07/07/23 |   Melhoramento genético  Transferência de Tecnologia  Agricultura de Baixo Carbono  Manejo de Recursos Hídricos  Zoneamentos

Alunos da Academia de Liderança da Aprosoja-MT conhecem tecnologias da Embrapa Cerrados

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Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Produtores conheceram tecnologias para a agricultura sustentável desenvolvidas pela Unidade

Produtores conheceram tecnologias para a agricultura sustentável desenvolvidas pela Unidade

Um grupo de 40 produtores rurais mato-grossenses esteve na Embrapa Cerrados no dia 4 de julho para conhecer algumas das principais tecnologias desenvolvidas pelo centro de pesquisa. Eles fazem parte da Academia de Liderança, projeto de capacitação da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) que busca formar líderes da entidade. A visita à Unidade integra um dos módulos do projeto, que contempla interações com instituições técnicas e governamentais, além de conteúdos sobre autoconhecimento, comunicação, logística e finanças.

Os produtores estavam acompanhados pelo produtor associado Edeon Ferreira, egresso da Embrapa. “Estamos investindo na formação de líderes que amanhã serão diretores, delegados, delegados-coordenadores, o que é fundamental para darmos continuidade à Aprosoja-MT. Viemos à Embrapa Cerrados pelo volume e pela qualidade das informações que vocês têm aqui. É uma oportunidade para fazer perguntas e tirar dúvidas com os melhores especialistas que nós temos no Cerrado em várias áreas”, disse.

Os visitantes foram recepcionados pelo chefe-geral Sebastião Pedro, que apresentou alguns setores, colegas e parte das instalações do centro de pesquisa. “Queremos estar perto dos produtores para dialogar e ouvir as principais dificuldades e problemas enfrentados na produção agropecuária. Nossa missão é gerar soluções tecnológicas que resolvam os problemas que vocês vivenciam na fazenda”, afirmou.

Ele fez a apresentação institucional da Embrapa Cerrados, comentando sobre a infraestrutura e o corpo funcional da Unidade, a região de atuação e a política de inovação, baseada no Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação de 2016. O chefe-geral destacou os papéis dos três ambientes promotores de inovação que integram a Coordenadoria de Suporte à Inovação da Unidade – Centro de Desempenho Animal, o Centro de Tecnologias para Raças Zebuínas Leiteiras e o Centro de Inovação em Genética Vegetal –, bem como o foco na sustentabilidade econômica, social e ambiental e na competitividade da agenda de P&D do centro.

Sebastião Pedro apontou algumas das principais linhas de pesquisa da Embrapa Cerrados, como conservação do solo e da água, bioinsumos agrícolas, remineralizadores de solos e os sistemas de produção sustentáveis. As pesquisas já geraram mais de 500 ativos tecnológicos. Ele também apresentou números sobre a evolução da produção científica e da carteira de projetos de pesquisa da Unidade.

Outro ponto destacado foi o recente foco da Unidade em projetos de desenvolvimento sustentável territorial baseado em agroinovação, envolvendo estratégias de novos negócios para inovação e ambientes promotores de inovação. Ele citou iniciativas como os projetos LabAgroMinas (parceria com o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais); LabCerrado (parceria com a empresa VLI); Frente (parceria com a Rota das Frutas Ride-DF); AgroBioRede (parceria com o Grupo Associado de Agricultura Sustentável, em fase de negociação) e AvanteMax (parceria com a Aprosoja Brasil, ainda em fase de modelagem) e as principais captações de recursos externos envolvendo essas e outras parcerias.

Algumas tecnologias recentes foram destacadas por Sebastião Pedro, como a Bioanálise de Solo (BioAS), que avalia a saúde do solo a partir de parâmetros biológicos (atividade de duas enzimas do solo) e aponta recomendações de manejo. Ele também destacou que a Unidade foi a que obteve a melhor avaliação de desempenho entre os 43 centros de pesquisa da Embrapa em 2021, ficando novamente entre as unidades com maior desempenho institucional em 2022.

