03/11/23 |

EnPI – Painéis debatem bioinsumos, biomateriais, medição e gestão da sustentabilidade

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

A última tarde de painéis do Simpósio Agroenergia em Foco, realizado durante o VII Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia (EnPI), no último dia 26, no auditório Irineu Cabral, na Embrapa Sede, em Brasília-DF, trouxe ao público debates sobre bioinsumos e biomateriais e, também, sobre medição e gestão de sustentabilidade. 

O Painel 7, com o tema “Bioinsumos e Biomateriais: Inovação na Transição para uma Economia de Baixo Carbono”, teve a participação do pesquisador-chefe do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras Paulo Luiz Coutinho, do presidente-executivo da CropLife Brasil Eduardo Leão, do diretor-técnico de Marketing da Santa Clara Marcelo Rolim, do coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Carbom Brasil Zenon Batista dos Santos Júnior, e do sócio-diretor da AMR Biotec Yuri Maggi. A moderação dos debates foi do pesquisador da Embrapa Agroenergia Félix Siqueira.

Os painelistas apresentaram as visões de entidades ligadas à indústria (Senai), como também de associações empresas/indústrias de bioinsumos (CropLife) e as empresas/indústrias (Santa Clara Agrociência, Carbom Brasil e AMR Biotec), quanto ao desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para uma agricultura mais sustentável. 

“Uma agricultura pensada e discutida para uma bioeconomia com bioprodutos que possam influenciar nas ações para grandes temáticas quanto às seguranças alimentar, energética e climática”, disse Félix Siqueira. 

Na abertura do painel, Paulo Coutinho mostrou como o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – Senai CETIQT tem trabalhado com vários setores no codesenvolvimento de bioprocessos e bioprodutos que possam ser contabilizados quanto ao fortalecimento das indústrias que estão ligadas à agricultura/silvicultura. 

Em relação à bioeconomia, Coutinho disse que em todos os projetos que se iniciam no Instituto é feita uma avaliação técnica e econômica e nessa avaliação são considerados os preços de carbono. “É a única maneira que vemos de mostrar para as empresas que isso é factível e tem economicidade”, declarou. 

Sobre a biodiversidade brasileira, Coutinho lembrou que é a segunda maior do mundo e que ainda é pouco explorada. “A biodiversidade é o modo mais fácil de transbordar resultados para o lado social. Não se trabalha só no ambiental. Por isso, é preciso começar a dar um foco grande nessa área”, alertou.

O pesquisador do Senai também apresentou os projetos do Instituto envolvendo biomateriais, com destaque para o projeto “Bioinsumos para Agroindústria”, desenvolvido a partir de microrganismos e algas.

Eduardo Leão, por sua vez, discorreu sobre os esforços da CropLife para discutir e influenciar os atores públicos e consumidores sobre a importância da adoção de bioinsumos nas mais diversas cadeias produtivas da agricultura. 

Leão falou sobre os desafios da agricultura moderna, principalmente em relação à insegurança alimentar, energética e às mudanças climáticas. “Todos os três passam pela agricultura e, em todos esses desafios entram, de uma forma mais intensa, os bioinsumos”, lembrou.

O presidente da CropLife também apresentou a evolução do mercado biológico global, mostrando que no ano-calendário 2018-2022 o mercado global cresceu 16%, enquanto o mercado brasileiro cresceu 62%. “O Brasil cresceu quatro vezes o que o mundo cresceu, em relação ao uso de biológicos”, constatou.

Leão ainda disse que, nos últimos anos, a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) foi responsável pela mitigação de mais de 20 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Esse valor representaria o plantio de cerca de 132 milhões de árvores plantadas.

Em sua palestra, Leão afirmou que o aumento na adoção de bioinsumos deve-se à eficiência alcançada através do avanço tecnológico na indústria que, em conjunto com a pesquisa de base, transformou ativos biológicos promissores em produtos seguros, estáveis e eficientes no campo.

