11/04/08 |

Controle biológico de pragas ganha reforço com novo inimigo natural

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Uma nova espécie de inseto capaz de contribuir como inimigo natural para o controle biológico de pragas em diversas culturas agrícolas foi identificada pela primeira vez por uma equipe liderada pelo pesquisador Ivan Cruz, da  Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG).

Pertencente ao gênero Ungla, a descrição da espécie Ungla ivancruzi (foto), nome dado em homenagem ao pesquisador, foi publicada em dezembro de 2007 na Revista Brasileira de Entomologia. "(...) Pela primeira vez é registrada a ocorrência do gênero Neotropical Ungla Navás, 1914, em ecossistema brasileiro. Uma nova espécie é descrita para Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil. (...)", diz um trecho do documento.

Segundo a publicação, o que difere a nova espécie de outras do gênero Ungla são manchas marrom claras na cabeça do inseto, ausentes em todas as outras espécies já identificadas. "Percebemos sua presença pela primeira vez em 2006 em experimentos de milho na Embrapa Milho e Sorgo. A identificação deste novo inimigo natural de pragas é um exemplo que reforça o quanto as pesquisas na área de controle biológico ainda devem avançar", enumera Cruz. A equipe dedica seus esforços agora a novos estudos, como ao ciclo de vida do inseto e às suas potencialidades como inimigo natural.

Pertencente à família dos crisopídeos, principais agentes de controle biológico de pulgões, a Ungla ivancruzi tem um diferencial em relação aos outros inimigos naturais da mesma espécie: sua postura é feita em forma de cachos, sendo que em cada postura são depositados de 20 a 30 ovos. Já a postura de outros crisopídeos é de apenas um ovo. "O número de descendentes, portanto, é maior", conclui a graduanda em Engenharia Ambiental Ana Luísa de Castro, integrante da equipe do pesquisador Ivan Cruz.

A fase predatória do inseto acontece na fase larval, quando o aparelho bucal é mastigador. A Ungla ivancruzi é predadora de pulgões, ácaros, pequenos artrópodes, da lagarta-do-cartucho, principal praga que ataca a cultura do milho, e da broca-da-cana, a Diatraea saccharalis, que vem sendo apontada como séria ameaça à mesma cultura. O inimigo natural atua da seguinte maneira: com suas mandíbulas, ele perfura o corpo do inseto parasitado e cria um canal que, por gravidade, faz com que o conteúdo interno sirva como alimento, causando sua morte.

Estudos preliminares desenvolvidos pela equipe do pesquisador indicam a alta eficiência da Ungla ivancruzi. Segundo Cruz, a nova espécie consome mais de 200 pulgões por dia. "Este agente de controle biológico pode ser aplicado em diversas culturas, como em milho, tomate, couve. Logo após a liberação do inseto, feita nas fases adulta, larval ou de ovos, o controle dos inimigos naturais já começa a ser feito. "A Ungla ivancruzi tem um grande potencial para se tornar realidade na agricultura brasileira, já que pode ser criada e multiplicada em laboratórios usando tecnologias já conhecidas", adianta.

A prática do uso de agentes de controle biológico na agricultura, ainda pouco disseminada no Brasil, esbarra no desconhecimento de muitos produtores que optam pelo uso indiscriminado de produtos químicos, que dão um resultado imediato, mas paliativo. "Hoje, muitos agricultores, por desconhecimento, buscam métodos imediatos no controle de pragas. No entanto, na natureza, há mais inimigos naturais do que pragas e os inseticidas têm dizimado muitos inimigos naturais. É preciso reverter este quadro, postura já adotada em outros países", explica Ivan Cruz.

Ele cita o exemplo da Holanda, onde existem diversos programas de controle biológico. Insetos da mesma família dos crisopídeos são aplicados por via aérea nas lavouras. "Hoje, com as pesquisas mostrando os pontos negativos do uso indiscriminado de produtos químicos, como a ocorrência de novas pragas ou a resistência das já existentes aos inseticidas, devemos oferecer condições para que os inimigos naturais se multipliquem", finaliza.

Harmonia com  o mercado

A tendência já é seguida por diversos grupos de agricultores. Um exemplo é o grupo Reijers, flora fundada em 1972 com produção de flores no sul de Minas Gerais, interior de São Paulo e no estado do Ceará. O grupo, além de desenvolver novas cultivares de rosas, exporta parte da produção para a Europa e fazia até há dois anos o controle químico de pragas nas lavouras. "Notamos que com o controle químico as infestações de novas pragas estavam aumentando. Decidimos, então, a fazer o controle seletivo das pragas mais severas e apostamos no controle biológico dos ácaros", descreve Washington Barbosa de Oliveira, engenheiro ambiental e coordenador da Reijers.

Além do ataque do ácaro nas plantações de rosas, a infestação de mosca-branca era constante. Em uma área de 16 hectares, o coordenador diz que conseguiu uma eficiência no controle de até 85% desta praga usando crisopídeos. "O controle biológico funciona. Depois que liberamos os agentes de controle biológico nas lavouras, a própria infestação de pragas diminuiu muito, já que permitimos a multiplicação de novos inimigos naturais", descreve Washington. Segundo ele, a meta do grupo é fazer a multiplicação em laboratórios destes inimigos naturais, já que a demanda tem aumentado bastante.

Guilherme Ferreira Viana (MTb/MG 06566 JP)Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)Contatos: (31) 3779-1123gfviana@cnpms.embrapa.br

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