O chefe geral propôs uma reflexão: “Somos os maiores produtores de soja do mundo, mas também os maiores importadores de fertilizantes, de moléculas de defensivos e de eventos de transgenia. Isso tira a segurança da atividade agrícola no Brasil porque existe uma dependência tecnológica. O preço do insumo sobe, e se o preço do produto de vocês não subir também, a margem encolhe e vocês ficam em risco. E ficar em risco ou com saldo negativo, em uma economia com alta taxa de juros, pode destruir um patrimônio construído ao longo de décadas”, alertou. 

Diante desse risco, Sebastião Pedro atentou os produtores para que tenham a Embrapa como solução. “Não vendemos adubo, nem moléculas. Desenvolvemos formas de trabalhar que podem ser mais eficientes, retirar um pouco da dependência e dar mais segurança ao negócio do produtor. A solução tecnológica de verdade é construída da nossa relação com vocês”, afirmou. “Aqui é o lugar aonde os produtores devem vir para buscar soluções tecnológicas para seus problemas. Procurem esta Empresa, que em matéria de tecnologia agropecuária é respeitada no mundo inteiro”, completou.

Melhoramento de soja 

O chefe geral também apresentou informações sobre o trabalho de melhoramento de soja na Embrapa Cerrados cuja missão é desenvolver cultivares de soja para o centro norte do Brasil. Segundo ele, o programa de melhoramento busca selecionar cultivares de soja superiores em produtividade, estabilidade, diferentes ciclos, resistência a doenças, aos nematoides e tolerância ao estresse hídrico. 

“Desde que domesticamos a soja no Cerrado surgem novas doenças que conseguimos vencer com melhoramento genético”, enfatizou. Segundo ele, combater a ferrugem asiática é prioridade nos estudos, pois ela apresenta elevado potencial de impacto (80%) e ocorre todos os anos, com maior ou menor severidade. 

Ele ressaltou, no entanto, que mais do que produtividade, o que se busca por meio dos estudos é a estabilidade – característica genética do material, assim como a produtividade. “A estabilidade depende muito de tolerância ao estresse hídrico, hoje a principal limitação de produtividade no Cerrado. Os dias sem chuva é que governam a produtividade final”, afirmou. 

De acordo com o gestor e pesquisador, quando a Embrapa seleciona uma variedade de soja, o que ela busca é aquela que proporciona uma maior margem econômica para o produtor, não necessariamente a que produza mais. “Materiais que tenham resistências e tolerâncias importantes são mais estáveis. Eles ajudam a reduzir o uso de defensivos e, assim, diminuem os custos ao longo do ciclo da cultura”, finalizou. 

Zarc

Os alunos da Academia de Liderança da Aprosoja-MT também assistiram a palestras dos pesquisadores Fernando Macena, Lineu Rodrigues, Éder Martins e Kleberson de Souza. 

Macena abordou o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), ferramenta para mitigação das perdas com eventos adversos e incontroláveis do clima como chuvas na colheita, geadas, déficit e excesso hídrico sobre as culturas agrícolas que se tornou uma política agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), sendo atualmente balizadora do seguro agrícola e do crédito agrícola concedidos por instituições públicas e por algumas instituições privadas. 

Com base no balanço hídrico da cultura, que contempla variáveis de solo, planta e clima, o Zarc indica, por decêndios (períodos de 10 dias), as datas com os menores riscos climáticos para o plantio por município, tipo de solo e ciclo fenológico da cultura. Os dados gerados pela pesquisa são validados com a participação de representantes do setor produtivo das diferentes regiões agrícolas brasileiras e são encaminhados ao MAPA, que publica as portarias e disponibiliza as informações do zoneamento agrícola utilizadas pelo Programa Nacional de Zoneamento Agrícola de Risco Climático, criado em 2019 para fazer a gestão do risco climático.

