Voltar

Esclarecimentos sobre uso de agrominerais silicáticos (remineralizadores) na agricultura

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo. Nos últimos vinte anos a quantidade de fertilizantes NPK (Nitrogênio, Fósforo, Potássio) consumida no país cresceu a uma taxa anual de 5,4%. Contudo, do total de 34,14 milhões de toneladas consumidas em 2017, cerca de 75% são importados. Estes fatos colocam o Brasil numa situação frágil de dependência da importação desse insumo, sobretudo considerando que a maior parte dos solos das regiões produtoras de alimentos, fibras e energia é naturalmente deficiente em nutrientes, havendo a necessidade de adubação das culturas para a manutenção ou até mesmo para aumento dos níveis de produtividade já alcançados.

A expansão de cultivos com elevado nível de tecnologia está entre as principais causas da crescente demanda por fertilizantes e, consequentemente, o aumento de sua importação, destacando-se as culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão, que juntas consomem mais de 90% do total de fertilizantes utilizados no Brasil. Ressalta-se que a correção da acidez do solo e a adubação mineral, sobretudo com N, P e K, representam a maior parcela, normalmente acima de 30%, dos custos variáveis de produção das culturas.

Diante deste cenário, a Embrapa vem atuando em diversas estratégias para alcançar o suprimento e uso eficiente e sustentável de nutrientes para a agricultura brasileira, como: (1) Boas práticas de manejo do sistema produtivo e de uso correto de fertilizantes e de outras fontes de nutrientes; (2) Identificação de fontes alternativas de nutrientes (minerais e orgânicas); (3) Novas tecnologias para a produção de fertilizantes de maior eficiência ou de menor custo de produção; (4) Melhoramento genético e seleção de genótipos de maior eficiência de uso de nutrientes.

Para cada uma dessas estratégias a Embrapa conta com tecnologias desenvolvidas e que impactam diretamente no consumo de fertilizantes no Brasil, otimizando seu uso e diminuindo a pressão por importação.

Uma das tecnologias de manejo da fertilidade do solo visando a substituição de fontes tradicionais é o uso de agrominerais alternativos, definidos aqui como materiais naturais inorgânicos que foram beneficiados apenas por processos físicos e que apresentam propriedades para aplicação em solos agrícolas. Pode-se citar como exemplo de agrominerais o calcário agrícola, a gipsita (gesso mineral), além de certas rochas silicáticas, e rochas fosfáticas, que constituem uma realidade no conjunto de opções de uso pelo produtor rural, com grande participação da Embrapa no posicionamento agronômico destas tecnologias. Em todos estes casos, os critérios utilizados pela Embrapa para a recomendação dos agrominerais estão relacionados com a eficiência agrícola comprovada e a presença de elementos traços potencialmente tóxicos abaixo de limites definidos por estudos e legislação.

Uma classe de agrominerais que tem se destacado recentemente são os agrominerais silicáticos, mais precisamente os aluminossilicatos. Estes possuem, normalmente, teores baixos e muito variáveis de diversos elementos químicos que têm função de nutrientes no desenvolvimento das plantas, em compostos com maior ou menor facilidade de solubilização e consequente disponibilização para a absorção radicular. No entanto, diferentemente dos agrominerais mencionados anteriormente, a transformação dos aluminossilicatos no solo não ocorre, em condições normais, na escala de tempo e em quantidade desejadas nos sistemas agrícolas.

Desde o início dos anos 2000 a Embrapa, juntamente com parceiros, tem desenvolvido projetos visando identificar, caracterizar e avaliar o potencial agronômico e econômico de uso de diversos agrominerais silicáticos como fontes de potássio, outros nutrientes e como condicionadores de solo em diferentes sistemas produtivos. Neste período muitos avanços foram alcançados.

No entanto, em virtude das particularidades que ocorrem em estudos com fontes naturais e multinutrientes e de sua interação com os complexos sistemas produtivos atualmente no Brasil, as informações obtidas até o momento não são conclusivas a respeito da eficiência agronômica destas fontes na escala de tempo dos cultivos agrícolas e em quantidades suficientes para sua recomendação de uso. Outra dificuldade é que os esforços nos estudos não relacionaram estas fontes com as regiões de consumo, o que é imprescindível em se tratando de fontes de baixa concentração de nutrientes, cuja viabilidade econômica depende fortemente de questões logísticas, basicamente transporte.

Assim, o posicionamento oficial da Embrapa sobre esse tema é que, atualmente, não há informação científica suficiente para se recomendar agrominerais silicáticos como fonte de nutrientes, sobretudo, de potássio, ou condicionadores de solos para a agricultura.

Contudo, a Embrapa está se organizando de forma coletiva, multidisciplinar e institucional para fornecer posição científica sobre o uso de agrominerais silicáticos na agricultura brasileira. Estes estudos serão direcionados de forma clara e objetiva para fornecer evidência técnica que possibilite ou não a aplicabilidade desses materiais na agricultura.

Para isso, a Embrapa conduzirá, sob supervisão do seu Comitê Gestor do Portfólio de Nutrientes para a Agricultura e apoio do Ministério da Agricultura, um Projeto de Pesquisa específico, com início em 2020, voltado para o referido tema, abordando: (i) metodologias de pesquisa padronizadas e congruentes ao objetivo a que se destina os agrominerais; (ii) identificação e caracterização dos agrominerais relevantes nacionalmente; (iii) avaliação do seu potencial agronômico em diversos sistemas de produção, incluindo os de base biológica, com metodologia apropriada (iv) avaliação de alterações químicas, físicas e biológicas no solo promovidas pelo uso de agrominerais; (v) estudos de risco de contaminação do solo por elementos tóxicos presentes na composição dos agrominerais; (vi) recomendação agronômica desses materiais (dose, fonte, época e forma de aplicação) em diversos sistemas de produção, com base em suas características e em indicadores de solo, caso ocorra comprovação científica do seu uso na agricultura; e (vii) indicação de viabilidade econômica regional.

A Embrapa reitera que esforços estão sendo direcionados para que a sociedade não fique sem resposta e, coloca-se à disposição do setor produtivo (produtores rurais, mineradoras, empresas de fertilizantes e afins) que desejar se tornar parceiro a fim de elucidar essas questões referentes ao tema agrominerais silicáticos.