A troca de experiências entre produtores rurais da região do Sertão dos Inhamuns, no Ceará, foi um dos destaques no Dia de Campo sobre Gestão de Sistemas Produtivos do Semiárido, que a Embrapa Caprinos e Ovinos realizou nesta quinta-feira (14), em Tauá (CE), em parceria com a prefeitura local. Cada uma das estações contou com a presença de agricultores do município, que expuseram suas experiências em gestão da propriedade, controle de verminose em pequenos ruminantes, manejo reprodutivo e planejamento alimentar, a partir das ações de projeto de pesquisa da Embrapa, voltado para caracterização de sistemas de produção de carne caprina e ovina. Esse intercâmbio de experiências atraiu 153 participantes, entre agricultores, técnicos e estudantes, inclusive de outras regiões do Estado, como o agricultor Rivaldo Silva, de Campos Sales, no Cariri cearense. “Isso aqui foi uma escola de aprendizagem, pois as tecnologias estão aí e temos que estar atualizados, para buscar uma melhor produção para nossos animais”, afirmou ele, que é criador de caprinos e ovinos, além de trabalhar com apicultura, plantio de milho e feijão. Aspectos como a organização e planejamento na gestão da propriedade chamaram atenção da estudante Beatriz Melo, do curso de técnico em Agropecuária da escola profissionalizante Monsenhor Odorico de Andrade, de Tauá (CE). “Vi que isso é essencial para o combate à verminose, para não perdermos animais, mas também é importante uma organização em termos reprodutivos, alimentares, da propriedade. É isso que quero levar para meu futuro trabalho como extensionista, que é o que desejo”, ressaltou ela. No evento, a equipe da Embrapa apresentou tecnologias como o aplicativo do Orçamento Forrageiro para celulares e tablets. Lançado em 2017, ele possibilita, com a inserção de dados sobre área de plantio de forrageiras, fontes de alimento na propriedade e rebanhos, simular realidades sobre a reserva de alimento na propriedade rural. “Pudemos socializar o aplicativo e desafiar os participantes a simularem as condições reais de suas propriedades. Esperamos ter mais downloads e, principalmente, mais gente usando esta ferramenta para gestão e sustentabilidade de sistemas pecuários no semiárido”, avaliou a pesquisadora Ana Clara Cavalcante, da Embrapa Caprinos e Ovinos. Outra solução tecnológica apresentada foi o controle integrado de verminose para caprinos e ovinos, que integra ações como uso do cartão Famacha (que permite identificar animais que necessitam de vermifugação, por meio de exame da mucosa ocular), testes de eficácia de vermífugos e manejo de pastagens para redução da contaminação. A ideia é evitar o uso indiscriminado de medicamentos, que podem causar o aumento da resistência dos parasitas. No Dia de Campo, foram apresentados dados da Fazenda Cajazeiras, em Tauá. A partir da adoção do controle integrado, não houve morte de animais por verminose em 2016 e 2017, além da redução da quantidade de doses de vermífugo aplicadas desde 2015. “Nem acreditava que funcionaria, mas foi uma experiência muito boa, de muito aprendizado. Dá trabalho, mas vale a pena”, definiu Pedro Júlio Almeida, produtor da Fazenda Cajazeiras. “Foi interessante ver os dados, pois muitos acham que é só aplicar vermífugo, quando o certo é fazer este acompanhamento e aplicar somente nos animais que precisam”, afirmou José Marcos Lima, técnico da ONG Cactus, que atua junto ao projeto Paulo Freire (parceria do Governo do Ceará e FIDA) na região do Cariri cearense. Manejo e acompanhamento Outra experiência de propriedade rural apresentada no Dia de Campo foi a do Sítio Renovo. Com a adoção de um manejo mais adequado para reprodução, que inclui seleção de animais, controle zootécnico e cuidados com as matrizes, a propriedade registrou um aumento percentual de fêmeas prenhes de 57,37% para 81,38% oito meses depois. “É importante lembrar que é necessário ter planejamento alimentar para este aumento de crias, se não geraria um problema”, alertou o médico veterinário Alexandre Monteiro, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos, que acompanhou o manejo na propriedade. “Fizemos estes ajustes e está dando certo. A cada dia podemos inovar mais e levar alimento melhor para o consumidor”, frisou Daniel Nascimento, produtor do Sítio. Para a pesquisadora Lisiane Lima, que coordena o projeto de caracterização dos sistemas de produção, o Dia de Campo foi produtivo para a apresentação de dados sobre as propriedades que funcionam como Unidades de Referência Tecnológicas (URTs) na região dos Inhamuns. No evento, ela apresentou indicadores de gestão da propriedade rural, destacando a necessidade de acompanhamento de dados sobre índices zootécnicos e custos de produção. “Foi um bom momento para divulgar dados a participantes como extensionistas, alunos de escolas profissionalizantes, agentes de projetos como o Paulo Freire. Continuaremos com este acompanhamento e, em 2019, deveremos divulgar os dados relativos a este ano”, afirmou ela.