O uso da ferramenta, atualmente em 44 culturas agrícolas, tem representado uma economia de R$ 5,9 bilhões ao ano para a sociedade e é obrigatório no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), no Programa de Garantia da Atividade Agropecuária da Agricultura Familiar (Proagro Mais), no Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), no Garantia Safra e no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). “O objetivo do Zarc é fazer que os recursos públicos estejam menos sujeitos às adversidades climáticas, orientando e gerando segurança para o financiador e o produtor, que é o tomador do crédito”, explicou Macena. 

O pesquisador detalhou a metodologia do Zarc e apresentou informações técnicas sobre o uso da ferramenta na cultura da soja. Ele informou uma novidade na categorização do tipo de solo. Até 2022, o Zarc considerava apenas três tipos de solo – 1 (arenoso), que armazena pouca água; 2 (médio) e 3 (argiloso), que armazena mais água. “A gama de solos do Brasil é enorme. Podemos estar pecando ao dizer que um solo é arenoso ou médio sem que ele seja, superestimando ou subestimando o solo com apenas esses três tipos”, disse.

A partir deste ano, o Zarc para a soja passou a contemplar seis tipos de solo (AD1 a AD6) que indicam a crescente capacidade de água disponível em função da textura do solo, que é calculada pelo percentual de areia, de silte e de argila. “Quando o produtor fizer a análise da textura do solo e informar ao banco esses percentuais, ficará sabendo qual o tipo de solo e quanta água ele é capaz de armazenar. É um novo método que traz benefícios para quem faz um manejo bem feito do solo”, comentou. Ao final, indicou o uso do aplicativo Zarc – Plantio Certo, com as indicações de datas de plantios de todos os cultivos contemplados pelo Zarc. 

Irrigação em soja

O chefe-adjunto de P&D da Unidade, Lineu Rodrigues, falou sobre a irrigação na cultura da soja. Ele ressaltou que a água é o principal fator de produção agrícola, e que a água da chuva é a melhor água disponível. “O problema é que a chuva está cada vez mais incerta”, apontou, explicando que a média de precipitações é um parâmetro estatístico complicado para a gestão dos recursos hídricos devido à grande variação de ano para ano. “O que mais temos visto aqui na região são disputas pelo uso da água”, disse, acrescentando que a diminuição das chuvas leva ao aumento da demanda por água de irrigação.

Ele apresentou dados de um estudo em área comercial que comprova ganhos de 25% de produtividade na soja irrigada em relação ao sistema de sequeiro. Outro trabalho observou o plantio de soja, de 122 dias de ciclo, por 31 safras sempre plantada na mesma data (10 de novembro), mostrando os momentos em que houve chuva e os que necessitaram de irrigação. “Sempre foi preciso alguma irrigação. Em alguns anos o produtor irrigou menos, e em outros mais porque choveu menos. Então, se você quiser produtividade máxima, terá que irrigar”, disse.

O pesquisador destacou a importância de comunicar as informações geradas pela pesquisa e diferenciar fatos de mitos sobre a agricultura irrigada, mostrando diversos artigos divulgados na mídia, publicações, a série de vídeos Agro com Ciência sobre agricultura irrigada e a plataforma Wikirriga. “Assim como é importante para os produtores conhecerem a Embrapa, é importante para nós, pesquisadores, gerar informações para comunicar com o governo, com a ciência e com a sociedade”, afirmou.

Rodrigues afirmou a necessidade de melhor a compreensão da irrigação em soja no Cerrado, com a geração de mais indicadores e informações. Nesse sentido, ele falou sobre as Unidades de Referência em Manejo de Água (URMAs) implantadas na Embrapa Cerrados, que buscam gerar coeficientes técnicos de irrigação para manejo de culturas anuais; avaliar, adaptar e desenvolver técnicas de manejo de irrigação; avaliar métodos, modelos e sensores de manejo de irrigação; e capacitar irrigantes sobre as técnicas de irrigação. 

Nas URMAs, são utilizados sistemas de irrigação por microaspersão e por gotejamento subterrâneo, com a avaliação do uso em diferentes níveis de déficits hídricos para a geração de coeficientes de manejo de irrigação. O grupo visitou uma dessas unidades, implantada em parceria com a empresa Netafim. A área experimental de dois hectares foi implantada há três meses e está na fase inicial da pesquisa. 

