01/05/04 |

Produtor ganha mais com integração lavoura-pecuária

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Parceira antiga de uns, companheira recente de outros, a integração entre pecuária e agricultura nas fazendas é bastante conhecida pelo produtor rural. Revigorada nos últimos anos graças a técnicas modernas aplicadas ao campo, a combinação de ambas atividades elevaram os ganhos de produtividade no cerrado.

Entretanto, quanto dinheiro a mais seus adeptos estariam embolsando? Na ponta do lápis, a resposta vem dos agrônomos e zootecnistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO), um modelo de integração lavoura-pecuária está em execução há seis anos e consiste na recuperação de pastagens degradadas, via consórcio de grãos com capins, e na produção forrageira para a entressafra simultânea ao plantio de culturas anuais, denominados de sistemas Barreirão e Santa Fé, respectivamente.

O pesquisador Tarcísio Cobucci explica que, durante a safra 2003/04, foram coletados dados para medir a lucratividade do sistema agropastoril, que abrangeu uma área de 100 hectares. Em relação à pecuária, foi possível a produção de 52 arrobas de peso vivo animal por hectare ao ano, com lotação média de 3,25 animais por hectare.

"Com isso, tivemos uma receita bruta de R$ 2.860,00, considerando-se o preço da arroba a R$ 55,00. Se descontarmos o custo por hectare no período e incluirmos o gasto com a compra dos animais, chegaremos a uma receita líquida de R$ 660,00. Ou seja, uma taxa de retorno do investimento de 30%", argumenta Tarcísio. O cálculo não levou em conta o rendimento de carcaça dos touros.

No que diz respeito à agricultura, o pesquisador esclarece que foram cultivados milho, soja e arroz, cada um ocupando parcelas de 16 hectares, na área restante do experimento. Segundo Tarcísio, o rendimento do milho ficou aquém das expectativas, 95 sacas por hectare, mas, mesmo assim, gerou um retorno de 36,4% do capital empregado. Isto é, um lucro por hectare de R$ 431,00, com o valor da saca a R$ 16,11.

Para a soja, ele afirma que a produtividade foi de 50 sacas por hectare, com uma taxa de retorno de 45,8% e receita líquida de R$ 550,00, para a cotação da saca a R$ 35,00. O resultado surpreendente foi o arroz de terras altas. Tarcísio relata que a produtividade alcançou 65 sacas por hectare, correspondendo a 118% de lucro, um montante líquido de R$ 1.300,00, para a saca a R$ 37,00.

O desempenho superior do cereal foi atribuído às condições climáticas extremamente favoráveis à cultura. "A boa distribuição de chuvas contribuiu para uma ótima colheita, além do que a saca do produto está mais valorizada neste ano", justifica Tarcísio. Conforme observou o pesquisador, o levantamento econômico da integração lavoura-pecuária não contemplou gastos com o preço da terra nem com o custo do capital (juros) empregado na atividade.

Lucro genético - Para o experimento na Embrapa Arroz e Feijão, foram pré-selecionados 189 animais, inscritos no Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN-Nelore Brasil) e participantes da prova de ganho em peso a pasto da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Os exemplares eram oriundos de plantéis de 29 pecuaristas de Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Paraná e São Paulo. Ao longo do processo de avaliação em recria, tornou-se evidente a influência do componente genético animal no sistema agropastoril.

Os animais foram divididos em três grupos, cada um pertencente a grupos genéticos distintos, conforme o ranqueamento alcançado por seus pais para o indicador de Diferença Esperada na Progênie para peso aos 365 dias de vida (DEPP 365).

A DEP é a previsão da habilidade de um animal em transmitir sua genética a seus filhos e a DEPP 365 é um indicador de crescimento e desenvolvimento.

A diferença entre os filhos de touros com DEPP 365 alta para aqueles com DEPP 365 intermediária foi de 7 quilos de peso vivo. Essa mesma comparação em relação aos animais de DEPP 365 baixa resultou em uma vantagem de 14 quilos de peso vivo a favor do primeiro agrupamento.

Segundo a doutoranda em Ciência Animal e técnica do PMGRN-Nelore Brasil, Carina Ubirajara de Faria, essa discrepância é bem expressiva em termos financeiros. "Se projetarmos a diferença de 14 quilos de peso vivo em um rebanho comercial de mil cabeças, isso representará 14 mil quilos de carne, que correspondem a 933 arrobas de peso vivo. Descontando 50% do rendimento de carcaça, o produtor estará ganhando 466 arrobas de carne ou R$ 25.630,00, para o valor da arroba a R$ 55,00, ao utilizar touros comprovados".

Essa situação torna-se ainda mais destacada na comparação entre o grupo de animais com DEPP 365 alta e aqueles sem informação genética, usando como indicador a média geral de peso da raça nelore no país. "Nesse caso, para o mesmo cálculo, a diferença é de 633 arrobas de carne ou de R$ 34.315,00", afirma Carina. De acordo com ela, o investimento na melhoria do plantel não é oneroso. "Basta definir corretamente qual o produto desejado e adquirir o sêmen de animais com alto potencial genético, o que não é muito caro".

Já os criadores envolvidos no PMGRN-Nelore Brasil têm um ganho significativo também no momento da comercialização de material genético. À medida em que se aumenta a classificação de DEPs dos exemplares, cresce também o valor pago por eles.

Carina cita que os animais com Mérito Genético Total (MGT) mais elevados são vendidos por preços maiores. "Por exemplo, existem fazendas que comercializam touros com MGT médio de 0,24 por R$ 3.000,00, enquanto outros que têm MGT médio de 0,96 atingem R$ 6.000,00". O MGT é um índice ponderado que considera a habilidade materna, ganho em peso e fertilidade do animal avaliado pelo PMGRN-Nelore Brasil.

Mudança de mentalidade - Há 30 anos fazendo seleção do plantel e há 6 anos participando do PMGRN-Nelore Brasil, o pecuarista Júlio Roberto Bernardes vivência as circunstâncias descritas por Carina. Em sua propriedade Recanto da Serrinha, localizada em Guapó (GO), ele ajusta o preço dos touros, conforme as predições de DEP dos animais.

Júlio, que possui um rebanho de cerca de 5 mil cabeças, se lembra que antigamente a venda de animais era muito diferente. Ele conta que chegava-se no curral, olhava-se as características físicas dos touros, julgando os exemplares mais desenvolvidos, e comprava-se sem nem perguntar pelos dados genéticos.

O pecuarista pondera que, embora muita gente continue a adquirir touros assim, hoje a demanda está começando a exigir ao menos um exemplar puro de origem, o que é um atestado que determinado animal passou por algum tipo de seleção genética.

O coordenador do PMGRN-Nelore Brasil, professor Raysildo Barbosa Lôbo, se une à constatação de que está ocorrendo uma mudança de mentalidade dos produtores. Ele afirma que seja em rebanhos comerciais, seja naqueles voltados à seleção da raça existem criadores ávidos por genética.

Rememorando a década de 70, Raysildo diz que nem técnicos, nem pecuaristas acreditavam no melhoramento de zebuínos. No entanto, atualmente os produtores precisam lançar mão de todas as ferramentas possíveis, principalmente a genética, a fim de agregar valor aos animais.

Rodrigo Peixoto - 1.077 MTb/GO Embrapa Arroz e Feijão Contatos: (62) 533-2108 - rpbarros@cnpaf.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Grãos 

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/