OLHARES PARA 2030

Mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura

Um novo mosaico de uso e cobertura das terras no Brasil vem sendo moldado por movimentos populacionais, intensificação agropecuária, concentração da produção e expansão da fronteira agrícola. Sua compreensão é imprescindível para o planejamento e a tomada de decisão pública e privada visando o desenvolvimento rural.

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Amanda Cosenza

Amanda Cosenza

Sustentabilidade na cadeia de valor do agronegócio e sua importância para o futuro da atividade

Alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

ODS 2 - Fome zero e agricultura sustentável ODS 12 - Consumo e produção responsáveis

A sustentabilidade é um tema amplo que ganha cada vez mais visibilidade e interesse da sociedade em função dos impactos econômico, ambiental e social que acarreta. Nos últimos 20 anos, houve uma evolução muito grande na compreensão e adoção do conceito, graças ao avanço da Ciência e da Tecnologia, e também por uma conscientização mais ampla da sociedade. Ações sustentáveis já estão produzindo um novo tipo de agricultura, totalmente focada no desenvolvimento sustentável, e que será de extrema importância para o futuro da humanidade.

Antes tema de interesse apenas das empresas multinacionais, a adoção das boas práticas da sustentabilidade tornou-se meta importante da Organização das Nações Unidas (ONU), que vem incentivando a transformação de ações isoladas em objetivos concretos, em âmbito mundial. Nesse sentido, o órgão promoveu a criação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), traçando 17 objetivos principais e 169 metas para orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional, incluindo ações das empresas, em diversos setores.

A participação das empresas do agronegócio nesse processo torna-se muito importante, principalmente a partir de iniciativas que visam engajar toda a cadeia de atividades. Essa contribuição pode ter diretrizes diversas, mas o que entendemos como fundamental nesse sentido está baseado em quatro dos pilares dos ODS: Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável (Objetivo 2); Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis (Objetivo 11); Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis (Objetivo 12); e Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e rever a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade (Objetivo 15).

A questão que se impõe como desafio para todas as empresas é: Como contribuir para garantir o cumprimento desses objetivos? Sob a perspectiva do agronegócio, para a Archer Daniels Midland Company (ADM), sustentabilidade significa assegurar uma cadeia de valor que promova um desenvolvimento econômico e socioambiental sustentável desde a origem primária junto ao produtor, até o cliente no próximo elo da cadeia. Para concretizar esses objetivos, em benefício da sociedade, é necessário um planejamento estratégico que proponha, realize e monitore continuamente  ações sustentáveis, também como forma de garantir uma competitividade responsável. Devemos ter um entendimento de como as partes envolvidas são afetadas e onde cada um desses atores pode ajudar a fazer a diferença.

Uma iniciativa alinhada a esses propósitos é o Programa ADM Responsible Soy, que é o resultado de pesquisas e estudos com base nas principais normas internacionais vigentes e melhores práticas de manejo agrícola. Esse é um programa de certificação que confirma a aplicação de padrões de sustentabilidade na produção do grão de soja, por produtores brasileiros. Atendendo às exigências dos clientes, principalmente do mercado europeu, o programa tem sido muito bem aceito pelos produtores brasileiros, tendo alcançado, em 2017, quase 1 milhão de toneladas de soja certificada, produzida em seis estados brasileiros (MT, MS, MG, PA, BA e TO), por mais de 100 produtores engajados no programa.

A iniciativa foi desenhada para atender aos requisitos de desenvolvimento sustentável no contexto da agricultura brasileira, em particular da cadeia produtiva da soja, estimulando os produtores a utilizarem práticas adequadas para toda a cadeia de fornecimento. Motivo também de extrema importância é responder às questões levantadas pelos stakeholders, envolvidos direta ou indiretamente na produção brasileira da soja.

Dentre os critérios verificados pelo programa estão incluídos aspectos sociais (trabalho infantil, discriminação, trabalho análogo a escravo, liberdade de associação, saúde e segurança, remuneração e carga horária), aspectos ambientais (direitos de terra, avaliação de impacto, prevenção de contaminação, uso do solo e da água), aspectos legais e boas práticas agrícolas (mecanização, fertilizantes, defensivos).