“Estamos conhecendo o sistema, corrigindo os erros, identificando os problemas antes de começarmos efetivamente os estudos. O primeiro plantio real será em setembro”, contou. Segundo ele, recomendações técnicas levam, em geral, ao menos três anos para serem elaboradas. “Nosso objetivo é que as novas variedades venham com uma espécie de manual de irrigação”, afirmou.

Agricultura regenerativa

O pesquisador Éder Martins apresentou aos produtores uma visão diferente que está sendo formada no campo. Se antes o modelo de desenvolvimento dos agroecossistemas levava em conta apenas aspectos químicos e físicos do solo, agora o aspecto biológico se torna cada vez mais relevante. “Começamos a perceber que tínhamos que olhar para dentro do solo. O ambiente em volta das raízes se associa aos microrganismos e presta muitos serviços para a planta. A gente estava perdendo essa informação natural”, pontuou. 

Segundo o pesquisador, se antes da revolução verde existia um sistema intensivo que produzia pouco, mas tinha alta biodiversidade do solo, com a revolução, a alta produtividade veio junto com a baixa biodiversidade do solo, o que aumentou muito os riscos de produção. “Usando a intensificação ecológica é possível aliar a alta produtividade à alta biodiversidade do solo. É onde queremos chegar”, afirmou. 

Segundo ele, as políticas públicas já começam a falar sobre essas cadeias emergentes que incluem os remineralizadores, bioinsumos e nanotecnologias e as interações entre elas. Para o especialista, é fundamental entender o tipo de solo que se tem disponível e utilizar as estratégias regionais adequadas para se obter solos mais eficientes e saudáveis e, dessa forma, aumentar a resiliência nos novos sistemas e diminuir os riscos de produção. 

Agricultura sustentável

“Ao mesmo tempo que é um desafio produzir com sustentabilidade, pode ser também uma grande oportunidade de negócio”, afirmou o pesquisador Kleberson de Souza. Ele apresentou aos produtores da Aprosoja, na área de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, dados de pesquisa que comprovam que é possível intensificar a produção, produzir alimentos e, ao mesmo tempo, melhorar os indicadores ambientais. 
Segundo ele, estudos já indicaram, por exemplo, que em sistemas integrados que utilizam gramíneas forrageiras, comparados com lavouras contínuas sem a presença das plantas de cobertura, a emissão de óxido nitroso (um dos principais gases de efeito estufa, ao lado do metano e do gás carbônico) foi até 56% menor. Os ganhos também foram identificados em relação à ciclagem de nutrientes.

Os ganhos também se estendem com relação à disponibilidade de fósforo remanescente no solo, bem como de teor de água em função de carbono no solo. “Quando se tem maior teor de matéria orgânica, temos mais água disponível no solo e mais carbono no sistema, o que o tornará mais eficiente, não só na parte de nutrientes, mas também de disponibilidade de água para as plantas. Isso vai dar uma maior segurança quando se tem os veranicos, por exemplo”. 

Segundo o pesquisador, estudos conduzidos pela Embrapa Cerrados já comprovaram que sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) implantados em apenas 15% da área de produção já são suficientes para compensar todas as emissões de gases de efeito estufa gerados pelos animais e pela pastagem, deixando um saldo positivo de carbono na fazenda. 

“Ser eficiente na questão da emissão de carbono traz uma série de ganhos para o sistema, não só do ponto de vista ambiental, mas também econômico”, ressaltou. “Não há esse antagonismo entre armazenar carbono no sistema, por meio do uso de práticas sustentáveis, e aumentar a produtividade”, enfatizou o pesquisador Roberto Guimarães. Também estavam presentes os pesquisadores Lourival Vilela e Karina Pulrolnik.

Breno Lobato (MTb 9417-MG)
Embrapa Cerrados

Juliana Caldas (MTb 4861-DF)
Embrapa Cerrados

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