10/07/23 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Dia de campo internacional mostra impactos dos projetos "Paisagens Rurais" e "Macaúba"

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Foto: Juliana Caldas

Juliana Caldas - A produtora rural Maria das Dores apresentou sua experiência com o projeto

A produtora rural Maria das Dores apresentou sua experiência com o projeto

“A palma forrageira mudou a paisagem da nossa propriedade e a nossa vida”. A declaração é da produtora rural Maria das Dores Boanerges (foto), de Campina Verde (MG). Ela e o marido Valter Freitas apresentaram a experiência de sucesso deles no projeto Paisagens Rurais no dia de campo realizado na Embrapa Cerrados (DF) dentro da programação da reunião dos Fundos de Investimento do Clima (Climate Investment Funds - CIF).

O evento reuniu representantes de diferentes países e parceiros dos CIF, além de autoridades e especialistas para comemorar quinze anos do fundo (acesse aqui para mais informações sobre a reunião). O dia de campo na Embrapa Cerrados fez parte da programação do primeiro dia.

O casal de produtores de leite de Campina Verde participou do Paisagens Rurais, um dos projetos financiados pelo CIF cujo foco é a gestão integrada da paisagem rural do bioma Cerrado. Os beneficiários do projeto são quatro mil pecuaristas do bioma que possuem algum passivo produtivo e déficit de vegetação nativa em suas propriedades.

A propriedade deles, de dezoito hectares, fica no assentamento PA Córrego Fundo. A experiência com o projeto, por meio da Assistência Técnica e Gerencial do Senar, permitiu recuperar sete hectares de pastagem degradada e aumentar a produção de leite (que era de 60 litros e chegou a ser de 210 litros/dia), além de ajudar a elevar também a qualidade do produto e, dessa forma, conseguir preço melhor na venda.

A palma forrageira foi a grande responsável pela mudança na pequena propriedade. “Eu conhecia a palma, mas como enfeite de natal. Foi o Tarcísio, técnico do Senar, que demostrou que ela podia ser uma ótima opção para a alimentação dos animais. Fizemos o teste e deu muito certo”, comemora a produtora. Hoje o casal possui uma área com cerca de três mil mudas da planta e se tornou referência para os vizinhos.

"Além de investir na palma forrageira, eles também plantaram três hectares do capim BRS Capiaçu e fizeram piquetes de capim-mombaça, duas cultivares da Embrapa, para as vacas de maior produção", destacou o técnico Tarcísio de Sousa. Os técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) foram capacitados pela equipe da Embrapa Cerrados para atuarem no projeto fornecendo assistência técnica e gerencial para pecuaristas da bovinocultura de leite e de corte em propriedades selecionadas em bacias hidrográficas prioritárias no bioma Cerrado.

O pesquisador José Felipe Ribeiro, da Embrapa Cerrados, apresentou para os representantes dos CIF que participaram do dia de campo como o projeto é desenvolvido na prática depois da seleção das propriedades nas bacias. “A equipe vai até a propriedade e propõe mudanças em função do estágio de degradação, usando tanto técnicas de recuperação ou mesmo renovação de pastagem, como de recuperação da vegetação nativa. As diferentes estratégias propostas pela equipe do Senar são discutidas e acordadas com o produtor e o monitoramento ocorre por dois anos. O principal objetivo do projeto é juntar a conservação da vegetação natural com a produção, ou seja, ajudar o produtor a planejar melhor o uso da terra e integrá-la à conservação dos recursos naturais solo, água e vegetação”, explicou.

O projeto propõe analisar a paisagem rural em conjunto com o produtor e buscar soluções tecnológicas para sua recuperação. “Desenvolvemos junto com eles uma atividade sustentável para que melhorem a produtividade das pastagens e a recomposição das áreas de proteção ambiental. Eles precisam enxergar as áreas de conservação da vegetação nativa como atividades produtivas. Trabalhamos com eles nesse sentido: qual serviço ambiental que uma reserva legal pode prestar ou mesmo qual uso econômico pode ser feito ali”, explicou Felipe Ribeiro.

