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Embrapa Territorial: um centro de pesquisa dedicado ao estudo da dinâmica da agropecuária brasileira

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Criada em 1989, com sede em Campinas, SP, a Embrapa Territorial surgiu por uma demanda da Presidência da República, para atuar no monitoramento do território brasileiro, particularmente nas questões relacionadas à agricultura e ao meio ambiente. “Existia uma carência de subsídios para tomada de decisão com base na ciência de dados e nas geotecnologias, combinando dados tabulares e orbitais”, diz o atual chefe-geral do centro de pesquisa, Gustavo Spadotti, analisando o contexto da época. 

“Em 1989, o Brasil ainda era um grande importador de alimentos. Então, era preciso estabelecer uma política de aumento da produção agropecuária, com direcionamento de estratégias para o aumento da competitividade dos produtores rurais. E, para isso, era imprescindível descortinar nosso mundo rural, conhecendo os cultivos existentes e também a aptidão agrícola de cada território, para identificar onde se poderia produzir mais e melhor”, complementa Spadotti. Com esse objetivo, o centro de pesquisa utilizava intensamente imagens de satélite e os métodos de sensoriamento remoto em ascensão naquele momento.

A Embrapa já vinha trabalhando com essas tecnologias, com laboratórios instalados, primeiramente, na Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), e, depois, na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP). Com a criação do novo centro de pesquisa, inicialmente chamado de Núcleo de Monitoramento Ambiental e de Recursos Naturais por Satélite (NMA), a área de atuação se consolidou. No ano 2000, ele passou a se chamar Embrapa Monitoramento por Satélite e, em 2017, juntou-se a outras duas estruturas da Empresa, a Embrapa Gestão Territorial e o Grupo de Inteligência Territorial Estratégica, para transformar-se na Embrapa Territorial.

O Monitoramento Ambiental da Amazônia e o Zoneamento Agroecológico do novo estado do Tocantins foram os primeiros trabalhos. A instituição também assumiu o acompanhamento de um grupo de agricultores pioneiros em Machadinho do Oeste, RO, iniciado em 1986 pelo laboratório de Jaguariúna. Ainda em 1989, uma equipe foi a Rondônia para fazer mais um levantamento de indicadores de sustentabilidade e caracterização do perfil socioeconômico de 400 pequenos produtores que, de assentados da reforma agrária, foram fundadores do município

Monitoramento de Queimadas

Em 1991, o então NMA começou um trabalho que se estendeu por 19 anos, o Monitoramento Orbital de Queimadas de todo o território nacional, com base em dados de satélite recebidos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Estes eram analisados diariamente, de junho a novembro, período do ano em que a ocorrência do problema é mais frequente. As informações geradas eram disponibilizadas em um site, onde o usuário conseguia produzir mapas, selecionando a abrangência geográfica, periodicidade e forma para a espacialização dos focos de calor. 

O pesquisador José Roberto Miranda, chefe-geral do centro de pesquisa de 1993 e 2001, conta que o trabalho, realizado sistematicamente ano após ano, permitiu identificar os municípios em que as queimadas eram mais frequentes e compreender melhor o problema. “Nós descobrimos que havia um padrão na dinâmica espaço-temporal das queimadas”, conta. Os pontos de calor eram identificados com dados dos satélites NOAA. A análise delas passou a ser combinada com a interpretação com as imagens dos satélites Landsat, de maior resolução espacial, para identificar também o uso e ocupação das terras nas regiões em que o problema era mais frequente. 

Miranda conta que foi formada uma rede com órgão estaduais de pesquisa e de assistência técnica para identificar as causas das queimadas e levar aos agricultores alternativas tecnológicas ao uso do fogo. Para dar suporte às ações, a Embrapa publicou o livro “Alternativas para a prática das queimadas na agricultura”.

Com a expertise desenvolvida no tema, o NMA atuou em programas e ações de combate a queimadas e incêndios em diferentes locais. Em 1998, um grupo chegou a ser deslocado para Roraima, onde instalou um sistema completo de recepção, tratamento e interpretação de imagens dos satélites NOAA, em colaboração com as Forças Armadas, para direcionar as ações de controle e combate aos incêndios que acometiam fortemente o estado naquele ano. 

