Três assentamentos de reforma agrária em Unaí (MG) estão participando de um projeto promovido pela Embrapa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Cerrados, empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com o Incra, a UnB, a Emater, o Colégio Agrícola e a Cooperativa Acapul. O objetivo é utilizar um método participativo para apoiar o desenvolvimento sustentável desses assentamentos. O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

De acordo com o pesquisador Marcelo Leite Gastal, o Projeto Unaí nasceu depois da experiência de um projeto semelhante aplicado em comunidades rurais de Silvânia (GO), que foram acompanhadas pela Embrapa Cerrados entre 1986 e 1998. "Com a explosão da reforma agrária, logo depois da nossa saída de Silvânia avaliamos que poderíamos aplicar um projeto parecido a assentamentos de reforma agrária", conta Gastal.

O projeto de desenvolvimento para as comunidades assentadas em Unaí consiste em três pilares: a organização social, a implantação de uma rede de fazendas de referência e o estudo de mercado para o direcionamento da produção. Gastal explica que a capacidade de organização foi o principal resultado das ações em Silvânia, onde os trabalhadores rurais formaram associações, passaram a comprar máquinas e insumos mais baratos e aprenderam a captar recursos e negociar com o poder público.

Já a rede de fazendas de referência deve representar os diferentes tipos de fazendas que existem nos assentamentos e as diferentes realidades em termos de recursos naturais. Gastal conta que, em Silvânia, os trabalhadores conseguiram abrir fábricas, uma de farinha de mandioca e polvilho, uma de doce e outra de queijo, mas por falta de planejamento mercadológico as fábricas fecharam. Por isso, considera a inclusão dos estudos de mercado no Projeto Unaí um grande avanço. "Um primeiro estudo com quarenta estabelecimentos do comércio local já aponta que alguns produtos, como a farinha de mandioca, vêm do Paraná".

Um desafio para o Projeto Unaí, liderado pelo pesquisador José Luiz Fernandes Zoby, e que também tem a participação dos pesquisadores José Humberto Valadares Xavier e Francisco Eduardo de Castro Rocha, é a grande variedade de sistemas de produção e de cultivo encontrados nesses assentamentos.

Gastal ressalta que no diagnóstico rápido dialogado, primeira fase do projeto, foram identificados cinco sistemas de produção: produtores de subsistência sem leite, produtores de subsistência com leite, produtores de queijo, produtoresde leite menos intensivos e produtores de leite mais intensivos.

Em relação à classificação dos sistemas de cultivo, foi estudada a importância dos cultivos em cada assentamento e a variação de produtividade de acordo com a forma adotada. "Constatamos que, para um mesmo cultivo, eram adotadas sete formas diferentes. Isso mostra justamente a necessidade de diversidade de recomendação de tecnologias", expõe Gastal.

Ele conta que o trabalho da Embrapa nos assentamentos vai além de propor soluções tecnológicas. A questão produtiva se vê, muitas vezes, entrelaçada com desafios sociais, como educação e saúde. "Além de ser um animador do processo tecnológico, o técnico trabalha servindo às questões sociais, fazendo planos de ação para resolver problemas", conta Gastal.

No assentamento de Santa Clara Furadinho, por exemplo, entre os primeiros objetivos do grupo estão construir uma ponte e ter uma área de lazer. Nesse assentamento, que tem 42 famílias, já está sendo construído um tanque de resfriamento de leite, objetivo fixado no planejamento estratégico. Paraíso, com 78 famílias, discute a possível produção integrada de maracujá. Em Jibóia, formado por 55 famílias, o planejamento está em fase inicial.

Vivian de Moraes - MTb 294.621 Embrapa Cerrados Fone(61)388-9953