A iniciativa, por meio de cursos, intercâmbios, dias de campo e oficinas levou informações sobre manejo de solo, produção de sementes, gestão e planejamento da propriedade, uso sustentável dos recursos naturais e vários outros temas.

Executado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com recursos da Superintendência Regional do Incra de Goiás e apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped), o convênio implementou mais de 100 unidades demonstrativas de produção de sementes, recuperou áreas degradadas e incentivou a conservação do solo e a adoção de práticas agroecológicas, em diferentes assentamentos de Goiás, que congrega, em torno de 240 assentamentos e 12 mil famílias.

"Temos depoimentos de muitos agricultores que haviam desistido da terra e voltaram a produzir em suas propriedades, a cultivar seus próprios alimentos e as ações do projeto incentivaram esse resgate respeitando a sabedoria, o conhecimento e os interesses das pessoas envolvidas", ressalta o gestor do convênio e pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO), Agostinho Didonet.

Crença na terra

Assentado há quatro anos no Pontal do Araguaia, em Novo Planalto-GO, o agricultor Alaede Cardoso de Matos confirma o pesquisador e conta que o desânimo entre os produtores era grande e com a execução do projeto as pessoas, aos poucos, voltaram a acreditar na terra.

Para ele, foi estimulante conhecer técnicas como a adubação verde e aplicá-las no cultivo de hortaliças. "Sabemos que no futuro teremos alternativas de renda, além do leite, com a venda de alimentos orgânicos'".

Com o mesmo objetivo está a agricultora e estudante Aline de Souza Araújo, que ao lado do pai e do avô cultiva em quatro alqueires, no assentamento Agrovila (Trombas-GO), arroz, milho, cana-de-açúcar e mandioca para subsistência, mas, em alguns meses estará produzindo verduras e legumes. "Através da adubação verde que aprendi vamos instalar uma horta livre de produtos químicos e poderemos nos inserir no mercado, que está repleto de consumidores exigentes".

Agora para Ovídio Zago, do assentamento Valdemarzinho, também em Trombas, a vitória foi ver os assentados plantando feijão. Ele afirma que "o povo não acreditava que pudesse dar feijão de qualidade, então propus tentarmos com a ajuda de um técnico da Embrapa. A Embrapa nos ajudou na assistência técnica, forneceu sementes, ensinou formas de plantio e outras coisas. A prova disso é ver a roça produzindo bem como está hoje".

Já para o quilombola Jerônimo Gonçalves da Silva, do município de Mineiros-GO, o mais marcante nesses dois anos e meio foi notar o resgate de antigas tradições de sua comunidade. "Foi um sonho ver o quilombo trabalhando em mutirão, aprendendo junto e trocando experiência.

Gerações futuras

Hoje a porcentagem de pessoas que abandonou a terra é grande, a maioria, por falta de condições de sobreviver. Espero que possam voltar quando perceberem como voltamos a produzir nossos alimentos, com qualidade e técnica".

A Embrapa, assim como os produtores, obteve respostas positivas. De acordo com a chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão, Beatriz da Silveira Pinheiro, a Empresa durante muito tempo teve "suas pesquisas desenvolvidas em laboratórios e casas de vegetação e nesta parceria todos cresceram.

Os agricultores por que têm às mãos uma nova ferramenta de trabalho, o conhecimento, que pode ser aplicado em sua propriedade, garantindo segurança alimentar, conservação do meio ambiente, geração de renda e, quem sabe, a fixação de gerações futuras no campo; e a Embrapa, que teve a oportunidade de levar suas pesquisas a campo, observando os resultados na prática, na vida do produtor".

Renovação

segundo o superintendente regional do Incra de Goiás, Rogério Arantes, um novo convênio está em fase final de negociação e deve ser assinado em breve, porque "há uma obrigação e um compromisso das instituições parceiras de continuar levando informações aos assentamentos, possibilitando que suas parcelas de terra produzam com qualidade e tragam qualidade de vida às famílias".

Nesta etapa seguinte, a proposta é capacitar técnicos que prestam assistência técnica para assentamentos com foco no desenvolvimento de tecnologias para sistemas de produção, bioenergia e uso adequado dos recursos naturais.