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Embrapa Agroenergia discute, na Câmara dos Deputados, a utilização do hidrogênio sustentável

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Foto: Divulgação

Divulgação - Audiência pública sobre hidrogênio sustentável

Audiência pública sobre hidrogênio sustentável

Na tarde desta quinta-feira (11/5), a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) da Câmara dos Deputados, em Brasília-DF, realizou uma audiência pública para discutir o potencial da utilização do hidrogênio sustentável na indústria brasileira. Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, representou a presidente da Embrapa, Sílvia Massruhá. O debate foi solicitado pela deputada Renata Abreu (Podemos/SP) e conduzido pelo deputado Bruno Ganem (Podemos/SP).

"Embora a matriz energética brasileira seja majoritariamente proveniente de fontes renováveis (61,8% de hidrelétricas), ainda há muito a ser explorado para que diferentes setores se tornem mais sustentáveis. Uma das soluções que tem ganhado força nos últimos anos é a adoção do hidrogênio sustentável", disse Renata Abreu em seu requerimento.

Na audiência, Alexandre Alonso afirmou que para falar de hidrogênio sustentável, ou hidrogênio verde, obrigatoriamente tem-se que falar de transição energética e de descarbonização. “Vivemos um momento em que vários países, incluindo o Brasil, buscam promover essa transição energética. É um momento de substituição de combustíveis fósseis em combustíveis de origem renováveis, ou biocombustíveis. O Brasil já tem uma posição de destaque nessa agenda, pois o país conseguiu implementar nas últimas décadas um robusto programa de biocombustíveis. O hidrogênio sustentável surge como um potente vetor para promover essas duas transições”, disse Alonso.

Para Camila Ramos, vice-presidente de Investimentos e Hidrogênio Verde, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), “apesar de o hidrogênio renovável ser um produto relativamente novo, o hidrogênio de fonte fóssil já é produzido e consumido no Brasil em larga escala há décadas. No mundo, foram consumidos mais de 100 milhões de toneladas de hidrogênio em 2020.”

Segundo Camila, o ritmo do crescimento da produção do hidrogênio renovável no Brasil dependerá do ritmo de substituição do atual consumo de hidrogênio de fonte fóssil, da adoção por novos setores e da demanda pelo mercado externo. “As oportunidades são grandes, diversas e estratégicas”, afirmou a vice-presidente.

Em relação ao tema, Alonso também apontou que a demanda por hidrogênio sustentável é muito grande. Segundo ele, algumas estimativas apontam que são da ordem de 100 milhões de toneladas e, por conta desse volume, há a possibilidade de gerar uma receita para o país de maneira bastante expressiva.

“Alguns estudos estimam que podemos gerar até R$ 250 bilhões até 2050, por meio do hidrogênio. Se pegarmos hidrogênio a partir de gases naturais, temos uma estimativa de que emitimos entre 10 e 17 quilos de CO2 para cada quilo de hidrogênio”, enfatizou Alonso.

 

Indústria

De acordo com Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria brasileira consome muita energia, mas tem baixa emissão de carbono. “Ou seja, somos bastante competitivos quando comparados com outros países, tanto em desenvolvimento quanto países desenvolvidos”, afirmou. Como diferencial comparativo para o Brasil, Bomtempo citou a matriz elétrica limpa (84,8% de fontes renováveis), a baixa intensidade de carbono da indústria, a segunda maior produção mundial de biocombustíveis, a maior diversidade do planeta, a ampla cobertura florestal (58% do território nacional) e a maior disponibilidade hídrica do mundo.

“A grande questão é como transformar essas vantagens que o Brasil tem em termos de competitividade”, disse Bomtempo, acrescentando que é preciso avançar em termos de regulação. “Investimentos vêm sendo alocados em vários países do mundo e a concorrência é grande. Precisamos acelerar o quanto antes em termos de regulação, tanto dentro do Congresso como no Executivo, para que o empresário brasileiro possa operar com segurança jurídica, com clareza e possa desenvolver seu trabalho com tranquilidade.”