“No cenário brasileiro, a interação entre pesquisa, indústria e regulamentação configura um tripé estratégico. Esse alinhamento é fundamental não só para fomentar a inovação, mas também para impulsionar e expandir o mercado de bioinsumos no país. 

As empresas Santa Clara, Carbom Brasil e AMR Biotec apresentaram seus portfólios de bioprodutos e ações de pesquisa e desenvolvimento para novos bioinsumos que possam trazer melhorias nas diferentes lavouras, como também o fortalecimento das indústrias nacionais de produtos biológicos, puxadas pelo crescimento da adoção de novos produtos pelos agricultores. 

“Nós acreditamos e estamos investindo muito em bioinsumos. Estamos investindo principalmente em metabólicos e em extratos ou óleos essenciais”, contou Marcelo Rolim, da Santa Clara.

Zenon Batista, da Carbom Brasil, por sua vez, disse que o foco da empresa é em extratos vegetais, extratos de algas e, agora, estão iniciando projetos com biológicos com a Embrapa Agroenergia.

Outro destaque do coordenador da Carbom é que a empresa tenta diminuir a lacuna entre a pesquisa e o produtor, centrando na ideia de “levar tecnologias verdes para o produtor”.

Em sua palestra, Yuri Maggi, da AMR Biotec, destacou os bioinsumos e o crédito de carbono. 

“Para trazer essa economia de baixo carbono para a agricultura tudo vai passar pelos bioinsumos. O biológico hoje é o único que traz de forma mais significativa essa redução de emissão lá na ponta da produção agrícola”, afirmou.

Para estimular o produtor a adotar boas práticas, Maggi citou a possibilidade de transformar essa adoção em ganho. “A possibilidade de geração desses créditos de carbono é pequena mas, para o produtor, pode ter uma significância interessante. Estamos falando na possibilidade de que, ao reduzir emissões, seja pela otimização do uso de fertilizantes ou por uma logística diferenciada, ele vai também ter um ganho de rentabilidade”, disse, lembrando que o produtor também ganha em qualidade de lavoura. 

Os painelistas também ressaltaram, em suas considerações finais, a necessidade iminente de mão-de-obra qualificada para os processos de microbiologia voltada para as práticas e desenvolvimentos de processos microbianos para obtenção dos bioinsumos. “Esses profissionais são peças chaves para se alcançar uma agricultura mais sustentável e inclusiva na busca de bioeconomia agrícola e de baixo carbono”, concluiu Félix Siqueira.

Painel 8 – “Medição e gestão da sustentabilidade”

O Painel 8, com o tema “Medição e gestão da sustentabilidade”, teve a participação do CEO da MyCarbon Eduardo Bastos, do professor de Pós-graduação em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Assad, do CEO da Taxo Agroambiental Renato Rodrigues e do professor titular da Universidade de Brasília (UnB) Armando Caldeira. O moderador da mesa foi o pesquisador da Embrapa Agroenergia Alexandre Cardoso.

“As palestras atingiram o objetivo, considerando o tempo disponível para o painel. O conteúdo abordou questões que foram levantadas durante os painéis anteriores em diversos momentos, relacionadas às métricas e gestão da sustentabilidade”, afirmou Alexandre Cardoso.

Em uma síntese do painel, Cardoso destacou que “dois dos painelistas (Eduardo Bastos e Renato Rodrigues) trouxeram possíveis abordagens para a gestão da sustentabilidade e mercado de carbono no ambiente agrícola, consistindo em uma visão pragmática relacionada à sustentabilidade na bioeconomia. Eduardo Assad e Armando Caldeira, com larga experiência acadêmica e em pesquisa, relacionada ao tema de emissões de gases de efeito estufa, contribuíram com uma análise crítica sobre os cálculos das emissões de GEE e o histórico dos inventários nacionais”.

Eduardo Bastos abriu o debate falando sobre a importância do ESG, uma sigla em inglês que significa “Environmental, Social and Governance” e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização.

