Resultados obtidos com  a análise do efluente gerado pelo sistema da Fossa Séptica Biodigestora, desenvolvida pela Embrapa Instrumentação Agropecuária, serão apresentados pelo pesquisador Wilson Lopes Tadeu da Silva no XIV Encontro da Sociedade Internacional de Substâncias Húmicas, que está sendo realizado em Moscou, Rússia, de 14 a 19 de setembro.

 Os estudos apontaram um incremento nas concentrações de nutrientes no solo sob uso do efluente em comparação com o solo com adubação mineral NPK, macro e micronutrientes em quantidades significativas, não sendo observado efeito de salinização nas profundidades analisadas.

 Os resultados indicam o efeito benéfico do uso do efluente tratado pela Fossa Séptica Biodigestora na fertilidade do solo, sendo indicado no preparo de solos e na adubação de pomares, devido a sua capacidade fertilizante e por apresentar efeito comparável ao da adubação química inorgânica à base de nitrogênio, fósforo e potássio, a um custo praticamente zero. As análises foram realizadas envolvendo métodos e equipamentos de última geração, como espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica, espectroscopia de ressonância magnética nuclear, espectroscopia de fluorescência em solução, entre outras.

O sistema denominado Fossa Séptica Biodigestora foi desenvolvido com o objetivo de promover o tratamento de esgoto em áreas rurais e contribuir com a  produção de efluentes desinfetados. Segundo dados do IBGE de 2004, nessas áreas cerca de 84% da população fazem uso de fossas rudimentares ou não possuem qualquer tipo de captação e tratamento do esgoto doméstico.

 O ex-pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária e responsável pelo desenvolvimento da tecnologia,  Antonio Pereira de Novaes,  afirma que o sistema da fossa consiste em um tratamento biológico do esgoto por ação de digestão fermentativa, utilizando-se de esterco bovino ou ovino como meio inoculante de bactérias.  "Assim, evita-se a proliferação de doenças veiculadas pela água poluída por esgoto doméstico".

Tese de mestrado

Os estudos físico-químicos do efluente produzido pela Fossa Séptica Biodigestora e o impacto do seu uso no solo fazem parte da dissertação de mestrado de Adriana Soares Faustino, orientada pela pesquisadora Ana Rita de Araújo Nogueira da Embrapa Pecuária Sudeste e co-orientada pelo químico Wilson Tadeu Lopes da Silva, defendida este ano no Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos.

 Adriana avaliou os impactos da tecnologia em três sistemas instalados em propriedades localizadas na região de São Carlos (SP) com a proposta de conhecer as características do efluente produzido, bem como o impacto da sua aplicação no solo. Os dados ainda mostraram que a adição do efluente no solo após três anos de aplicação provocou significativas alterações na parte húmica da matéria orgânica do solo.

Para Wilson Lopes Tadeu da Silva a reutilização do efluente, além de ser uma alternativa mais adequada sob o aspecto ambiental também é muito apreciada do ponto de vista agrícola, porque demonstrou ser uma fonte de macro e micronutrientes para as plantas, além de matéria orgânica para o solo. "As técnicas químicas e espectroscópicas mostraram que o benefício proporcionado pela adição de efluente ao solo, mesmo em um experimento de curta duração, pode ser significativo".

De acordo com os dados  do estudo "Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Uma visão a partir da América Latina e do Caribe", divulgado em 2005 pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o Brasil é o quarto pior em saneamento rural na América Latina e Caribe. O  levantamento é o mais amplo sobre o tema já feito na região, que envolveu a participação de doze agências da Organização das Nações Unidas (ONU), incluindo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (PNUD, 2005).

O relatório mostra que a proporção da população rural brasileira com acesso a saneamento adequado caiu de 37 % em 1990 para 35 % em 2002. O desempenho foi o pior da América Latina e fez com que o Brasil retrocedesse 6,3% em relação ao que deveria alcançar para reduzir pela metade até o ano de 2015 a população rural carente de esgotamento sanitário, segundo os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU.

 

 

Joana Silva  Mtb 19554Embrapa Instrumentação Agropecuária(16) 2107 29 27 / 9994 6160