sistema muito complexo.

Das 300 espécies de insetos herbívoros associados a planta do algodão, 30 são pragas potenciais da cultura. Além disso, existem pelo menos 600 espécies de insetos, entre predadores e parasitóides, que podem ser considerados inimigos naturais das pragas do algodão. Essa complexa interação entre a planta de algodão-insetos praga e inimigos naturais, além de microrganismos de solo, faz com que a cultura do algodão seja um bom exemplo para o estudo de riscos ambientais, afirma Carmen. Os protocolos gerados a partir do Workshop definem os insetos que têm relevância ecológica, além de propor experimentos para a avaliação de riscos ambientais da liberação comercial do algodão Bt.

Segundo as conclusões apresentadas pelos especialistas presentes ao evento, apesar da complexidade das interações que ocorrem na cultura do algodão, os impactos ambientais são passíveis de medir, mediante a realização de pesquisas em laboratório, casas de vegetação e campo. Essas pesquisas devem ser realizadas de formas diferentes nas diversas regiões brasileiras, dada a grande heterogeneidade entre elas.

O algodão é um bom exemplo também quando se considera outra questão fundamental para a análise de riscos ambientais da liberação de OGM's, que é o fluxo gênico, ou seja, a possibilidade de troca de genes entre as espécies modificadas e as variedades não transgênicas. Isso porque o Brasil é o centro de origem e distribuição de algumas variedades de algodão, como explica o Diretor de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Kageyama. Segundo ele, pelo menos, três espécies nativas de algodão podem ser encontradas em quatro dos cinco biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado.

O Workshop faz parte de um projeto internacional coordenado por um grupo de cientistas (Grupo Global de Trabalho sobre Organismos Transgênicos no Manejo Integrado de Pragas e no Biocontrole), sob a égide do Instituto Internacional de Controle Biológico (IOBC) e financiado pela Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação (SDC). Nesse Grupo, não há representantes de empresas privadas. Todos os cientistas que o compõem trabalham em instituições públicas de pesquisa ou universidades.

Esse é o segundo workshop do projeto. O primeiro foi realizado no Quênia, em 2002, com análise voltada para o milho Bt e o próximo será em 2004, no Vietnã, ainda sem tema definido.

Sessão pública

O Workshop culminou com a realização de uma sessão aberta ao público no dia 18 de junho, que contou com a participação de diversos segmentos da sociedade, como jornalistas, representantes de associações de agricultores, de órgãos de preservação ambiental, da indústria e do governo, entre outros. Todas as conclusões referentes aos estudos de riscos ambientais do algodão Bt foram apresentadas e amplamente discutidas com o público presente.

De acordo com o Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, que esteve presente a sessão de abertura do Workshop, eventos como esse são extremamente importantes e devem ser estimulados, pois envolvem diferentes segmentos da sociedade na discussão de temas importantes, como é o caso dos transgênicos.

Toda a polêmica em torno desse assunto tem levado a uma polarização da opinião pública entre aqueles que são contra ou a favor dos produtos transgênicos. "O que importa não é ser contra ou a favor desses produtos. Essa tecnologia existe e o importante é avaliar os riscos e os benefícios para a sociedade brasileira", afirmou Capobianco.

Paulo Kageyama também elogiou a iniciativa do evento. Segundo ele, a divulgação das informações sobre os transgênicos é muito importante para que a sociedade possa opinar com consciência. "E nós, cientistas, temos muita responsabilidade no aumento dessa conscientização", afirmou Kageyama.

Fernanda Diniz - Jornalista Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Fone: (61) 448-4769 e 448-4770 fernanda@cenargen.embrapa.br  

Tema: Atividades Temáticas\Biotecnologia 

Mais informações sobre o tema
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