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Embrapa desenvolve método de avaliação para agricultura orgânica

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A agricultura orgânica tem crescido e hoje detém ao redor de 1% da produção agrícola no Brasil. Pedro José Valarini, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, coordena projeto de pesquisa que desenvolve métodos de avaliação de manejo e produção para a agricultura orgânica e concluiu que o mercado praticado não é justo, visto que o produtor não é bem remunerado e a sua margem de lucro fica igual ao convencional.

Apesar do incremento na procura de produtos orgânicos por parte dos grandes centros de venda, há dificuldades do produtor na comercialização, pois embora o custo de produção seja mais baixo, o produto chega ao consumidor a um valor bem mais elevado.

Há regras para a produção de alimento orgânico que são fiscalizadas pelas entidades certificadoras, de forma a manter um sistema agrícola mais equilibrado e sustentável, regras que não existem para a agricultura convencional.

Valarini detectou que os produtos orgânicos que mais estão evoluindo são as hortaliças (principalmente o tomate) e as folhagens, a uma taxa de 50% ao ano. E essa maneira de produção é mais sustentável do que a convencional em 10-15%.

Como a agricultura orgânica pode ser sustentável, preservando os recursos naturais - Para comprovar isso, foi desenvolvido pela Embrapa um método de avaliação para as atividades produtivas emergentes, que mostra como está sendo sua produção, em relação ao manejo e aos seus custos. O método detecta pontos onde o produtor pode aplicar medidas corretivas e melhorar sua produção, inclusive diminuindo os custos.

Essa avaliação também possibilita detectar a falta de tecnologias disponíveis para a agricultura orgânica e faz comparações com a agricultura convencional. Aplica-se um questionário ao agricultor e realiza-se vistoria na propriedade. Esses dados, depois de inseridos em planilhas, mostram a situação da propriedade em relação ao impacto ambiental e sustentabilidade e quais os seus pontos de estrangulamento. Mostra, inclusive, que práticas estão reagindo de forma negativa. O método avalia 5 dimensões: ecologia da paisagem; gestão e administração; socioeconomia; sociocultura; compartimentos ambientais: solo, água e ar. Avalia também a condição do agricultor para aumentar a agricultura orgânica e como está sua gestão em relação ao meio ambiente.

A ecologia da ambiente comprova por exemplo, se a mata ciliar está sendo manejada de forma correta e se as encostas estão preservadas. E quanto à qualidade da água, se a nascente está protegida. Essas informações contribuem de forma direta para a certificação. Após a disponibilização do método, o produtor pode monitorar sua propriedade, pois todas as informações obtidas pelo questionário são devolvidas depois de analisadas. Ele mesmo pode avaliar o que pode melhorar, quais os recursos que pode usar e não está usando, sem necessidade de "trazer insumos" de fora da propriedade, explica Valarini.

Diversas práticas agrícolas adotadas na agricultura orgânica estão sendo aproveitadas pela agricultura convencional, como por exemplo, o mato que é deixado no meio das plantações, que abriga inimigos naturais de pragas, melhora a biodiversidade e, com isso aumenta a capacidade produtiva do solo, o controle das doenças e pragas. Assim, o sistema de produção como um todo permanece mais equilibrado e mais sustentável.

O produtor está voltando às suas origens, com uso de quebra-ventos como barreira para proteção de ventos fortes, diversificação de cultivos, adubação verde e melhor aproveitamento das ervas invasoras como adubo orgânico, práticas bem antigas. O vento causa um prejuízo invisível, explica Valarini.

Um bom exemplo de sustentablidade são as matas preservadas. Foram avaliadas 10 propriedades orgânicas, 10 convencionais e 10 hidropônicas de hortaliças (tomate e alface) e foram constatadas as vantagens da produção orgânica.

No item ecologia do ambiente, a orgânica está 20% melhor. No Solo e Água, 8% melhor. O item que mais demonstrou a vantagem da agricultura orgânica foi em Gestão e Administração, que apresentou ser 80% mais vantajosa do que as outras atividades. Esse item avalia a forma de gestão e organização da propriedade, a sua relação com as certificadoras, que auxilia na orientação da utilização de práticas adequadas.

Valarini explica que as regiões de aplicação do método de avaliação de hortaliças estão sendo ampliadas para Ibiúna, SP que congrega mais de 100 pequenos produtores orgânicos, Francisco Beltrão, PR, municípios do Distrito Federal, e em fruticultura nos Estados de Sergipe e Rio Grande do Sul.

Entre os principais problemas detectados pelo método na agricultura orgânica estão a falta de tecnologia, de assistência técnica e a comercialização. Com relação ao último item, os grandes centros reduzem a margem de lucro. Valarini acredita que os produtores devem criar associações ou cooperativas para vender os seus produtos diretamente ao consumidor ou em lojas instaladas nos grandes centros.

Como forma de complementar sua renda, alguns produtores já estão explorando suas áreas com atividades não agrícolas (agroturismo) e, também, com a venda de produtos orgânicos e artesanais diretamente ao visitante. Ele diz que a assistência técnica é deficiente e apresenta pouco conhecimento. A intermediação dificulta a forma de comercializar a produção, diminuindo o lucro de quem produz. Ele enfatiza que os produtores precisam se integrar, pois estão tendo os mesmos problemas que os produtores convencionais.

A agricultura orgânica não é simplesmente a troca de insumos. É muito mais que isso, é conhecer o que a planta necessita em termos nutricionais, sendo a nutrição do solo tão importante, conclui Pedro.

Cristina Tordin Embrapa Meio Ambiente Contatos: (19) 3867.8700 - cris@cnpma.embrapa.br  

Tema: Atividades Temáticas\Agricultura Orgânica 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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