Protagonismo

O centro de pesquisa foi uma das primeiras instituições fora do circuito universitário a ter conexão com a internet, ainda no início dos anos 1990. Assim como o Monitoramento Orbital de Queimadas, vários outros trabalhos tiveram seus resultados publicados na rede de computadores. No final do ano 2000, quando ainda não havia ferramentas como o Google Earth e o Google Maps, a instituição levou para a internet imagens do “Brasil visto do espaço” (acesse pelo Firefox). 

Até então, apenas instituições com equipamentos muito robustos conseguiam acessar os arquivos gigantes das imagens de satélite. A equipe da Embrapa Territorial combinou técnicas de compressão de arquivos, softwares de domínio público e programas desenvolvidos especialmente para isso, para reduzir os arquivos das imagens de modo que pudessem ser visualizadas em navegadores de internet. Uma versão com as imagens menos comprimidas foi comercializada em uma coleção de CDs, um para cada estado do Brasil. O atual chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, lembra como o produto era inovador: “Acessar imagens de satélite, hoje, é trivial. Mas, na época, foi um recurso importante para algumas prefeituras, por exemplo, terem, pela primeira vez, uma visão espacial dos municípios que administravam”. Mais tarde, esse produto deu origem a um segundo, o “Brasil em Relevo”, gerado a partir de dados obtidos pelo ônibus espacial Endeavour, da Nasa.

Monitoramento da Agricultura

Em 2012, o centro de pesquisa lançou o Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura no Brasil (SOMABRASIL). Desenvolvido com o apoio da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), o WebGIS foi criado para prover o Ministério da Agricultura com informações para a elaboração e direcionamento de políticas públicas, linhas de crédito e tomadas de decisão para o setor. A ferramenta permitia o cruzamento de planos de informação de recursos naturais, agricultura e dados censitários, e a construção de mapas de acordo com cada interesse. 

Inteligência Territorial

O centro desenvolveu instrumentos que possibilitam a identificação e a caracterização de diferentes territórios. São os Sistemas de Inteligência Territorial Estratégicas (SITEs), que analisam os dados em cinco quadros: agrário, agrícola, natural, de infraestrutura e socioeconômico. São elaborados de acordo com a demanda de usuários, do setor público e do setor privado, e podem apoiar políticas públicas para o desenvolvimento territorial sustentável e prover o setor privado de análises, diagnósticos, tendências e cenários para a agropecuária. Permitem diferentes recortes territoriais: por país, região, biomas, microrregiões ou municípios.

Foi com a lógica dos SITEs que o centro de pesquisa elaborou o estudo que embasou a delimitação de uma das principais áreas de expansão agropecuária do Brasil, o Matopiba. Em tal estudo, foi aplicada uma série de procedimentos numéricos e cartográficos, apoiados no uso de imagens de satélites, para integrar e conjugar simultaneamente na análise territorial dados agroecológicos e socioeconômicos. Também com esse conceito foram desenvolvidos o SITEs da Macrologística Agropecuária Brasileira, da Aquicultura e o do Bioma Caatinga.

Desafios futuros

Novos desafios surgem no horizonte da Embrapa Territorial. Para a chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento, Lucíola Magalhães, a era em que vivemos é caracterizada por constantes evoluções das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), o que impõe a necessidade de acompanhar as rápidas atualizações do mercado e de valer-se de novas ferramentas e conhecimentos para manter a qualidade, agilidade e assertividade na geração dos resultados.

Outros desafios apontados pela gestora são o processamento de imagens de satélite, óticas e imagens de radar para mapeamento de alvos de interesse da agropecuária brasileira e a ampliação da capacidade de processamento de grandes massas de dados. “Hoje existe um grande volume de dados públicos e privados de onde podemos extrair informações estratégicas para os nossos parceiros. [Então, nos próximos anos], será necessário ampliarmos nossa capacidade de processar esse turbilhão de dados para que consigamos gerar informações relevantes e rápidas, especialmente, para o setor público, que é o nosso grande demandante”, disse.  

Ainda que novas instituições surjam com atuações similares, a gestora mostra-se confiante na continuidade do protagonismo e do reconhecimento da qualidade dos trabalhos da Embrapa Territorial. “Possuímos um caráter de entender, modelar um problema, e de entregarmos soluções rápidas para o setor privado ou público. É um centro com uma equipe multidisciplinar que entende muito bem o território”, afirma.

Alan Rodrigues (MTb 2625 JP/CE)
Embrapa Territorial

Contatos para a imprensa

Vivian Chies (MTb 42.643/SP)
Embrapa Territorial

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Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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