01/06/03 |

Goiás aposta no arroz de várzeas

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Dois empreendimentos de irrigação em regiões de várzea recuperam o interesse dos agricultores goianos no cultivo do arroz. Os projetos Luís Alves e Flores de Goiás repetem experiências coordenadas pelo governo na incorporação ao sistema produtivo de áreas com potencial agrícola.

O projeto Luís Alves encontra-se na planície do Médio Rio Araguaia, na divisa de Goiás com o Mato Grosso, a 520 quilômetros de Goiânia (GO). Previsto para ocupar 30 mil hectares, sendo metade reserva ambiental, a iniciativa possui sua primeira etapa, de um total de três, já conclusa. São 2 mil hectares sistematizados, com a estruturação de diques, sistema de captação de água por bombas adutoras e canais de irrigação e de drenagem.

O agricultor Ozório Coelho é um dos pioneiros em Luís Alves, onde lida com o arroz desde 1998. Ele afirma que se sente tão estimulado com a rizicultura que desde o ano passado expandiu a produção. "Além da safra de verão, passei a fazer em 2002 o plantio de inverno", diz.

Apesar do entusiasmo, Ozório conta que enfrenta um problema grave: a falta de materiais para semeadura. "Eu planto a Epagri 112 porque não há variedades adaptadas à região". Segundo ele, por causa disso, a produtividade não é tão boa quanto a alcançada no sul do país, pois o clima é diferente.

O melhorista Paulo Hideo da Embrapa Arroz e Feijão, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, concorda em parte com o agricultor. "Cultivares como a Epagri 112 não são recomendadas para várzeas tropicais, entretanto, é um material que possui disponibilidade de sementes no mercado", afirma. Ele explica que a barreira é justamente essa. "Existem a BRS Jaburu, a BRS Biguá, a Metica 1 e a BRS Formoso. O principal problema de divulgação dessas cultivares é que não há um sistema de produção de sementes eficiente que permita um suprimento adequado para plantio".

Para o pesquisador, uma das saídas possíveis para o impasse, é que o processo de multiplicação de sementes dessas cultivares seja feito por agricultores selecionados dentro do próprio projeto de irrigação para o atendimento aos demais. Paulo Hideo diz que novas variedades estão por vir e deverão despertar a atenção dos produtores. "Existem dez linhagens, oriundas do cruzamento com Metica 1, as quais foram incorporados genes de resistência à brusone. Desses materiais, dois serão escolhidos para serem lançados". A brusone é uma doença fúngica bastante comum nas várzeas tropicais e pode ocasionar perdas significativas.

Além da questão da produção de sementes, os agricultores de Luís Alves encaram uma outra dificuldade. A posse da terra dos 39 lotes que compõe a primeira etapa do projeto está sob pendência jurídica. A ocupação das glebas ocorreu mediante licitação pública, mas houve acusação de fraude no processo entre o grupo de produtores residente na região e o que veio de fora.

Segundo Ozório Coelho, esse litígio traz insegurança e prejudica a obtenção de uma melhor rentabilidade na lavoura. "Ficamos com receio de fazer investimentos na terra porque não sabemos ainda se ela vai ser nossa. Por exemplo, nós não fazemos a correção do solo para o plantio. Com isso, a produtividade alcançada é baixa. Em média, é de 3,5 toneladas por hectare", diz.

Os primeiros levantamentos do governo estadual para viabilização do projeto de Luís Alves são de 1977. Contudo, foram os empresários Oton Nascimento Júnior e César Baiocchi que idealizaram e começaram a executar o embrião da atual iniciativa, o chamado Projeto Jaburu, em 1991. Dois anos depois, foi autorizada pelo governo estadual a elaboração dos estudos básicos de engenharia em Luís Alves.

Em 1997, começou o processo de desapropriação da área e, em seguida, iniciadas as obras. Seu custo era de R$ 82 milhões. Hoje o valor reajustado é de cerca de R$ 125 milhões, de acordo com o órgão coordenador do projeto, a Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás. Os recursos são do governo federal, com a contrapartida de 10% do poder público estadual.

