01/05/04 |

Embrapa estabelece requisitos técnicos para Programa do FCO no Pantanal

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Objetivando incentivar a retenção de fêmeas bovinas no Pantanal com idade entre 12 e 36 meses, foi aprovado através do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), o Programa de Retenção de Crias na Planície Pantaneira, operacionalizado unicamente pelo Banco do Brasil. O financiamento é inédito e conta com a participação decisiva da Embrapa Pantanal, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteciment, que estabeleceu os critérios técnicos que servem como diretrizes para a melhoria do manejo e dos índices zootécnicos da pecuária.

Esse financiamento de crédito fixo de investimentos para o Pantanal objetiva proporcionar um aumento do número do rebanho bovino na planície pantaneira e a melhoria dos índices zootécnicos da região, tendo em vista que os critérios utilizados serão os preconizados pela Embrapa Pantanal. Esses critérios estão relacionados ao manejo nutricional, sanitário e reprodutivo dos animais, tanto na fase de elaboração do projeto técnico de solicitação do financiamento, quanto na fase de monitoramento pós-aprovação de crédito.

"O Pantanal é um ecossistema que não suporta tratos culturais intensivos, como no planalto, devendo a atividade pecuária ser conduzida dentro dos limites que a própria natureza estabelece. Essas condições, aliadas a aspectos sócio-econômicos peculiares, fazem da planície pantaneira uma região ímpar, dentro da região Centro-Oeste. Assim, a aprovação do Programa do FCO para Retenção de Crias na Planície Pantaneira é uma conquista importante, que a longo prazo influenciará significativamente na produção pecuária regional, fomentando o desenvolvimento sustentável da região", considerou a chefe-geral da Embrapa Pantanal, Emiko Kawakami de Resende.

Os trabalhos relacionados ao Programa de Retenção de Crias na Planície Pantaneira, começaram a ser desenvolvidos em 1998, quando foi realizado o Encontro sobre Bovinocultura de Corte Pantanal do Mato Grosso do Sul. Na ocasião, a Embrapa apresentou suas tecnologias relacionadas ao Sistema de Produção de Bovinos no Pantanal, que servem como base para o procedimento de manejo do financiamento. O envolvimento da Secretaria de Produção e Turismo de Mato Grosso do Sul foi fundamental para o sucesso do projeto. "A Embrapa Pantanal vinha alertando, através da imprensa, sobre os riscos ambientais, relacionados aos incêndios naturais a que o Pantanal estava exposto, em função da redução gradativa que vinha ocorrendo com o rebanho bovino do Pantanal. Os argumentos apresentados pela Embrapa nos motivaram a levar a proposta de Retenção de Matrizes no Pantanal, para a análise do Conselho Nacional de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Condeo), vinculado ao Ministério da Integração Nacional, que deu parecer positivo ao projeto e liberou os recursos, através do FCO", explicou o Secretario de Produção e Turismo de Mato Grosso do Sul, José Antônio Felício.

Atualmente, estima-se que existam, em todo o Pantanal, cerca de 3,5 milhões de cabeças. Apenas em Corumbá, o maior município pantaneiro, esse número corresponde a 1,5 milhão de cabeças. Temos um potencial de produção muito grande e que pode evoluir, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Além disso, o repovoamento bovino da região é fundamental, tendo em vista que o gado é considerado o bombeiro do Pantanal, pois alimenta-se de capim nativo, evitando a formação de macegas e prevenindo incêndios que são altamente prejudiciais ao ecossistema da região", explicou o chefe administrativo da Embrapa Pantanal, José Aníbal Comastri Filho.

Como funciona o financiamento - Os produtores rurais pantaneiros interessados em obter os recursos financeiros, através do Programa de Retenção de Crias na Planície Pantaneira devem ser correntista do Banco do Brasil, pois essa é a instituição pública habilitada para o gerenciamento dos recursos do FCO.

Além disso, é preciso elaborar um relatório, através de uma assessoria técnica rural credenciada junto ao Banco do Brasil. Nesse documento deverão conter informações relativas a avaliação da propriedade, valor da terra, das benfeitorias, das máquinas e equipamentos, dados relacionados ao rebanho bovino, além de projeção do rendimento financeiro da propriedade. Esse relatório preliminar é encaminhado ao Banco do Brasil, que estabelece então o valor limite de financiamento de FCO que essa propriedade poderá utilizar.

