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Estudo avalia qualidade da água em bacia hidrográfica baiana

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As fontes de água da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, em sua grande maioria, contém elevado teor de sais. Em 92 delas, 33 superficiais e 59 subterrâneas, encontrou-se variações que foram de 40 a 5370 miligramas (mg) de sais/litro. 500 mg/L é quanto a legislação brasileira considera adequado para o consumo humano. As 92 fontes, embora não sejam as únicas, são as mais representativas na oferta de água para o consumo da população. A salinidade das águas é um problema sério que deve merecer atenção das instituições e comunidades envolvidas com a Bacia, afirma a pesquisadora Luiza Teixeira de Lima Brito, da Embrapa Semi-Árido (Petronia,PE) unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O alto teor de sais encontrada nas águas dessa Bacia decorre de causas naturais, afirma Luiza Brito. Aproximadamente 78% das fontes analisadas estão localizadas sobre rochas calcáreas. Em contato com a água essas rochas se dissolvem liberando elementos como sódio, cálcio, magnésio, cloreto, bicarbonato, entre outros. Esse é um processo que acontece naturalmente ao longo de muitos anos. No entanto, pode ser acelerado se a ação humana desconsiderar as características desse ambiente, como já acontece em áreas da região. Em algumas fontes com água de boa qualidade é perceptível o processo de salinização: em 1984, o valor médio dos sais chegava a 199,0 mg/L; em 2001, já estava em 724,86 mg/L.

Atividade humana – Luiza Brito concluiu recentemente curso de doutorado na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Em sua tese "Avaliação dos impactos das atividades antrópicas sobre os recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do rio Salitre (BA) e classificação das fontes hídricas", defende que é urgente o monitoramento da qualidade das águas dessa bacia para controlar e evitar contaminações futuras, tanto das fontes hídricas quanto dos solos. A Bacia do rio Salitre tem, aproximadamente, 13 mil km2 e ocupa áreas de nove municípios da Bahia. O rio, com 270 km de extensão, nasce em Morro do Chapéu (Chapada Diamantina), e desemboca no rio São Francisco, cerca de 20 km a montante da cidade de Juazeiro.

Na tese, Luiza Brito revela que as atividades antrópicas, aquelas que são feitas pelo homem, na Bacia do Salitre são basicamente a agricultura, a pecuária e a mineração. No estudo realizado pela pesquisadora foram avaliadas apenas as interferências das práticas de cultivo e da criação animal sobre o ambiente. Os impactos da extração mineral não foram analisados.    

Nos dados coletados em toda a bacia, os efeitos das ações dos produtores sobre a qualidade da água só foram anotadas em áreas onde estão instalados plantios irrigados. Nesse locais, constatou-se sinais de degradação dos recursos naturais: aumento nos índices de salinidade da água, dos solos e dos níveis de metais pesados – conseqüência do manejo inadequado da irrigação, do preparo do solo e do uso de fertilizantes e pesticidas.

Gestão da bacia – O trabalho realizado por Luiza Brito é o primeiro que analisa e classifica as águas da Bacia do rio Salitre de maneira abrangente e detalhada. Na primeira fase de seu estudo, após dividir a área em cinco sub-bacias, submeteu cada amostra de água a teste de qualidade que observaram nada menos que 17 variáveis. Este procedimento técnico permitiu que se deter-minasse a presença, e em quais níveis, de elementos químicos na água.

O passo seguinte no método de pesquisa empregado pela pesquisadora foi priorizar as variáveis de maior significância no contexto da qualidade das águas, observando-se a predominância da-quelas relacionadas com a salinidade. São informações ambientais importantes para a população, suas organizações comunitárias e as autoridades públicas planejar o desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos da região, afirma Luiza.

O estudo feito na área do rio Salitre integra uma investigação maior realizada pela Embrapa Meio Ambiente e que abrange 35 sub-bacias hidrográficas em 73 municípios localizados no Sub-médio São Francisco. Este trabalho é coordenado pelo pesquisador Aderaldo de Souza Silva, da Embrapa Meio Ambiente. O objetivo é desenvolver metodologia de monitoramento da qualidade das águas superficiais e subterrâneas dessas bacias para subsidiar na gerência do uso sustentável. Nesta investigação, estão envolvidas a Embrapa Semi-Árido, Agência Nacional das Águas (ANA), Companhia de Desenvolvimento do São Francisco (Codevasf), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e Global Environmental Fundation (GEF).   Repensar atividades - A Bacia do Salitre nos dias de hoje já apresenta graves problemas de gerenciamento de água. A partir da década de 80, a intensificação das atividades agrícolas, em especial nas margens do rio, o deixaram seco em maior parte do ano. Aliás, as águas só correm no seu leito no período de chuvas. È uma situação que chega a resultar em conflitos sociais de gravidade.

Nesta época, foram construídas várias barragens no Alto Salitre, próximo às nascentes do rio, com o objetivo de assegurar a sua perenização e regularizar a vazão. Não solucionou o problema. Hoje, as águas acumuladas na maioria dessas barragens estão impróprias para o consumo humano pelo alto teor de salinidade. Isto revela a complexidade das soluções para resolver os problemas hídricos da região. Para Luiza Brito, o inicio das atividades do Comitê da Bacia do Rio Salitre, com representações de prefeituras, órgãos públicos dos governos do estado e federal, e organizações não governamentais, estabelece um fórum ideal para se criar as condições de se repensar as atividades antrópicas na área do Salitre, defende Luiza Brito.

Mais informações: Luiza Teixeira de Lima Brito - pesquisadora, Embrapa Semi-Árido – tel 87 3862 1711 Endereço eletrônico: luizatlb@cpatsa.embrapa.br

Marcelino Ribeiro – Jornalista Embrapa Semi-Árido Contatos: (87) 3862-1711 - marcelrn@cpatsa.embrapa.br  

Tema: Atividades Temáticas\Monitoramento Ambiental 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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