01/10/03 |

No auge da soja, região celeiro do RS investe em fruticultura

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Quem diria: em pleno auge da soja, com mercado externo aberto, preços compensadores e altas produções e produtividades, lideranças da Região Celeiro do Rio Grande do Sul (Noroeste do Estado) - justamente onde a sojicultura reina soberana - procuram a Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para pedirem novas alternativas agrícolas, especialmente através da fruticultura.

Para quem pensa que o episódio é ficcional, registre-se que de fato ocorreu, motivou amplos estudos de viabilidade e articulações entre a pesquisa agropecuária e seus parceiros e culminou  nesta semana com o lançamento, em Santo Augusto, do Programa de Desenvolvimento da Fruticultura no Vale do Rio Turvo, abrangendo 21 municípios.

Tratou-se - e ainda se trata - de um desafio: senão substituir a soja, pelo menos oferecer alternativa para um grande número de produtores que preferem não se envolver com a cultura. Para compreender melhor a equação, é preciso prestar atenção ao estudo feito na Região Celeiro pelo economista João Carlos Madail, da Embrapa Clima Temperado, que identificou que poucos ganham muito com a soja e não reinvestem naquela região. Portanto, a geração de empregos é pequena e o retorno tributário idem. Além do mais, a cultura da soja subverteu os agroecossistemas tradicionais, diminuiu de 40 para 5% a cobertura das matas nativas, empobreceu os solos e neles tem deixado, a cada safra, resíduos de agroquímicos.

O que Madail percebeu em seu estudo corresponde ao que também já estava contido na reivindicação do primeiro grupo de lideranças políticas, empresariais e de pequenos produtores que há algum tempo procurou a Embrapa em Pelotas para pedir ajuda. A resposta da unidade é a proposta do Programa da Fruticultura que agora começa a ser implantado e que tem um prazo de duração de 10 anos, com a introdução gradativa de pomares nos 21 municípios do entorno de Santo Augusto e que totalizarão 1900 hectares até 2013.

Pra tanto, a Embrapa Clima Temperado investiu centenas de horas de estudo em pesquisas e viagens para conhecimento in loco das condições da região. O pesquisador Noel Cunha realizou minucioso exame dos solos de municípios da Região Celeiro, considerados férteis e adequados para a fruticultura, enquanto Enilton Coutinho, também técnico da Embrapa Clima Temperado, propôs o elenco e combinação das espécies frutíferas a serem exploradas.O clima da região permite diversificar entre espécies de clima temperado e tropicais, por isso os agricultores da Região Celeiro começam a preparar-se para cultivar abacaxi, uva, banana, pêssego para mesa e indústria, mirtilo, ameixa, nêspera e figo.

Dos 200 mil habitantes da região, 30% ainda residem no meio rural, sendo que 93% deles exploram a agricultura de base familiar, em áreas inferiores 50 ha e estão fora dos interesses do complexo soja. A região tem um potencial de 470 mil ha para diversificação agrícola e implantação de pomares.

A opção regional pela fruticultura deve-se à sua capacidade de rapidamente gerar empregos e fixar o homem ao campo (a cada 10 mil dólares investidos, criam-se 3 postos de trabalho diretos e 2 indiretos), menor comprometimento do meio ambiente e grande capacidade de gerar renda, em face da expansão dos mercados interno e externo para as espécies de frutas escolhidas para o Programa.

Agora, acaba de ser criado o Comitê Gestor do Programa, que articula as atividades da própria Embrapa Clima Temperado com a Fundaturvo, Emater-RS, Fepagro, Unijuí. municípios da Região Celeiro, Corede-Noroeste, Reserva Indígena do Guarita e Inhacorá, associações, sindicatos e cooperativas de produtores. Entre as metas, figuram a instalação de matrizeiro, telados para produção de mudas, a montagem de unidades processadoras de frutas, cantinas e "packing house", além de treinamento de técnicos e produtores.

As coleções de espécies implantadas pela Embrapa Clima Temperado na região já permitem a caracterização de um pólo de fruticultura, onde será realizado ainda este ano, na segunda quinzena de dezembro, um dia de campo para centenas de produtores e técnicos dos 21 municípios envolvidos. Mas o melhor ainda está por vir:a criação de postos de trabalho e de geração de renda começa já no primeiro ano e vai praticamente dobrando a cada safra.

Quem diria: em 10 anos, a região que agora produz soja, mas não vê maiores benefícios sociais, ambientais e econômicos disso, terá mais 6 mil novos empregos e uma renda anual adicional, em valores de hoje, superior a 165 milhões de reais. E viverá num ambiente mais saudável.

Sady Macêdo Sapper - MTb 5376/RS Embrapa Clima Temperado Contatos: (53) 275-8113 - sadi@cpact.embrapa.br  

Tema: Ecossistema\Clima Temperado 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/