15/07/15 |   Comunicação

Artigo - Democratizar o conhecimento científico

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Por Adriana Brondani*

Publicada em janeiro de 2015, uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Departamento de Economia Agrícola da Universidade Estadual de Oklahoma, nos EUA, constatou que 82% dos entrevistados eram a favor da rotulagem de alimentos obtidos por meio de engenharia genética. Nos Estados Unidos, não é mandatório disponibilizar essa informação nos rótulos e essa questão gera debates acalorados. Já no Brasil, um decreto de 2003 determina que todos os alimentos ou ingredientes com presença de organismos geneticamente modificados (OGM) – acima de 1% na composição final do produto – devem ser rotulados.

Novas tecnologias podem gerar desconfiança, especialmente aquelas que quebram paradigmas, como é o caso da biotecnologia. No caso dos transgênicos, como se trata de uma inovação que resulta em alimento, o receio pode ser ainda maior. Entretanto, essa preocupação, de fato, corresponde a um perigo real? O mesmo estudo pode nos ajudar a refletir sobre esse questionamento. De acordo com ele, 80% das pessoas também apoiam que todos os alimentos que contenham DNA sejam devidamente rotulados. Ora, praticamente tudo o que comemos, sejam verduras, legumes, frutas, ou mesmo carnes, in natura ou processadas, contém DNA. Além disso, a presença da "molécula da vida" nos alimentos não tem nenhuma relação com a transgenia. Muito antes do advento dos alimentos geneticamente modificados (GM), o ser humano sempre ingeriu plantas e, nem por isso, seu próprio DNA se misturou ao dos vegetais, por exemplo.

O percentual do público que concorda com a rotulagem de transgênicos é praticamente igual ao que apoia que o mesmo procedimento seja feito com alimentos que contenham DNA. Esse é um indício de que grande parte da população não sabe o que são os OGM. Mais do que isso, sugere que o público também não está completamente a par de que todos os seres vivos contêm DNA e que se alimentar dele não é motivo de temor, tampouco de rotulagem. Embora só tenhamos descoberto a existência dessa molécula no século passado, ela não é uma criação do homem. Essa constatação denuncia um desafio: a necessidade de comunicar temas científicos de maneira transparente e com linguagem acessível, visando a contribuir para que a sociedade possa estar mais informada ao tomar decisões.

Outro trabalho publicado em janeiro de 2015 pela revista Science, com dados coletados pelo Pew Research Center, revela que há muito trabalho a ser feito. A pesquisa mostrou a diferença entre a opinião da comunidade acadêmica e da população em geral a respeito de alguns temas.

Especificamente sobre alimentos transgênicos, 88% dos cientistas entendem que eles são seguros, enquanto entre leigos esse índice é de apenas 37%. Assumindo que o acesso e a apreensão do conhecimento são algumas das razões para essa discrepância, a quem caberia a responsabilidade de democratizar tais informações?

A resposta certamente envolve vários atores, mas é necessário destacar o papel fundamental que os formadores de opinião, a exemplo da imprensa, desempenham.

As pesquisas alertam para os obstáculos existentes na comunicação de temas complexos. Entretanto, também revelam que, por meio das trocas mediadas por facilitadores e formadores de opinião, é possível e urgente democratizar a informação sobre o avanço tecnológico.

*Adriana Brondani, doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
é diretora-executiva e porta-voz do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

Campos de atuação:
Bioquímica, Biologia Molecular, Comunicação Científica.

Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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