01/05/04 |

Os segredos da alta produtividade em trigo

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Os rendimentos recordes da última safra de trigo chamaram a atenção para as variações de produtividade nas diversas regiões do Rio Grande do Sul. Como é possível potencializar o uso de tecnologia no sistema produtivo, sem que isso signifique apenas aumentar gastos? A resposta é apresentada com o exemplo de dois tradicionais produtores de trigo no estado, que desmistificam os segredos da alta produtividade no campo.

Estudos desenvolvidos pela Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS) unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mostram que, nos últimos anos, a produtividade de duas toneladas por hectare em ambiente natural pode chegar a 15 toneladas num ambiente controlado.

A diferença de 13 toneladas, conforme o pesquisador Osmar Rodrigues, está nos fatores bióticos, considerando principalmente temperatura, disponibilidade de água e radiação solar. "Precisamos reconhecer que, ao conduzirmos a lavoura da mesma maneira, com o mesmo manejo, mesmos materiais cultivados, dificilmente obteremos o mesmo índice de produtividade no ano seguinte. Dependemos essencialmente dos recursos naturais, e as condições climáticas, por exemplo, nunca se repetem", explica o pesquisador.

Na safra passada, a instituição manteve o monitoramento das lavouras de trigo em 11 propriedades do estado, das quais nove atingiram de três a quatro toneladas por hectare, rendimento bem acima das médias regionais da triticultura gaúcha (mapa).

A propriedade de Narciso Barison está localizada na região mais produtiva para cereais de inverno no estado, Planalto Superior. Em Vacaria, Barison iniciou o cultivo de trigo há quase quatro décadas. O trabalho de monitoramento da produção foi decisivo para crescer num mercado cada vez mais competitivo.

"Registramos todos os dados e atividades de manejo da propriedade há cerca de 17 anos. Isso permitiu manter a média de produtividade em 50 sacos por hectare, mesmo nos anos de frustrações com a seca ou geadas", conta o produtor, lembrando que a maior quebra registrada na lavoura foi em 1997, quando houve muita chuva na colheita e o rendimento caiu para 1.800 kg/ha.

De acordo com Barison, nas lavouras da região é comum uma quebra de 7% nas culturas de inverno, e de até 20% em culturas de verão. "Esse percentual não chega a ser representativo no resultado final da safra. Na rotação, se somarmos as culturas de verão às de inverno, em termos de renda por hectare, superamos a região do Brasil Central, onde a monocultura alcança maior rendimento, mas a um custo mais elevado", argumenta Barison.

A agricultura de precisão é a base da propriedade. A lavoura é monitorada com o uso de GPS (Sistema de Posicionamento Global via satélite), regulagem freqüente nas máquinas, estudos de logística e mercados, sistemas de secagem e armazenagem próprios, análises bianuais de solo em amostras distribuídas a cada cinco hectares, visita de fitopatologistas ao menos duas vezes durante a safra, contato regular com órgãos de pesquisa e a rotação de culturas são os fatores que garantem os bons resultados. "Trabalhamos direcionados ao aumento de produtividade e à redução de custos. Sempre fomos entusiastas do trigo e acreditamos que a abertura do mercado externo vai estimular ainda mais a produção", diz Barison.

Neste ano, Narciso Barison pretende plantar 1.600 hectares de trigo, destinados tanto para a indústria quanto para a produção sementes. As cultivares selecionadas são a BRS Angico e a Ônix. A semeadura na região inicia em julho, com a colheita prevista para a segunda quinzena de dezembro. "O potencial de rendimento da área chegou a 6 mil quilos por hectare, numa unidade experimental plantada com BRS 179", conta Barison, avaliando que manter a produtividade da última safra – 3.600 kg/ha – é a meta da família.

Acima da média regional - A região das Missões sempre apresentou um dos menores rendimentos em trigo, servindo o seu cultivo mais para favorecer a soja (aporte de nutrientes e diluição de custos fixos) que propriamente agregar renda à propriedade. Entretanto, novos resultados de produção estão mudando esta visão equivocada e despertando o interesse do produtores em obter renda também com os cereais de inverno.

Na propriedade de Azir Costa Beber, em São Luiz Gonzaga, uma área de 1.000 hectares está destinada ao plantio de trigo, na rotação soja/milho no verão. No ano passado, Costa Beber dividiu a área em glebas com as variedades BRS 179, BR 23, Onix Jaspe e as novidades BRS Timbaúva, BRS Angico e BRS Figueira, lançadas há pouco pela Embrapa Trigo.

A ousadia em experimentar materiais novos, associada à experiência no uso de tecnologias agrícolas, resultou numa produtividade de 53 sacos por hectare. Um rendimento que representa dois mil quilos acima da média regional. Como se não bastasse, as parcelas experimentais instaladas na propriedade já atingiram os 5 mil kg/ha. Um dos segredos do profissional do campo, que produz trigo há mais de 40 anos, é a rotação de culturas. "Nunca repetimos trigo na mesma área em anos consecutivos.

No próximo cultivo de inverno substituímos por aveia ou canola, o que garante a fertilidade do solo, reduzindo gastos com adubação e permitindo estabilidade na produção", esclarece Costa Beber, lembrando que "a planta alimentada não só produz mais, como também aguenta mais as variações do clima e outros estresses ambientais". Na região das Missões o plantio começa na segunda quinzena de maio com a colheita prevista para o final de outubro. "O trigo precisa ser plantado em, no mínimo, um terço da área para viabilizar a cultura de verão", conclui Azir Costa Beber.

Joseani M. Antunes- MTb 9396/RS Embrapa Trigo Contatos: (54) 311.3444 - joseani@cnpt.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Grãos\Trigo 

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