16/05/24 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Transferência de Tecnologia

Embrapa se destaca na programação do Festival Internacional Açaí Pará

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Foto: Ana Laura Lima

Ana Laura Lima - Pesquisador João Tomé fala do plantio de açaí em terra firme

Pesquisador João Tomé fala do plantio de açaí em terra firme

A produção de açaí e o mercado do fruto atraíram o público do Festival Internacional Açaí Pará, que acontece em Belém-PA, de 14 a 16/5. Produtores, empresários e investidores do Brasil e da Colômbia assistiram na tarde dessa quarta-feira (15/5) palestras de profissionais da Embrapa Amazônia Oriental, que abordaram o manejo dos açaizais de várzea, o cultivo do açaí em terra firme e o potencial de mercado do fruto na Amazônia.

O engenheiro florestal José Antônio Leite, analista da Embrapa Amazônia Oriental, contextualizou a exploração dos açaizais no Estado e apontou soluções desenvolvidas pela pesquisa para garantir uma produção que gere renda às populações ribeirinhas e atue na conservação das florestas de várzea do estuário amazônico. Trata-se do Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos, tecnologia desenvolvida pela Embrapa para conciliar o aumento da produção de frutos e a manutenção da biodiversidade nas áreas manejadas.

Nas últimas décadas, o aumento do consumo de açaí levou a uma intensificação da sua colheita nessas áreas, fenômeno que vem sendo chamado de “açaização”, segundo o engenheiro florestal. “A extração de forma intensiva tem colocado em risco a diversidade de espécies nas florestas de várzea”, disse o especialista na palestra.

A extrativista Elizabeth Menezes gerencia 72 hectares de área de várzea, em Barcarena (PA). No local, o açaí é extraído da forma tradicional e o conhecimento em torno das técnicas de manejo veio em boa hora. “A técnica não é difícil, é viável fazer o manejo e acredito que vai aumentar a produção. Além disso, eu consigo agora orientar melhor os trabalhadores da área. O conhecimento empodera a gente”, declarou.

O especialista explica que a tecnologia recomenda uma proporção adequada de açaí e outras espécies florestais, mantendo toda a biodiversidade presente na área. "Os açaizeiros precisam que outras árvores com raízes mais profundas tragam os nutrientes das camadas que estão mais abaixo no solo. Por isso manter a biodiversidade é fundamental", explica Leite.

Veja o que o engenheiro florestal José Antônio Leite fala sobre o Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos:

 

Tecnologia para superar desafios
 

Um dos desafios apontados pelo público presente foi a diminuição da produção de frutos no período da entressafra do açaí, que no estado do Pará é de janeiro a junho, e o aumento do preço do produto nesse período. O tema foi abordado pelo agrônomo João Tomé de Faria Neto, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

“Nos últimos anos, a demanda pelo fruto cresceu em um ritmo muito mais acelerado que a oferta. E essa situação é agravada ainda pela sazonalidade da produção nas áreas de várzea, que no primeiro semestre reduz drasticamente. Então, migrar para terra firme foi uma das soluções encontradas pela pesquisa”, afirma Farias Neto.

A Embrapa já desenvolveu as duas cultivares registradas de açaizeiro para terra firme do mundo: BRS Pará e BRS Pai d’Égua. O diferencial das variedades é a maior produtividade e a distribuição bem equilibrada da produção anual, um passo importante para superar a sazonalidade da produção de frutos. “Com irrigação e adubação adequadas, a BRS Pai d’Égua produz 46% no período da entressafra (de janeiro a junho) e 54% na safra (de julho a dezembro)”, afirmou o pesquisador João Tomé.

O especialista alertou ainda: “não se pensa em plantar açaí em terra firme sem irrigação. Sem a água, o cultivo se torna inviável”, pontuou. A técnica mais utilizada é a irrigação por microaspersão e a quantidade de água nas diferentes idades da planta depende das condições edafoclimáticas da região.

Outro ponto abordado pelo pesquisador foi a polinização da palmeira. O açaizeiro é uma palmeira de polinização cruzada e precisa de agentes polinizadores para fazer a transferência do pólen entre as touceiras e assim promover a frutificação dos cachos. “Além da possibilidade de inserir caixas de abelhas no plantio, é fundamental manter ou restaurar a vegetação nativa próxima à área”, orientou Farias.