Preparar os fornecedores para atender os requisitos dos mercados internacionais de soja certificada, em critérios de sustentabilidade, é outro ponto importante do programa, que não só identifica os fornecedores aptos a participar desses novos mercados, mas também fornece apoio àqueles que desejam se enquadrar às exigências. O produtor recebe um consultor contratado pela ADM com vistas a prepará-lo para a auditoria que será realizada por uma empresa independente. Ele também conta com toda a assistência necessária para se enquadrar nas exigências ambientais e legais. A auditoria é realizada uma vez por ano e tem validade anual. Isso significa que não basta o produtor comprovar uma única vez que está em conformidade com o programa. Para manter a certificação, ele deve fazer das ações de desenvolvimento sustentável uma prática permanente.

Existem vários pré-requisitos para o produtor interessado em se certificar. Por exemplo, não pode constar na lista de embargos do Ibama; também não deve figurar na lista de empregadores que tenham submetido trabalhadores à condição análoga à de escravo do Ministério do Trabalho e Emprego; nem de produzir soja em áreas desmatadas depois de julho de 2008, caso a propriedade esteja inserida no bioma Amazônia.

A certificação e as auditorias têm o objetivo de garantir que as conformidades sejam uma prática constante, e também que os produtores tenham condições de se adaptar às possíveis novas exigências do mercado consumidor, em permanente atualização. Toda assistência técnica é fornecida a custo zero para o produtor, porém as adequações em ativos são de sua própria responsabilidade. 

O produtor que possui o selo de sustentabilidade pode usufruir ainda de benefícios adicionais. Há, por exemplo, facilidades na obtenção de crédito, incluindo taxas diferenciadas e redução do número de acidentes de trabalho. Também há redução de problemas ambientais e trabalhistas e ganhos de eficiência obtidos através das boas práticas agrícolas. 

Como visto acima, promover ações sustentáveis que requerem o cumprimento rigoroso das leis ambientais, sociais, trabalhistas e de segurança do trabalho envolve o engajamento de vários atores na cadeia, como clientes e produtores. E também requer que se promova a cooperação entre todos, inclusive a troca de experiências com outras empresas do setor do agronegócio. 

É fundamental, portanto, que as organizações se unam a fim de tratar de temas relevantes para gerar mais sinergia e impactos positivos. É o caso, por exemplo, do desmatamento. Quanto mais as organizações de uma determinada região estiverem engajadas, mais fácil será atuar coletivamente em busca de resultados em benefício de todos, dos grandes produtores, da agricultura familiar, das empresas do agronegócio e da sociedade. É do interesse de todos que ações sustentáveis, como esta, sejam vitais para o alcance dos objetivos elencados pela ONU. 

Em uma empresa que tem como objetivo desenvolver um mundo mais sustentável, por meio de sua atuação no agronegócio, como a ADM, apoiar e promover iniciativas inclusivas como esta é um caminho para combater a fome, apoiar a construção de cidades mais sustentáveis, a criação e execução de padrões de produção e consumo sustentáveis, a proteção e recuperação de ecossistemas e a promoção do uso consciente das terras férteis para a agricultura. Estes são exemplos a serem observados, cada vez mais, por toda a cadeia do agronegócio.

Amanda Cosenza

Archer Daniels Midland (ADM) - Brasil

Amanda Cosenza, formada em engenharia química e ambiental, com pós graduação em Direito Ambiental, MBA Executivo na área de Business Administration e MBA em Estratégia para o Desenvolvimento Sustentável. É uma executiva de sustentabilidade e meio ambiente com mais de 20 anos de experiência em empresas como AMBEV, Mercedes Benz, Comgás, Suzano Papel e Celulose, Sadia, Biosev e atualmente é Gerente de Sustentabilidade da ADM do Brasil.

Possui sólida experiência profissional adquirida em posições executivas em empresas multinacionais, com a coordenação de equipes multidisciplinares. Sempre trabalhou na construção de relacionamentos e comunicação com diferentes níveis de interlocução: Governos, Poder Legislativo, ONGs e Organismos Internacionais, sendo representante das empresas em associações de classe e fóruns de discussão. Coordena Programas de Agricultura Sustentável com certificação; e o desenvolvimento da Plataforma de Sustentabilidade e Planejamento Estratégico da área.

Participa da implantação de uma Política de Não Desmatamento e respectivo monitoramento da cadeia de fornecimento e coordena vários programas de Investimento Social Privado. É a chairwoman do Comitê Tecnico do ISCC (International Sustainability and Carbon Certification) na América Latina.