15/05/09 |

Fazenda Nhumirim se prepara para certificação em pecuária orgânica

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A Embrapa Pantanal pretende certificar em pecuária orgânica o seu campo experimental, a fazenda Nhumirim, que fica localizada na região pantaneira da Nhecolândia, a 160 km de Corumbá (MS).

Dez de suas 16 invernadas – termo utilizado no Pantanal para pastagens, deverão ser alocadas para criação orgânica, o que corresponde a cerca de 60% de sua área total de mais de 4 mil hectares. O processo orgânico envolverá cerca de 50% das 1,2 mil cabeças de gado criadas na propriedade.

Funcionários da fazenda já  iniciaram o trabalho de gado na propriedade,  adequando as práticas de contagem, manejo, vacinação e documentação às exigências para certificação, seguindo as orientações do veterinário Marcelo Rondon, consultor técnico da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), que visitou a propriedade nos dias 15, 16 e 17 de abril. A temporada lida com o gado durará um mês.

Para difundir o conceito de pecuária orgânica e sensibilizar os funcionários da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Rondon realizou uma pré-vistoria e uma consultoria interna sobre certificação em pecuária orgânica para os colaboradores da fazenda. A ação da ABPO ocorre por meio de parceria com o Sebrae de Mato Grosso do Sul.

O pesquisador da Unidade, André Moraes, acompanhou toda a visita e coordenará o processo de adequação da fazenda para certificação.

Para ser certificada pelo Instituto Biodinâmico – IBD, entidade parceira da ABPO e de referência em certificação orgânica no país, a fazenda Nhumirim terá de seguir rígidos padrões de criação e manejo de gado, com normas que regulamentam desde o desenvolvimento do pasto ao tipo de alimentação e medicamento dispensados ao rebanho.

Tudo tem de ser feito sem a utilização de produtos químicos nas pastagens e no gado, e com a menor aplicação possível de medicação alopática, preocupando-se com o bem estar do rebanho e com a conservação do meio ambiente.

Vistoria

Durante a visita, o consultor da ABPO percorreu diversas áreas da fazenda, numa espécie de simulação do que o auditor do IBD fará no dia da primeira visita, circulando nos locais de criação e levantando as possíveis necessidades de adequações e não conformidades. Rondon emitirá um relatório da visita para a Embrapa Pantanal contendo um plano de trabalho para adequação e preparação para visita do auditor do IBD, que deve acontecer em cerca de 30 dias.

Na opinião do consultor, a Nhumirim tem, como diversas propriedades pantaneiras, uma afinidade histórica e natural com a pecuária orgânica. "As propriedades do Pantanal tem uma vocação natural para esse tipo de criação, e a Nhumirim não é diferente. O que há a fazer são pequenas adequações, melhorias na área de registros de rotinas de campo, acondicionamento e entrada e saída de alimentos, insumos e medicamentos", afirma. "O cenário é positivo e o Pantanal já está inserido na cadeia produtiva orgânica. Animais  vêm sendo abatidos com certificado orgânico há mais de quatro anos", complementa.

Rondon explica que o principal objetivo da pecuária orgânica é a obtenção de um produto com maior valor agregado, atendendo às demandas atuais de um mercado internacional preocupado com o meio ambiente e a segurança alimentar.

"A produção orgânica pode levar a um animal menos precoce, mais tardio para atingir padrões de cortes e dimensões exigidas pelo mercado. Mas em compensação o alimento tem uma maior garantia de qualidade diferenciada, voltada para a grande tendência no mercado mundial que é a segurança alimentar. Em países desenvolvidos hoje é lei que alimentação infantil contenha porcentagens de produtos orgânicos", argumenta o veterinário, reforçando que o animal orgânico abatido vale entre R$ 80 e 100 a mais que o convencional.

Certificação

Os administradores da fazenda a ABPO trabalham juntos para montar o plano de trabalho para estabelecer as prioridades e as demandas mais longas de adequações e implementações. Após a inspeção pelo auditor do IBD, inicia-se um processo de 12 meses para conversão e adequação da propriedade às normas. "O processo é cíclico e anual, e a fazenda tem de manter melhorias contínuas nos seus processos produtivos para manter a certificação nos anos seguintes", explica Rondon.

O auditor do IBD irá inspecionar as práticas ligadas ao manejo, sanidade e alimentação do gado, além de rotinas de gerenciamento da fazenda e do acondicionamento e registro de estoques de alimentos, insumos e medicamentos. O IBD faz, ainda, inspeções regulares nos produtos finais para manter ou revogar certificações.

Entre as principais exigências estão o uso de medicação alopática e fitoterápica prioritariamente, utilização de sementes orgânicas na pastagem e sal livre de uréia, além de cuidados no manejo – descarte de resíduos, qualidade da água e pastagem. "Para o animal ser abatido com certificação de orgânico, deve ter sido criado em sistema orgânico. Os períodos de quarentena são mais longos, e se ele receber mais de dois tratamentos alopáticos na vida é desqualificado", explica Rondon.

Ele informa que no Mato Grosso do Sul, onde é sediada a ABPO, existem 20 fazendas associadas, com 16 já auditadas pelo IBD, das quais dez já foram certificadas e seis se encontram em período de conversão.

Segundo o consultor, existem diversos níveis de certificação no Brasil e no mundo O nível LB (Legislação Brasileira) é o mais elementar e certifica rebanhos para comercialização apenas no mercado interno. BR é o nível que segue padrões brasileiros mais rígidos, e é aceito em outros países em desenvolvimento. O padrão EU garante um produto certificado para comercialização na União Européia e há ainda o nível de certificação que atende às demandas do mercado do Estados Unidos. Rondon recomenda que as propriedades iniciem pelo padrão mais básico, o LB, e se desenvolvam gradativamente.

Resultados

A ABPO reforça que os benefícios da pecuária orgânica são amplos e diversificados, abrangendo a qualidade e o valor do produto final, o bem estar do rebanho, a conservação do meio ambiente, a melhoria dos processos na administração das propriedades e a responsabilidade social dos criadores e das comunidades.

"Ocorrem melhoras em todos os aspectos da fazenda e benefícios para todos, pois existem ainda exigências sociais que devem ser seguidas, como formalização dos empregados das fazendas e oferta de educação e moradia digna para as famílias deles", argumenta o veterinário.

Hidelberto Petzold é assistente de pesquisa da fazenda Nhumirim e lida com o gado e os cavalos no campo. Para ele, o processo de certificação vai demandar um trabalho grande inicial de adequação de algumas práticas. "Mas quando todos os processos virarem rotina, tudo ficará mais fácil e a fazenda terá mais valor agregado", acredita.

O pesquisador André Moraes acredita que a certificação da fazenda é muito importante para não apenas para agregar valor ao produto, mas também para qualificar a pesquisa científica, principal foco da Embrapa. "Teremos um campo de pesquisa já certificado para pecuária orgânica, para validar ainda mais nossas ações e mostrar cientificamente que o processo é viável, com melhora de produtividade sem a necessidade de destruir o Pantanal", defende.

Saulo Coelho Nunes ( DRT/SE - 1065)

Embrapa Pantanal, Corumbá (MS)

Contatos:(67) 3234-5800 –ramal 5807

saulocoelho@cpap.embrapa.br

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