Após o conhecimento do valor do financiamento parte-se para a elaboração do diagnóstico da propriedade. Esse diagnóstico revela dados relacionado ao sistema de manejo utilizados na propriedade, englobando aspectos de sanidade, de pastagens e reprodutivos, além de dados quantitativos do rebanho. De posse desse diagnóstico, que é elaborado pela assessoria técnica rural credenciada ao banco, é preparado o Projeto Técnico, onde são sugeridas implantação de melhorias no sistema de manejo utilizados na propriedade, de acordo com os critérios estabelecidos pela Embrapa Pantanal. Nesse documento, também serão especificados a quantidade de novilhas que serão retidas na propriedade, levando-se em consideração os aspectos acima relacionados, além da a idade dos animais.

Os financiamentos estão limitados ao teto máximo de 1.500 cabeças de fêmeas por propriedade. Sendo que o valor pago por fêmea varia de acordo com a idade das mesmas e o preço de mercado à época em que o financiamento foi aprovado. Esse mês o valor pago para fêmeas com idade entre 12 e 18 meses é de R$ 240,00 (por cabeça); entre 18 e 24 meses, o valor corresponde a R$ 260,00 (por cabeça) e para fêmeas com idade entre 24 e 36 meses, está sendo pago R$ 360,00 (por cabeça).

O prazo do financiamento é de oito anos, com até quatro anos de carência incluídos. Questões relacionadas ao reembolso do financiamento para o programa de retenção de fêmeas no Pantanal, levam em conta a previsão da geração de receitas das novilhas, que foram utilizadas no financiamento e a capacidade de pagamento do proponente.

"Os produtores rurais interessados em obter o financiamento deverão comprometer-se com a manutenção das crias e matrizes bovinas aptas a procriação nas propriedades, sendo que as mesmas poderão ser alienadas pelo Banco do Brasil, caso alguma cláusula do contrato seja rompida por parte do produtor rural. Esse acompanhamento é monitorado pelo Banco, através dos Relatórios de Monitoramento do Projeto, que deverão ser elaborados pela assistência técnica rural credenciada junto ao Banco do Brasil", explicou o gerente de assistência técnica rural de Corumbá, Gilson de Barros. Caso o produtor rural disponha de técnico habilitado para a elaboração do relatório de monitoramento, o técnico habilitado poderá preparar o documento, devendo protocolar o mesmo junto ao Banco do Brasil.

"Acredito que esse seja o melhor programa de crédito rural que o Pantanal já teve, pois ele envolve em suas clausulas contratuais aspectos relacionados ao monitoramento e acompanhamento do rebanho. Da forma como esse monitoramento foi estabelecido, comprometendo os produtores rurais beneficiados com o financiamento, a também implantarem o Sistema de Manejo Bovino proposto pela Embrapa Pantanal, acredito que ocorrerá uma melhoria significativa da qualidade do rebanho local. Além disso, o rebanho será recomposto e os padrões raciais serão melhorados, beneficiando todo o gerenciamento das propriedades rurais pantaneiras contempladas", salientou o proprietário de assistência técnica rural de Corumbá, Adjalme Marciano Esnarriage.

O gerente do Banco do Brasil de Corumbá, José Luiz Iglesias explica que o FCO de retenção de fêmeas para o Pantanal é uma conquista muito importante para a região e que começou a ser desenvolvida na agência do banco em Corumbá. "Esperamos que dentro de oito anos, em função desse financiamento, os produtores rurais pantaneiros beneficiados possam ter, pelo menos, dobrado o número de matrizes em plena produção que possuíam inicialmente em suas propriedades", completou.

O que o sistema propõe - O Sistema da Manejo de Bovinos proposto pela Embrapa Pantanal e que deverá ser implantado pelos produtores rurais beneficiados com o financiamento de retenção de fêmeas, está subdividido em três sistemas de manejo, denominados: nutricional, sanitário e reprodutivo. As informações relativas ao Sistemas de Manejo de Bovinos foram obtidas através de anos de pesquisas desenvolvidas diretamente por diversos pesquisadores e funcionários da Embrapa Pantanal.

