26/08/08 |

Região dos Cerrados tem experência em agroecologia

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Aferir lucros com baixo uso de insumos industrializados, sem uso de agrotóxicos e verticalização da produção pode não parecer um modelo viável para a agricultura, mas a experiência dos produtores do Distrito Federal com agroecologia mostra a viabilidade econômica de produzir alimentos com respeito ao meio ambiente.

Pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina – DF) e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília –DF) visitaram na quarta-feira (20) o Sítio Alegria, em Brazlândia (DF), propriedade que adota o modelo agroecológico para a produção de frutas, hortaliças e leguminosas.

O diretor técnico da Associação de Agricultura Ecológica (AGE), Jorge Artur Chaves de Oliveira, apresentou a experiência dos produtores do DF com agroecologia e explicou as vantagens econômicas de controlar desde o uso de insumos até a entrega do produto ao consumidor.

Os 34 produtores associados da AGE comercializam a produção em dez pontos de venda administrados pela própria associação. "Acreditávamos que era possível produzir sem venenos, e a associação surgiu da necessidade de comercializar a produção", comenta o agrônomo Jorge Artur.

Ciclo de palestras

A visita técnica ao Sítio Alegria faz parte do ciclo de palestras sobre temas relacionados a agroecologia, iniciado em abril deste ano na Embrapa Cerrados. A pesquisadora Cynthia Torres de Toledo Machado, coordenadora do evento, acompanhou os participantes na visita ao sistema agroflorestal do Sítio Alegria. Café, pupunha e banana são produzidos na área. Também foram introduzidas no sistema espécies nativas como ipê, aroeira, angico e copaíba.

Para Jorge Artur, a pouca escala do modelo agroecológico é compensada pelos ganhos com a diversidade da oferta. A AGE comercializa, simultaneamente, até oitenta produtos agrícolas.

"Vários consumidores vão às feiras para encontrar determinados produtos difíceis de serem encontrados em outros pontos de venda", destaca. Nesta categoria, estão o cará, tubérculo rico em carboidratos e semelhante ao inhame, a bertalha, hortaliça folhosa rica em ferro, e frutas como pitanga e lima.

Desafios

Os pesquisadores também discutiram os desafios para expandir a agroecologia. Altair Toledo, da Embrapa Cerrados, destacou a inexistência de sementes adaptadas a sistemas orgânicos e necessidade de incorporar o manejo da agrobiodiversidade. Para Toledo, os sistemas agrícolas convencionais contribuem para "uma grande perda na diversidade genética e cultural em diferentes agroecossistemas, provocando um forte processo de erosão genética e cultural em diferentes países, principalmente, naqueles ditos megadiversos e que estão situados entre os trópicos do planeta".

Outro desafio apontado pelos produtores é conseguir suprir os consumidores, durante todo o ano, com produtos agrícolas sazonais como tomate e batatinha. "Temos que intervir no ambiente para produzir durante todo o ano", destaca Jorge Artur. Os produtores fazem uso de ambientes protegidos para as plantas com luminosidade controlada, técnicas de irrigação para os períodos de entressafra e recorrem a biofertilizantes. "Mas continua sendo orgânico, não há uso de agrotóxicos e adubos químicos", salienta.

Os esforços para produzir alimentos saudáveis compensam. Segundo o diretor da AGE, os consumidores percebem o sabor mais apurado, a melhor densidade e a maior durabilidade na geladeira dos produtos ofertados.

Testes realizados pela associação apontam que a couve e os brócolis agroecológicos, dois dos produtos mais comercializados, possuem o dobro de durabilidade daqueles produzidos convencionalmente. "São oito dias de durabilidade em geladeira, se mantidos envolvidos em sacos plásticos cobertos por proteção de papel, contra quatro dias de durabilidade dos produzidos pelo agrobusiness", comenta.

Verticalização

Sobre o custo final para o consumidor, os produtores afirmam que a verticalização permite praticar preços até 30% inferiores aos produtos orgânicos comercializados em supermercados. A associação posiciona os preços de seus produtos entre os preços dos orgânicos e o dos produtos convencionais vendidos pelas redes varejistas. "De acordo com a dificuldade de produção são aplicados índices sobre produtos convencionais", destaca. O preço ao consumidor fica entre 20 e 30% acima dos produtos agrícolas oriundos dos sistemas convencionais, mas existe uma clientela fiel e disposta a pagar um pouco mais por produtos mais saudáveis.

O marketing praticado para alcançar a alta fidelidade vai além da oferta de produtos mais saudáveis. Jorge Artur salienta que os vendedores procuram passar informações sobre a produção ambientalmente correta, conservação dos alimentos e nutrientes dos produtos adquiridos. O modelo de venda, mais intimista, permite até agendar visitas a algumas propriedades e desenvolver campanhas de minimização de embalagens descartáveis.

   Gustavo Porpino de Araújo (RN648 JP)Embrapa Cerrados Contatos: (61) 3388 9945gporpino@cpac.embrapa.br

Mais informações sobre o tema
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