O projeto conta ainda com a participação dos pesquisadores Fabiana Aquino, Marina Vilela, Júlio Cesar dos Reis, José Carlos Sousa e Luiz Adriano Cordeiro (líder do projeto) da Embrapa Cerrados, e Daniel Vieira, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

 

Ferramentas e estratégias

Adicionalmente, o pesquisador Felipe Ribeiro explica que, após o diagnóstico da fazenda, são indicadas as espécies nativas com potencial econômico mais adequadas para serem plantadas no local a ser recomposto. Para auxiliar nesse trabalho, neste ano foi lançada a publicação Guia de plantas do Cerrado para a recomposição da vegetação nativa.

“O Cerrado tem 12 mil espécies de plantas, nós selecionamos 350 espécies ‘carro chefe’ que podem ser utilizadas nesse sentido. As informações apresentadas no livro são fruto de décadas de trabalho de campo de grupos de pesquisa que vêm dedicando muito tempo à conservação e à pesquisa do Cerrado”, enfatizou.

Os produtores que participam do projeto também são orientados com relação ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades e ao uso da plataforma WebAmbiente, que é uma das ferramentas utilizadas na tomada de decisão desse processo de adequação ambiental da paisagem rural. A meta do projeto é atender quatro mil produtores; faltando um ano e meio para sua conclusão, já foram atendidos 3.318. “Nosso objetivo é que as práticas de baixo carbono sejam adotadas em 100 mil hectares. Já chegamos a 75 mil”, comemora.

Além disso, a equipe da Embrapa Cerrados elaborou uma publicação com as principais Estratégias para recuperação e renovação de pastagens degradadas no Cerrado. Esse documento apresenta tais estratégias para que, conforme o estágio de degradação e o potencial da área, auxilie a tomada de decisão do técnico e do produtor rural de forma a selecionar a alternativa mais adequada a cada realidade.

 

Macaúba

Outro tema do dia de campo foi a Macaúba – espécie nativa do Cerrado com grande potencial na produção de óleo. Na ocasião, os visitantes puderam conhecer o Banco de Germoplasma de Macaúba da Embrapa Cerrados, quando o pesquisador Marcelo Fideles repassou informações sobre a planta e o trabalho desenvolvido pela pesquisa. “Trata-se de uma palmeira nativa do Cerrado com grande potencial para produção de óleo, com muita eficiência na geração de riqueza para o campo, atendendo os princípios da sustentabilidade. Dentro da estratégia de integração lavoura, pecuária e floresta, por exemplo, ela possui grande potencial”, afirmou.

Fideles apresentou dados sobre o programa de melhoramento da macaúba, cujo objetivo é selecionar a primeira cultivar para atender o setor produtivo. “Isso é muito importante para o produtor porque, além de ele ter disponível um material mais produtivo e rentável, o uso de cultivares registradas atende a requisitos de elegibilidade de financiamentos em instituições bancárias”. Ele também destacou a importância do dia de campo com os investidores no sentido de os sensibilizar sobre a relevância da macaúba e, assim, vislumbrar investimentos futuros.

Ainda na estação, a startup Inocas, financiada pelo BID Lab em uma estratégia de blend finance, utilizando recursos próprios e do CIP/FIP, apresentou as perspectivas para sistemas agrossilvipastoris com macaúba para produção de óleos vegetais e rações animais em grande escala. O alto potencial de sequestro de carbono desses sistemas, com uma importante contribuição para a mitigação das mudanças climáticas, também foi foco da apresentação. Por essa característica, é possível que haja uma ampla expansão do modelo de negócio por meio dos mercados voluntários de crédito de carbono, defendeu o diretor-financeiro da Inocas, Ramon Carvalho.

