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Boi de corte em vaca leiteira: uma aventura perigosa

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Alguns programas de governo que têm recomendado a utilização de touros de corte para cruzamentos de vacas leiteiras estão trazendo grande preocupação para pesquisadores que trabalham com melhoramento genético no Brasil. Na opinião do chefe-geral da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), Duarte Vilela, "ao usar os machos de corte em matrizes de leite, nossos produtores buscam reduzir custos, mas estão colocando em risco um trabalho intenso de 25 anos de pesquisa na busca de aprimoramento genético de nossas raças leiteiras".

No Brasil são ordenhadas atualmente 18 milhões de vacas para uma produção total anual de 21,3 bilhões de litros. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, o rebanho leiteiro nacional é composto de 6% de vacas especializadas com produção média de 4.500 kg/lactação e 74% de vacas mestiças holandês x zebu, com produção média de 1.100 kg/lactação. O restante das vacas são animais sem qualquer especialização genética e produzem em média não mais que 600 kg de leite em cada lactação. Com a atual produção leiteira no Brasil, é fácil concluir que o rebanho especializado é responsável por 4,8 bilhões de litros e o segundo grupo, das vacas mestiças especializadas, responsável por 14,6 bilhões. As vacas sem especialização produzem o restante do nosso leite.

Os melhoristas admitem uma perda média em produção de leite de 50% nas filhas de vacas especializadas, quando cruzadas com touros de corte. No rebanho mestiço essa perda chega a 25%. Nos rebanhos sem aptidão para leite, ao se cruzar os animais com touros de corte espera-se não fazer diferença na produção. Levando em conta estes dados, os pesquisadores calculam as perdas de produção, que chegam a ser assustadoras em função do tamanho do prejuízo que um acasalamento ou inseminação sem critérios pode causar para nosso setor leiteiro.

Observe as simulações feitas pelos pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, considerando três hipóteses: 1- Todas as vacas dos rebanhos especializados e dos rebanhos mestiços acasaladas com touros de corte por uma geração; 2 - Metade das vacas especializadas e todas as do rebanho mestiço acasaladas com touros de corte; 3 - Metade de todas essas vacas acasaladas com touro de corte.

Na primeira situação, após cinco anos (o prazo para encerramento da lactação das filhas produtos destes cruzamentos), o País terá perdido seis bilhões de litros de leite, ou seja, quase 30% da produção atual. "Um prejuízo de R$ 3 bilhões nestes cinco anos", conforme Duarte Vilela.

Na segunda e terceira hipóteses as perdas seriam, respectivamente, de 5 e 3 bilhões de litros em cinco anos, "um prejuízo médio de R$ 4 bilhões para os produtores e para o País, sem contar a perda do valor de mercado destes animais" segundo o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite. Ele cita ainda que "o maior problema de tudo é que a recuperação do potencial genético original da raça poderia levar mais de vinte anos, considerando uma taxa anual de reposição de 20%". Vilela conclui seu raciocínio com uma preocupação: "será que esta aventura genética vale a pena?"

Mais Informações: Rubens Neiva - Jornalista Embrapa Gado de Leite Fone: (032) 3249 - 4712 / (032) 9103 - 8029 neiva@cnpgl.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Pecuária e Pastagens\Gado de Corte 

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