Num momento em que o mundo vive uma alta de preços dos fertilizantes, com um aumento médio de 70 por cento no último ano, pesquisadores da Embrapa e de instituições convidadas estão reunidos no Rio de Janeiro para discutir como o melhoramento genético pode contribuir para alavancar a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) em algumas culturas e diminuir a dependência dos insumos químicos.

Os participantes do encontro, em Seropédica/RJ, são cientistas da área de melhoramento genético e pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, que é um Centro de referência mundial em pesquisas com Fixação Biológica de Nitrogênio. O Chefe Geral da Embrapa Agrobiologia, Eduardo Campello, ressaltou na abertura do evento, que esta interação pode possibilitar o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas aos fertilizantes biológicos.

No Brasil, a soja é o melhor exemplo de cultura que foi alvo de melhoramento genético para se beneficiar da fixação biológica de nitrogênio. Hoje, toda soja brasileira é inoculada com bactérias fixadoras de nitrogênio, gerando uma economia anual de 10 bilhões de reais em fertilizantes nitrogenados. Na Embrapa Agrobiologia, já estão em desenvolvimento inoculantes a base de bactérias para culturas como arroz, milho e trigo. Para o Chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Carlos Eduardo Lazarini da Fonseca, este é um momento histórico devido a diversidade de competências reunidas no workshop.

"Os preços dos fertilizantes estão correndo, impactando os sistemas de produção. Vamos ter que ser muito eficientes. E não é só com os insumos biológicos, teremos que desenvolver outros tipos de fertilizantes também", afirmou Lazarini.

A agricultura brasileira utilizou 3 milhões de toneladas de fertilizantes nitrogenados na última safra. Na cultura do feijão, por exemplo, o gasto com fertilizantes representa cerca de 10 por cento do custo de produção. Segundo o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Endeson Petrônio de Brito Ferreira, comercialmente ainda é difícil plantar feijão sem o uso de fertilizante nitrogenado se beneficiando apenas da Fixação Biológica de Nitrogênio. No entanto, ele afirma que é possível realizar pesquisa com material genético existente no sentido de melhorar a relação entre a planta e a bactéria responsável pela FBN. "Seria interessante do ponto de vista econômico e para o meio ambiente seria uma fonte a menos de poluição", complementa o pesquisador.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Clima Temperado Paulo Fagundes, que trabalha com melhoramento de arroz irrigado, já existe demanda dos produtores para a substituição ainda que parcial de insumos químicos na cultura por insumos biológicos.. Atualmente, utiliza-se de 90 a 110 quilos de nitrogênio por hectare no arroz irrigado na região sul.

"O arroz irrigado tem um potencial produtivo muito alto. Mas hoje, não se pensa somente em produtividade ou qualidade do arroz, mas também na questão da sustentabilidade do sistema de produção", afirma Paulo Fagundes.

A cana-de-açúcar, principal cultura do programa de biocombustíveis do país, utiliza-se atualmente cerca de 50 quilos de fertilizantes nitrogenado por hectare. A Embrapa Agrobiologia lançou recentemente o primeiro inoculante a base de bactérias fixadoras de nitrogênio para a cultura que pode reduzir o uso deste ferttilizante em 50 mil toneladas por ano no Brasil. Mas as pesquisas não pararam e os testes de campo continuam, assim como as discussões em torno do tema. Para a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Verônica Massena Reis, sem a interação entre a pesquisa microbiológica e o melhoramento genético não haverá evolução.

O Diretor Executivo da RIDESA-Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro Marco Antônio Sanches Vieira, este tipo de discussão é fundamental para agregar valor ao produto cana e aumenta a competitividade do setor.

Ana Lucia FerreiraEmbrapa AgrobiologiaTel: (21)2682-1500 / 9339-1850analucia@cnpab.embrapa.br