Decodificar as mensagens da pesquisa para que o agricultor possa colocá-las em prática, investir mais em marketing para levar ao conhecimento do grande público o valor social e econômico da agricultura e intensificar a extensão rural são ações necessárias para a agropecuária brasileira incrementar a produtividade e continuar competitiva.

A opinião é do agrônomo Alfredo Scheid Lopes, professor da Universidade Federal de Lavras, conferencista que abriu as discussões do IX Simpósio Nacional sobre o Cerrado e II Simpósio Internacional sobre Savanas Tropicais na manhã desta quinta-feira(16).

Os eventos, promovidos pela Embrapa Cerrados (Planaltina – DF), prosseguem até amanhã.  Para o último dia, estão previstos doze grupos de trabalho sobre temas como "savanas no mundo", "agroenergia", "biotecnologia, transgênicos e biossegurança", "agricultura familiar", "políticaspúblicas e perspectiva mundial para as savanas", entre outros debates voltados para identificar demandas para as linhas de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa.

Durante a conferência "Agronegócio e recursos naturais no Cerrado: desafios para uma coexistência harmônica", realizada na manhã de quinta-feira (16), os participantes discutiram o que deve ser feito pelosprodutores para acompanhar as tendências de mercado.

Segundo Lopes,as mudanças de perfil do consumidor apontam para minimização de uso de agrotóxicos, maior importância da rastreabilidade, produtosdiferenciados e ênfase na qualidade e sabor.

O conferencista salientou que "é preciso ter cuidado com a supervalorização dos orgânicos pela mídia". Para Lopes, a agricultura orgânica é "um nicho de mercado e algumas mensagens são veiculadas sem verdade científica".

 "A impressão que fica é que o que é orgânico é saudável, e o que é químico é veneno. Isto é um tiro no pé. Não sou contra os orgânicos, mas é preciso mostrar a qualidade também dos produtos da agricultura convencional, que são saudáveis também", enfatiza.

Lopes sugere investir mais em marketing para mostrar que a agricultura convencional contribui com a inclusão social, aumento da produção de alimentos para lidar com a crescente demanda e tem sido importante para diminuir as desigualdades sociais no Brasil.

O professor lembra ainda que os produtores devem por em prática os programas Alimentos Seguros, o PAS, desenvolvido pelo SEBRAE e voltado para reduzir os riscos dos alimentos à população, e SistemasIntegrados de Produção, iniciativa conduzida por diversas Unidades da Embrapa e parceiros com foco no melhor aproveitamento de áreas agrícolas e utilização de princípios para minimizar os impactos ambientais. As duas ações permitem atuar de forma mais direcionadaaos anseios dos consumidores.

Sustentabilidade no Cerrado

Segundo Lopes, o Brasil, e mais precisamente o Cerrado, enfrenta consumo inconsistente de calcário, subutilização de nitrogênio e deficiência natransferência de tecnologias que permitam aumentar a produtividade sem expandir a fronteira agrícola.

O aumento da sustentabilidade do sistema produtivo no Cerrado, enfatiza, depende do bom manejo da matéria orgânica do solo, rotação de culturas eutilização de adubos verdes. "Quanto mais o solo estiver coberto, para manter massa verde, melhor", destaca.

Tecnologias como calagem e adubação correta com base em análise de solo e foliar, existentes há vários anos, continuam sendo o princípio para produzir melhor no Cerrado. Lopes salienta que recomendações de doses corretas de calcário e fertilizantes, assim como o monitoramento da incidência de pragas e doenças, são tecnologias disponíveis, mas ainda pouco acessadas pelos agricultores de subsistência e alguns segmentos da agricultura familiar.

O professor lembra, no entanto, que a preservação da biodiversidade do Bioma Cerrado, outro tema debatido na conferência, não depende apenas de vontade popular. Lopes destaca que as Leis ambientaisexistentes precisam ser praticadas e o Código Florestal precisa ser discutido. O comentário do conferencista ocorre um dia depois da ONG Conservação Internacional afirmar que se a proteção do Cerradoficar a cargo somente do cumprimento do Código Florestal, cerca de 25% das espécies do bioma estarão ameaçadas de extinção.

Gustavo Porpino (RN 648JP)Embrapa Cerrados Fone: (61) 3388 9945  IX Simposio Nacional sobre o Cerrado e II Simposio Internacional sobre Savanas Tropicais 12 a 17 de Outubro de 2008