01/06/03

Cadeia produtiva do açaí é discutida em Belém, PA

As pragas que atacam os açaizeiros, causando sérios prejuízos a mais famosa das palmeiras amazônidas, merecerão um capítulo especial na publicação que acaba de ser concluída por treze pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O livro sobre Sistema de Produção do Açaí será analisada, dia 30 de junho por produtores, extensionistas, especialistas em crédito rural e demais integrantes do setor produtivo e somente após as considerações dos que conhecem na prática e profundamente a cultura, ele será publicado e também disponibilizado na home page da instituição de pesquisa.

Sobre as doenças do açaizeiro, os pesquisadores têm boas notícias, principalmente se eles vivem nas várzeas do estuário amazônico. Nessas áreas, onde as plantas ocorrem naturalmente, não há registros da incidência de doenças causadas por organismos patogênicos. Mas o mesmo não acontece em locais em que a palmeira está sendo cultivada em terra firme. E o caso mais grave foi registrado em açaizeiros plantados em áreas de Belém, que apresentaram sintomas de amarelecimento seguido de secamento das folhas mais velhas que evoluíram para as mais novas e, em estágio mais avançado, provocaram a morte das plantas.

O mesmo quadro sintomatológico foi observado em um açaizal implantado em terra firme no município do Moju. Exames laboratoriais já foram realizados a partir de material coletado nesses dois locais, mas até agora não há nenhuma indicação de um possível patógeno. O caso continua sendo monitorado e em observação, com os especialistas buscando a identificação da causa dos sintomas observados nesses açaizeiros.

O livro que aborda outras questões, também de grande relevância para a cultura do açaí como a sua composição química e nutricional, cultivares, sistemas de cultivo, manejo de açaizais nativos, colheita, acondicionamento e transporte, foi redigido numa linguagem simples e objetiva que visa facilitar a compreensão dos diferentes públicos de interesse e reúne informações tecnológicas que possibilitam melhorar o desempenho dos sistemas de cultivo, manejo, transporte, processamento e comercialização, bem como permitir a melhoria da renda e qualidade de vida dos agricultores e ribeirinhos que desenvolvem atividades com a cultura do açaizeiro.

O destaque ao açaí entre as culturas pesquisadas pela Embrapa deve-se, sobretudo, ao fato do açaizeiro, cientificamente denominado Euterpe oleracea Mart., ser uma palmeira nativa da Amazônia que se destaca, entre os diversos recursos vegetais, pela abundância e por produzir importante alimento para as populações locais, além de se constituir na principal fonte de matéria-prima para a agroindústria de palmito no Brasil. A sua maior concentração ocorre em várzeas e igapós do estuário amazônico, com área estimada em 1 milhão de hectares. Também é encontrado, embora de forma mais rara, em florestas de terra firme.

A produção de frutos, que provinha quase que exclusivamente do extrativismo, a partir da década de 90, passou a ser obtida, também, de açaizais nativos manejados e de cultivos realizados em áreas de várzea e de terra firme, localizadas em regiões onde a distribuição de chuvas, nos meses do ano, é mais uniforme, em sistemas solteiros e consorciados.

Os pesquisadores autores do livro, à frente os organizadores Oscar Nogueira e Francisco José Figuerêdo, ressaltam que atualmente 80% da produção de frutos é oriunda do extrativismo em populações naturais e o restante proveniente de açaizais nativos submetidos a manejo e de áreas cultivadas.

O interesse pela implementação da produção tem se dado pelo fato do suco de açaí, antes destinado totalmente ao consumo local, vir conquistando novos mercados e se transformado em importante fonte de renda e de emprego. A venda de suco de açaí congelado, para outros Estados brasileiros, vem aumentando significativamente com taxas anuais superiores a 30%, podendo chegar a cerca de 10.000 toneladas, além de quase 1.000 toneladas exportadas para vários países na forma de mix.

Os especialistas lembram que o incremento das exportações vem provocando a escassez do produto e a elevação dos preços ao consumidor da região, em grande parte do ano, principalmente no período de entressafra que acontece de janeiro a junho. O reflexo imediato desse aumento de preços foi a expansão das áreas manejadas nas várzeas, estimadas em mais de 10 mil hectares em 2002, somente no Estado do Pará, financiadas pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), possibilitando a geração de aproximadamente 10 mil empregos diretos. Enquanto no agronegócio de suco e polpa de açaí estão envolvidas, diretamente, mais de 25 mil pessoas.

Pragas

A sanidade das plantas, que interfere diretamente na sua produtividade, é uma das preocupações dos pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental. Na publicação que deve estar disponível até o próximo semestre,  estão as principais pragas que atacam o açaizeiro e sendo as mais comuns e danosas o pulgaõ-preto-do-coqueiro, a mosca-branca, saúvas e a broca-do-coqueiro. O primeiro ataca mais intensamente no viveiro e durante os três primeiros anos de vida da planta no campo e provoca o atraso no desenvolvimento das mudas de açaizeiro, tornando-as raquíticas e com as folhas amareladas. A recomendação da pesquisa para controlá-lo é remover as mudas atacadas do viveiro para outro local, onde os insetos serão retirados com auxílio de um pano umedecido com água.

A Mosca-branca ataca o açaizeiro também no viveiro e nos primeiros anos de vida no campo, mas o dano é maior no viveiro devido à proximidade das mudas, o que facilita a infestação, enquanto as saúvas, tanajuras ou formigas saúvas atacam as plântulas de açaizeiro ainda na sementeira, as plantas no viveiro e nos primeiros anos de vida no campo, mas o ataque é mais severo na sementeira e no viveiro em virtude das folhas estarem ainda tenras, provocando o desfolhamento parcial ou total das mudas, com isso ocorre o atraso no seu desenvolvimento e, dependendo da intensidade até mesmo a morte da planta.

O controle químico mais utilizado é com gases liquefeitos, mas o considerado mais econômico e eficiente é o uso de iscas granuladas. As saúvas são também controladas por inimigos naturais como fungos, nematóides, ácaros parasitas, formigas predadoras e um coleóptero da família Scarabaeidae, predador das rainhas.

Sobre a broca-do-coqueiro, broca-do-olho-do-coqueiro ou bicudo, que ataca o açaizeiro a partir dos três anos de idade no campo quando as plantas estão com o estipe suficientemente desenvolvido, a publicação ressalta que causa danos diretos devido às enormes galerias que fazem no tronco e na região da coroa foliar, bloqueando a passagem dos nutrientes, causando o enfraquecimento de toda a planta e podendo leva-la à morte, além de facilitar a entrada de microrganismos patogênicos como fungos, bactérias e vírus, ou insetos secundários capazes de causar novos danos, ou transmitirem doenças à planta.

Os participantes do evento da segunda-feira, na Embrapa Amazônia Oriental, esperam com o novo Sistema de Produção do Açaí contribuir com este importante agronegócio regional, oferecendo aos que participam da cadeia produtiva, um documento amplo, completo e que reflete na prática o que acontece com a cultura.

Ruth Rendeiro - DRT-Pa:609/ 9985 1229 Embrapa Amazônia Oriental Contatos: (92) 622-2012 - ruth@cpatu.embrapa.br  

Tema: Ecossistema\Amazônia 

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