“O ESG veio para ficar e não é só uma moda. O termo foi cunhado em 2004, no relatório do Pacto Global para o Banco Mundial, dizendo que não adianta olhar só o lado ambiental e o lado social, mas é preciso colocar governança nessa discussão. O ESG será cada vez mais importante e as empresas serão cobradas. Empresas que têm um compromisso robusto e real com o mundo conseguem atrair e reter talentos”, alertou.

Na sequência, Renato Rodrigues falou sobre “Negócios sustentáveis e mercado de Carbono”. “Um total de 66% dos consumidores da Europa (75% da geração millenials) pagam mais por um produto sustentável. Segundo a Embrapa, consumidores brasileiros também pagam mais por produtos produzidos de forma sustentável. Esse é um dado muito importante para as empresas”, afirmou.

Sobre o mercado de carbono, Rodrigues disse que “a medição é o ‘X’ da questão”. “Todo mercado de carbono é baseado em medição. E o crédito de carbono é simplesmente a diferença entre o quanto eu emito na presença de um projeto para o quanto eu emitiria na ausência daquele projeto”, disse.

De acordo com o palestrante, o mercado de carbono traz uma grande oportunidade de o Brasil se tornar a primeira potência agroambiental do planeta. “Na minha opinião, já é uma potência agro, mas o país ainda precisa evoluir em alguns aspectos para se tornar uma potência ambiental também, e aí temos o Plano ABC + (Agricultura de Baixa emissão de Carbono), que tem o objetivo de expandir a adoção de práticas ABC em 72,68 milhões de hectares e assim mitigar mais de 1 bilhão de toneladas de carbono até 2030.”

Eduardo Assad, por sua vez, iniciou sua palestra alertando que “se você não medir, alguém vai medir por você”.

“Aqui no Brasil temos Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e produzimos o ano inteiro. Nos Estados Unidos e na Europa não produzem o ano inteiro porque congela. Aqui temos atividade biológica o ano inteiro e temos, também, a emissão e a remoção de carbono o ano inteiro. Temos que mostrar isso”, constatou.

De acordo com o palestrante, agropecuária e setor florestal são os únicos setores produtivos capazes de remover carbono da atmosfera. “Qualquer esforço abrangente de monitoramento de GEE precisará considerar a dinâmica do carbono nos setores agropecuário e florestal para avançar de maneira efetiva no combate às mudanças climáticas e, portanto, aperfeiçoar as medições”, enfatizou.

Segundo Assad, atualmente, uma variedade de produtos (aditivos) contribui para a redução de emissões de metano por fermentação entérica dos animais. Características dos sistemas produtivos e as condições da pastagem desempenham papéis importantes nessa equação. 

“A pecuária nacional está avançando para produzir mais carne em menos tempo, emitindo menos gases de efeito estufa e sequestrando carbono nas pastagens. Tais atividades precisam ser consideradas no cálculo do balanço de emissões do sistema produtivo”, alertou.

Encerrando o painel, o professor Armando Caldeira fez uma análise sobre o tema Medição e gestão da sustentabilidade: “O que estamos falando aqui é de uma quantidade enorme de setores produtivos, de ciclos produtivos que se interligam de alguma forma, através de bioprodutos. A bioeconomia, por si só, já é um sistema cíclico”, considerou. 

Sobre o que medir e o que utilizar para isso, Caldeira indicou que a métrica é a ‘Avaliação do Ciclo de Vida’. “Com essa métrica conseguimos fazer um balanço de massa e energia com um grau de detalhamento bastante grande, que passeie de forma igual por todos os setores produtivos, não importando a diversidade deles e, depois, traduzir isso em potenciais impactos ambientais.”

O VII EnPI teve o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e o patrocínio da AMR Soluções, da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) e da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI).

 

Márcia Cristina de Faria (MTb 24.056/SP)
Embrapa Agroenergia

Contatos para a imprensa

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/