 

Hidrogênio verde-musgo

O hidrogênio pode ser obtido de variadas fontes. Convencionou-se usar cores para definir sua procedência. O hidrogênio cinza ou marrom, vem da queima de combustíveis fósseis, o hidrogênio azul é obtido por captura de carbono; e o hidrogênio verde ou sustentável é gerado por fontes renováveis. Apontando para a ligação entre hidrogênio verde e a agricultura, Alexandre Alonso explicou que, dentre um arco-íris de cores, existe o verde-musgo, que é o hidrogênio produzido a partir de biomassa e de biocombustíveis.

“Esse hidrogênio produzido a partir da biomassa faz uma ponte muito interessante com a agricultura nacional. A agricultura é um dos pilares da nossa bioeconomia. O país optou por fazer uma agricultura movida à ciência e conseguimos hoje produzir alimentos, fibras e bioenergia com sustentabilidade. E a biotecnologia vai permitir que a gente produza múltiplos outros bioprodutos”, disse Alonso, lembrando que a agricultura pode ser um vetor importante para a produção de hidrogênio, utilizando matérias-primas como a biomassa, o etanol e resíduos agrícolas.

De acordo com o chefe-geral, frente àquela demanda enorme, há espaço para diversos tipos de hidrogênio. Alonso acredita que pode-se ter uma produção muito robusta de hidrogênio a partir da eletrólise da água, energia solar e eólica e também a partir da biomassa.

“Com uma série de vantagens para a biomassa, pois temos disponibilidade de matéria-prima, temos uma estrutura já instalada, por exemplo, para a distribuição de etanol, e podemos conectar isso com uma agenda de mercado de carbono”, afirmou, citando que o Renovabio, que é a política nacional de biocombustíveis, já traz um papel que é comercializado na Bolsa de Valores, o CBio. Para cada tonelada de CO2 que deixa de ser emitida na atmosfera pela utilização de um biocombustível se emite esse CBio, que é comercializável. “É um papel que tem valor, que gera renda e gera crédito”, explicou.

Em relação à indústria, Alonso destacou a questão dos fertilizantes, posto que o Brasil hoje importa mais de 85% do produto para a sua agricultura. “Quando pensamos nesses processos para a produção de hidrogênio, há uma oportunidade gigantesca de produzirmos amônia verde e fertilizante nitrogenado. A demanda de hidrogênio para produzir a amônia está estimada em 450 mil toneladas de hidrogênio. O que é uma enormidade para suprir a indústria”, disse o gestor.

Segundo ele, a demanda principal de fertilizantes é para a agricultura, mas ao utilizar a própria agricultura para se gerar o hidrogênio, a amônia e posteriormente o fertilizante, há um modelo de economia circular muito robusto, que diminuiria a dependência de importações. “Considero que na discussão do Plano Nacional de Fertilizantes esse seria um ponto a ser destacado. Como essa nascente indústria do hidrogênio sustentável pode ter uma contribuição fabulosa para a parte de fertilizantes”, disse.

O chefe-geral da Embrapa Agroenergia ainda lembrou que o desenvolvimento desses tipos de soluções requer um investimento maciço em ciência, tecnologia, inovação e em pessoas. A fala foi corroborada pelo membro do Comitê de Relações Institucionais e Governamentais do Conselho Federal de Química (CFQ), Alexandre Vaz Castro.

“Um dos pilares são os recursos humanos. Precisamos produzir pessoas com condições, competência e capacidade para desenvolver e evoluir nessa pauta. NO CFQ, nossa intenção é cada vez mais trabalhar para produzir recursos humanos que possam colocar essa pauta para frente”, disse Castro.

Para encerrar, Alonso ainda ressaltou o histórico da Embrapa no desenvolvimento de novas tecnologias para a parte dos biocombustíveis e do etanol. “Outro papel relevante que a Embrapa tem é de ser um porto seguro para que os formuladores de políticas públicas possam buscar informações técnicas e científicas de qualidade”, concluiu.

Também participaram do debate Mariana Espécie, diretora do Departamento de Transição Energética, do Ministério das Minas e Energia (MME), Rafael Menezes, coordenador-geral de Tecnologias Setoriais, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),  Aislan Renato Balza, gerente de Fiscalização, do Conselho Regional de Química (CRQ/SP), e Paulo Emílio Valadão de Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2).

Veja a íntegra da Audiência Pública aqui.

Márcia Cristina de Faria (MTb 24056/SP)
Embrapa Agroenergia

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