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Manejo de florestas naturais, incluindo florestas secundárias e restauração florestal para a promoção da bioeconomia

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Foto: Valterci Santos

Valterci Santos -

O envolvimento das comunidades no manejo de florestas naturais e secundárias para a promoção da bioeconomia é apontado como uma atividade importante no processo de implementação das práticas de sustentabilidade ambiental no país. Pesquisas apresentadas durante a Conferência IUFRO 2023 América Latina, em painel moderado por André Rodrigues de Aquino, do Serviço Florestal Brasileiro, revelam que o conhecimento empírico e as condições socioeconômicas das famílias que habitam florestas e áreas rurais são indispensáveis para garantir a conservação, proteção e restauração dessas áreas em longo prazo.

De acordo com Evaldo Muñoz, pesquisador da Embrapa Florestas, houve avanço nos critérios de planejamento da extração nas florestas naturais nos últimos anos, como os de baixo impacto, porém, métodos efetivos de manejo visando a produtividade não acompanharam o mesmo ritmo, e a falta de resultado causou a simplificação e generalização da legislação, que passou a ter as mesmas regras para todas as espécies. O engenheiro florestal ainda destacou a necessidade da gestão da estrutura das florestas. Análises sobre as características das opções comerciais da madeira, além de contribuírem para a formação de áreas sustentáveis, podem ser úteis para a conquista de uma legislação adequada a cada espécie. “É preciso considerar a produção líquida das espécies e planejar o manejo de acordo com as suas especificidades, pois árvores e florestas são diferentes em relação à capacidade de suporte. Planejar o manejo de acordo com as suas especificidades, como tempo de crescimento, taxa de mortalidade e estrutura diamétrica, é extremamente necessário, pois práticas aleatórias trazem um risco muito grande à sustentabilidade da produção. É primordial a realização de interlocução entre técnicos, pesquisadores e as comunidades locais para a escolha dos modos de manejo. A experiência dos habitantes locais é fundamental nesse processo, uma vez que conhecem os ecossistemas e as dinâmicas florestais”, destacou.

A importância do manejo comunitário também é defendida pelo professor César Tenório de Lima, diretor geral da Universidade Federal Rural da Amazônia, que há 25 anos é um defensor da causa. No livro "Florestas para pessoas", Lima ressalta o conceito de “florestas culturais”, já discutido em outros países latino-americanos, como Chile, Bolívia e Peru. “Este conceito reconhece que muitas pessoas dependem dos produtos e da biodiversidade das florestas para sustentarem suas famílias, ou seja, para o desenvolvimento social. Na Amazônia, o manejo florestal comunitário é fundamental e satisfaz tanto as metas econômicas das empresas quanto o desejo das comunidades de viver em equilíbrio com a floresta. Não há desenvolvimento sem geração de renda e economia progressiva”, explica. Ainda durante a apresentação, o diretor da UFRA explicou a importância da governança local das comunidades e o manejo adaptativo, sublinhando que cerca de 70% das florestas públicas performam como comunitárias. Destacou a bioeconomia e a socioeconomia, assim como a importância de reforçar as pesquisas e extensões feitas nas comunidades para levá-las ao governo.

A Floresta Amazônica também foi o assunto tratado pelo professor colombiano César Polanco Tapia, da Universidade Distrital Francisco José de Caldas Tapia apresentou as dificuldades enfrentadas pela floresta amazônica na Colômbia. “Temos desafios significativos na floresta, como o desmatamento e as atividades ilegais, citando a mineração de ouro e o cultivo ilícito de coca. O grande índice de pobreza colabora extremamente para a construção desse cenário, já que as pessoas buscam quaisquer modos de sobrevivência. Por isso, também considero essencial criar estratégias que envolvam as comunidades locais, oferecendo oportunidades de emprego e sustentabilidade, porque legalidade e sustentabilidade devem ser aliadas para garantir um futuro melhor para a região”, afirmou. O professor também explicou que a maior parte do desmatamento na Colômbia não é proveniente da extração da madeira, mas sim, do aumento de áreas destinadas à agricultura, pecuária extensiva e culturas ilegais, bem como do crescimento da população e migração interna. Ressaltou, ainda, os incêndios florestais como foco de preocupação. “A queima de grandes áreas por causa das plantações ilegais pode resultar em incêndios descontrolados. A falta de recursos e infraestrutura para prevenir e controlar incêndios florestais agrava a situação, marcada pela perda de ecossistemas florestais como a escassez de recursos hídricos, incluindo a indisponibilidade de água para uso humano e industrial”, destacou.

Fechando o painel sobre manejo de florestas naturais, o engenheiro florestal e professor da Universidad de Los Lagos, Gustavo Torres Osses, falou sobre o manejo de florestas secundárias mistas com Amomyrtus sp. no sul do Chile, considerando a madeira para a produção de mobiliário. De acordo com ele, as práticas de manejo sustentáveis buscam o aproveitamento máximo da matéria-prima, sem grande interferência de processos de serraria ou corte, o que significa a maximização das características resistentes na conservação das fibras e avanço na promoção da sustentabilidade e uso eficiente dos recursos naturais. “A plantação de Amomyrtus sp. em florestas secundárias permite visualizar alternativas construtivas que propõem o uso sustentável da madeira como matéria-prima estrutural. Aliada a um modelo de transferência socio-tecnológica, pode ser utilizada pelo setor madeiro principalmente no design contemporâneo de objetos certificáveis. Com a dinâmica de diálogo entre a pesquisa científica e o conhecimento cultural dos habitantes da floresta, podemos criar estratégias mais eficazes para preservar nossos ecossistemas naturais e melhorar a qualidade de vida das pessoas que dependem desses recursos”, finalizou.

 

Ana Reimann (Produção de texto)
Embrapa Florestas

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

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