Reencontro - O projeto Flores de Goiás fica a 450 quilômetros de Goiânia e possui características bem diferentes de Luís Alves. Ele está localizado no nordeste do Estado em uma região carente e pode beneficiar centenas de pequenos e médios produtores.

O empreendimento irá alcançar uma área total de irrigação de 25 mil hectares, compreendendo a faixa que vai do Rio Paranã até o Rio Macacão. Ou seja, da cidade de Formosa até Alto Paraíso, passando por várias propriedades, dentre elas, quatro assentamentos.

Até agora apenas uma das partes do projeto foi concretizada com a barragem de sustentação do Rio Paranã, para armazenagem e controle do fluxo de água, e um canal de distribuição. A irrigação se dá por gravidade em cerca de mil hectares. Duas outras barragens menores estão em fase final de construção e outras sete serão feitas. Para a implementação da iniciativa, foram desapropriadas apenas as áreas das barragens.

Inicialmente orçado em R$ 49 milhões, o investimento no projeto, com custos atualizados, é de aproximadamente R$ 74 milhões. A iniciativa é tocada com 90% de recursos do governo federal e 10% do Estado. A expectativa é que o empreendimento gere empregos diretos e indiretos com a atração de agroindústrias para o beneficiamento da matéria-prima. O relacionamento dos produtores de Flores de Goiás com a cultura do arroz vem de longa data. O cereal já predominou na região, mas entrou em declínio na década de 90. De 1985 a 1995, o número de produtores decresceu de 30 para 15.

O secretário de Infra-estrutura de Flores de Goiás e ex-produtor de arroz, Jorge Emiliano, afirma que a rizicultura sucumbiu por falta de cultivares. "Há quinze anos cometemos erros gravíssimos por não termos pesquisas sobre variedades de arroz. Os materiais que plantávamos vinham do Rio Grande do Sul e não se adaptavam aqui".

Outro agricultor, Adalberto Mozzaquatro, é um dos remanescentes da fase próspera. O produtor se considera uma das cobaias no desenvolvimento da cultura em Flores de Goiás. Natural de São Gabriel (RS), ele conta que veio para o Estado em 1989, enfrentando a falta de apoio do governo, a inexistência de um calendário para plantio e a ausência de variedades adequadas à região.

Um dos problemas sérios, citado também por Adalberto, era a baixa qualidade do produto. Ele diz que o ímpeto de abrir grandes áreas e de plantá-las acabava dificultando o momento da colheita. O cultivo em larga escala tornava impossível a retirada de todo o arroz do campo no ponto ideal de maturação, com o nível de umidade apropriado. Com isso, o produto tornava-se quebradiço no beneficiamento.

"Ao contrário do que ocorre no Sul do país, o arroz em Goiás precisava ser colhido rapidamente, se não o grão quebra fácil. Conseqüentemente, perdia-se até 20% do preço do produto e esse era, às vezes, o lucro que ia embora", afirma Adalberto.

O insucesso de alguns produtores trouxe experiência suficiente para que os equívocos do passado não se perpetuem no projeto Flores de Goiás e nas novas gerações de agricultores. O agrônomo João Alexandre, jovem proprietário da Fazenda Porções, situada a 8 quilômetros de Flores de Goiás, vem trabalhando com arroz desde 1998. Apesar de lidar também com criação de gado, ele acredita no potencial da cultura tanto pela produtividade quanto pela recuperação de preço do produto.

"Pretendo plantar na safra de inverno deste ano mil hectares e atingir a produtividade de 7,2 toneladas por hectare, o que é bem satisfatório", diz. A produção de Alexandre tem cliente garantido. É comercializada com grandes cerealistas das cidades de Goiânia e Anápolis.

Para ele, Flores de Goiás apresenta características geográficas bastante propícias ao desenvolvimento do arroz. Ele explica que há recursos hídricos disponíveis, o solo possui capacidade de retenção de água e a topografia da região é plana. Enfim, a harmonia na medida certa para fazer com que o cereal volte às lavouras goianas.

Mais informações: Rodrigo Peixoto - MTb/GO 1.077 Embrapa Arroz e Feijão Contatos: (62) 533-2108 - rpbarros@cnpaf.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Grãos\Arroz 

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