Uma substância que em altas concentrações pode causar câncer e alterações na pigmentação da pele em seres humanos foi tema de uma das monografias defendidas na conclusão do curso de Biologia da Universidade Federal de Rondônia (Unir) sob a coordenação da Unidade da Embrapa no Estado. A estudante Daniella Karine Souza Lima e pesquisadores da Embrapa Rondônia analisaram a concentração de nitrato em cultivares de alface no sistema hidropônico em propriedades periurbanas de Porto Velho, capital.

O pesquisador na Área de Ciência do Solo Ângelo Mansur Mendes, coordenador do trabalho, destaca que sempre existiu a dúvida sobre a relação entre as condições climáticas da região Norte, caracterizada por alta luminosidade, temperaturas elevadas e incidência de chuvas, e a concentração de nitrato na planta. "Em regiões de clima frio, como a Europa, por exemplo, as características climáticas favorecem o acúmulo da substância", analisa. A escolha do sistema hidropônico foi motivada, segundo o pesquisador, pela ausência de informações sobre a influência da hidroponia na concentração de nitrato na região estudada.

O NO3, absorvido pela planta a partir da solução nutritiva que mantém o sistema hidropônico, composta por macro e micro nutrientes, é essencial tanto para seres vegetais quanto para seres humanos, desde que em concentrações abaixo das estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "A planta precisa do nitrato para transformá-lo em proteínas e aminoácidos, assim como o homem", explica a bióloga autora da monografia, Daniella Karine Souza Lima. Em concentrações acima de 2,5 mil miligramas por quilo de matéria fresca da planta, a substância é tóxica, segundo a OMS.

Nas plantas, o aumento da concentração de nitrato forma depósitos em pequenos reservatórios localizados nas células, os vacúolos, sem provocar danos visíveis. "Em seres humanos o nitrato em altas concentrações pode formar as nitrozaminas que provocam alguns tipos de câncer", alerta Daniella Souza.

Outro problema ocorre quando a substância é metabolizada, transformando-se em nitrito, e impedindo que o oxigênio circule pelo corpo, deixando de abastecer células e tecidos. "Nesse caso, a pigmentação da pele é destruída", acrescenta o pesquisador. No alface, a alta concentração de nitrito é verificada pelo sabor amargo das folhas.

Metodologia e Resultados - A escolha da cultura "alface" foi determinada pela facilidade da planta em acumular nitrato e o cultivo hidropônico por ser bastante aceito entre os consumidores. "Porto Velho talvez tenha a maior concentração de sistemas hidropônicos por metro quadrado do país", afirma Mansur. A equipe de pesquisadores selecionou as variedades mais vendidas em feiras e supermercados - crespa, lisa e americana - de dois fornecedores do município: as hidroponias "Agrovida" e "Agrohidra". A coleta do material foi realizada simultaneamente nas duas propriedades, já que a temperatura e a luminosidade influem na concentração.

Após a identificação dos materiais em laboratório da Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os pesquisadores fizeram a pesagem da matéria fresca em três estágios de crescimento da planta: de oito a 15 dias, de 20 a 30 e de 40 a 50 dias, época ideal para o consumo. O nitrogênio total das plantas foi então medido, verificando a inexistência de correlação entre o acúmulo de nutrientes e o crescimento da planta, contrariando a posição de alguns pesquisadores.

A concentração de nitrato foi verificada pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), onde foram encontrados níveis entre 433 e 547 miligramas por quilo de matéria fresca, bem abaixo do índice que indica toxicidade. Uma das conclusões apresentadas pelos pesquisadores em relação à baixa concentração de nitrato é a alta temperatura e luminosidade na região Amazônica.

"Como a incidência de luz é muito alta, o metabolismo é acelerado e esse processo dificulta o acúmulo da substância pesquisada", apresenta a bióloga. Outra ponderação dos cientistas é em relação ao cultivo do alface no solo. "Em sistema convencional, utilizando adubos químicos, o alface pode apresentar maior concentração de nitrato. A planta pesquisada em Rondônia, em sistemas hidropônicos, apresenta boas condições para o consumo", analisa Daniella Souza.

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