Foto: Ronaldo Rosa

Bom negócio
 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu 1 milhão e 700 mil toneladas de frutos de açaí em 2022, oriundos tanto do plantio quando do manejo de áreas nativas. A área colhida desse fruto no país é de cerca de 230 mil hectares, sendo 97% desse total no estado do Pará, que é o maior produtor nacional com pouco mais de 1 milhão e 500 mil toneladas em 2022.

A oferta do fruto cresce anualmente em torno de 5%, por outro lado a demanda cresce superior a 15%. Falta açaí no mercado. “Eu recomendo o cultivo do açaí a qualquer produtor que tenha interesse nessa cultura. É uma excelente oportunidade de se obter renda”, destacou o pesquisador.

Veja a mensagem do agrônomo João Tomé aos produtores de açaí:

 

Açaí internacional
 

A empresa paraense Belamazon/Palamaz, está no mercado há mais de 10 anos, produz e exporta sobert de açaí, açaí em pó e açaí 100% natural para outros estados brasileiros e países. Cristiane Pantoja Dias, funcionária da empresa, e expositora no Festival Internacional Açaí Pará. Ela conta que no período da safra a fábrica beneficia até 100 mil quilos de açaí por dia. Os produtos beneficiados aqui no Pará, segundo ela, são exportados, no Brasil, para o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Fortaleza, além do Canadá, Espanha e China.

“Os frutos vêm de uma área de açaizal em Curralinho e também de fornecedores de diferentes regiões do estado”, conta. Entre os desafios apontados pela representante da empresa estão a sazonalidade e o efeito do clima na produção ao longo dos anos.

Outra empresa que se destaca no mercado local e nacional é a Petruz, que também esteve presente no evento. Segundo a funcionário Joisane das Neves, a empresa está há mais de 50 anos no mercado, e possui fábricas no Pará, Amazonas, Amapá e uma distribuidora no Ceará.

“Temos a linha de polpa de frutas com 12 sabores, incluindo o açaí, a linha de sorbets de açaí com guaraná, açaí com morango e açaí com banana e um produto energético à base de camu-camu”, conta a expositora. Ela relata ainda que os produtos da empresa já estão em mais de 50 países.

A entressafra não é um problema para a empresa, segundo Josiane, “conseguimos manter esse volume, pois trabalhamos em diferentes estados que possuem diferentes épocas de safra. Quando chega a entressafra no Pará, temos a safra no Amazonas ou no Amapá, uma vai suprindo a outra”, afirmou.

Já a qualidade do fruto que chega à fábrica foi um dos desafios apontados por ela. “É preciso melhorar as condições dos produtores e extrativistas para que o produto chegue com mais qualidade à indústria”, finalizou.

Embrapa faz prospecção de máquinas e equipamentos
 

Prospectar demandas de produtores e empresários do ramo do açaí também esteve entre os objetivos da Embrapa Amazônia Oriental no Festival. A agrônoma Mazillene Borges, analista da instituição, esteve presente nos três dias do evento para conversar com atores da cadeia produtiva e conhecer novidades na área. “Estamos trabalhando em um convênio com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para desenvolver um catálogo de máquinas e equipamentos para a cadeia produtiva do açaí. Um produto que seja fruto da demanda de extrativistas, produtores, batedores e agentes que atuam no beneficiamento e transporte do fruto” contou a analista. O trabalho envolve Unidades da Embrapa no Pará, Amazonas, Amapá, Acre e Roraima.

Uma as inovações presentes no evento foi o “busca-cacho”, um equipamento que escala mecanicamente as touceiras de açaí, faz o corte do cacho e o transporte até o solo. O equipamento está patentado e vem sendo comercializado para diversos estados brasileiros, conta Roberto Pacheco, representante do equipamento no Festival.

“O método tradicional de colheita do açaí, utilizando a peconha, se torna oneroso, traz riscos de acidendente ao coletador e em algumas regiões já há relatos de escassez de mão de obra para essa atividade”, relata Pacheco.

O equipamento foi desenvolvido pelo mecânico Trajano Brito há cerca de 5 anos, em Tucuruí. No último ano, segundo o representante Roberto Pacheco, foram comercializados 500 “busca-cachos” no país e a tendência é ampliar essa oferta.

O Festival Internacional Açaí Pará encerra nesta quinta-feira (16) com uma visita dos participantes à Feira do Açaí, em Belém.

 

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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