Com os recursos recebidos, a empresa implantou cultivos pioneiros da espécie em Patos de Minas (MG), no nordeste paraense (PA) e no Vale da Paraíba (SP). O trabalho resultou em 2,3 mil hectares plantados em 73 fazendas de agricultores familiares. Uma expansão para outros 9 mil hectares já está financiada, segundo Johannes Zimpel, diretor-executivo da startup.

A Inocas é responsável pela execução do Projeto Macaúba, um dos oito projetos do Programa de Investimento Florestal, ao lado do FIP Paisagens Rurais. A empresa tem como missão regenerar 30 mil hectares de áreas de pastagens degradadas por meio do plantio da macaúba e com o envolvimento da agricultura familiar (acesse aqui mais informações sobre o trabalho da Inocas).

 

FIP

O Programa de Investimento Florestal (FIP) reúne oito projetos de apoio à gestão florestal sustentável e à redução da emissão de gases de efeito estufa no Cerrado. Entre eles, estão o FIP Paisagens Rurais e o FIP Macaúba. No caso do primeiro, os recursos são gerenciados pelo Banco Mundial e a coordenação é do Serviço Florestal Brasileiro e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) com parceria da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), Embrapa, Senar, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Com a experiência adquirida nesses anos de aprendizado de financiamento do FIP, espera-se que as instituições obtenham recursos para a continuidade dos investimentos e incorporem as lições aprendidas dessas tecnologias no seu dia a dia e nas ações de conservação do bioma Cerrado”, destaca Bernadete Lange, especialista sênior em meio ambiente do Banco Mundial, também presente no dia de campo.

 

Avaliação do CIF no Brasil 

Líderes de governos, representantes da indústria, povos indígenas e sociedade civil se reuniram em Brasília nos dias 26 e 27 de junho para discutir os impactos dos quinze anos de financiamento do CIF e de parceiros em ações para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Durante esse período, foram investidos US$ 11 bilhões em mais de 400 projetos de 74 países.

A transição do uso do carvão para fontes de energia limpa, investimento para promover lideranças femininas em assuntos climáticos e a visita à Embrapa Cerrados para observação de práticas agrícolas sustentáveis compuseram a programação do primeiro dia. Também nesse dia, Lineu Rodrigues, chefe-adjunto da Embrapa Cerrados, falou aos participantes sobre a atuação da Embrapa Cerrados e o pesquisador Felipe Ribeiro apresentou a eles as fitofisionomias e as especificidades da vegetação do Cerrado e destacou a importância do desenvolvimento de tecnologias específicas para o bioma.

“Em questões relacionadas às mudanças climáticas, o que mais vai impactar a vida das pessoas é a agricultura, no que se refere à produção de alimentos”, afirma Rodrigues, ao falar da importância da visita à Embrapa Cerrados para que o público conheça as tecnologias que estão alinhadas a essa temática e fortalecer a participação da instituição em novos investimentos. Ele enfatiza a necessidade de o Brasil avançar ainda mais na recuperação de pastagens degradadas e na recuperação e manutenção de biodiversidade brasileira. “Nesse sentido, a Embrapa tem muito a contribuir”, completa.

Dentro da programação projetos alinhados com os objetivos do CIF foram visitados pelos investidores que mantêm o fundo, provenientes de vários países e diversas regiões do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Nepal, África do Sul, Nigéria, Índia, dentre outros. O objetivo foi que eles conhecessem na prática resultados de pesquisa da Embrapa e o avanço dos projetos FIP Paisagens Rurais e FIP Macaúba, que recebem investimentos do fundo.

O segundo dia teve como foco a avaliação dos impactos dos investimentos no Brasil, do Programa de Investimento Florestal (FIP) – que completou onze anos, e das contribuições para o Cerrado brasileiro, as perspectivas do CIF para os próximos quinze anos e o compartilhamento de experiências, lições e resultados. Pelo Brasil, participaram os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e também representantes dos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e de Minas e Energia.

Juliana Caldas (MTb 4861/DF)
Embrapa Cerrados

Juliana Miura (MTb 4563/DF)
Embrapa Cerrados

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Mais informações sobre o tema
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