Manejo nutricional - Os procedimentos estabelecidos pelo sistema de manejo nutricional estabelece a utilização de pastagens nativas. Como alternativa para reduzir a sazonalidade de produção das forrageiras nativas e para aumentar a oferta de volumoso, é indicado a formação de pastos cultivados, quando necessário, em cerca de até 10% de área da propriedade, preferencialmente em áreas de campo cerrado, com capim vermelho, caronal e campos com capim fura bucho. É recomendável ainda o uso de Brachiaria humidicola ou sua associação com Brachiaria brizantha, na proporção de meio a meio, com o objetivo de proporcionar rápida cobertura do solo, que evita a sua degradação, até que a B. humidicula se estabeleça. É imprescindível o cumprimento da legislação ambiental.

Quanto ao manejo de pastagens a Embrapa sugere que sejam utilizadas pastagens cultivadas, para a recria de novilhas de reposição, que possibilitem a redução da idade à primeira cria; na desmama antecipada de bezerros; para a adaptação de touros jovens e touros em período de descanso, após estação de monta. A subdivisão de invernadas de pastos cultivados para facilitar o manejo e os pastos nativos em áreas de até 2.000 ha, onde deverão ser observados aspectos relacionados ao regime das cheias e a rotação das pastagens nativas.

É aconselhado ainda que sejam utilizados cochos cobertos para a oferta e a distribuição de sal mineral em três rodeios por invernada. Para novilhas e bezerras de reposição é sugerido a utilização de sal proteinado, no período de baixa oferta de pasto. Durante a pré-desmama dos bezerros, a Embrapa Pantanal, indica a utilização de creep feeding, ou seja, um sistema de alimentação onde somente os bezerros tem acesso a ração.

Manejo sanitário – Os procedimentos propostos pelo financiamento de Retenção de Crias da Planície Pantaneira do FCO ressaltam a importância do cumprimento do calendário profilático/sanitário recomendado pelo IAGRO e DFA. Além disso, é necessário que se verifique as invernadas de cria a cada três dias, para o trabalho preventivo de cura do umbigo e aplicação de ivermectina, além da identificação do mês de nascimento dos bezerros. Quanto a vermifugação dos animais o ideal é que em pastagens nativas sejam vermifugados na desmama e durante a primeira estação seca seguinte; para as pastagens cultivadas o tratamento deve ser feito na desmama em maio, julho e setembro, em animais com até dois anos e meio de idade.

Em relação ao tratamento estratégico da mosca-dos-chifres na região do Pantanal, ele deve ser feito após o inicio do período chuvoso, em novembro e no final do mesmo, ou seja, no mês de maio, coincidindo com os meses de vacinação da febre aftosa. São consideradas vacinações obrigatórias as relacionadas com as doenças infecciosas, como: raiva (em áreas endêmicas), febre aftosa e brucelose. Mas, também merecem atenção as vacinações contra o carbúnculo sintomático e botulismo. Os procedimentos sugerem ainda, atenção durante a aquisição de touros, onde deverá ser exigido o atestado negativo de tuberculose e brucelose.

Manejo Reprodutivo - O sistema de manejo reprodutivo sugerido pela Embrapa Pantanal e que foi adotado como procedimento pelo FCO preconiza preliminarmente a identificação de todos os animais adultos e bezerros, assim o manejo é facilitado. A identificação definitiva deve ser feita com ferro candente na desmama, conforme legislação vigente, estabelecida pelo MAPA.

É recomendável iniciar a estação de monta com seis meses (no primeiro ano), reduzindo-se gradativamente o período para cinco meses ( no segundo ano) e fixar em quatro meses (a partir do terceiro ano). Esta estação é dependente do pico de nascimento dos bezerros. O período da estação varia conforme o pico de nascimento dos bezerros que ocorre, normalmente, de outubro a novembro nas sub-regiões arenosas do Pantanal.

Aspectos relacionados a seleção e descarte técnico sugerem a avaliação do histórico da fêmea, após o diagnóstico de gestação em dois trabalhos de gado consecutivos. O descarte é indicado para as vacas que permaneceram vazias, em dois trabalhos consecutivos, que possuem defeitos físicos e que não apresenta habilidade materna adequada.

É recomendado ainda, a realização anual da avaliação andrológica dos touros existentes. No caso de touros comprados de terceiros, é indispensável a sua avaliação racial, física, genética e reprodutiva.

Christiane Rodrigues Congro MTB 00825/SC Embrapa Pantanal Contatos: (67) 233-2430 (ramal 252) - congro@cpap.embrapa.br  

Tema: Ecossistema\Pantanal 

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