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27/07/16 |   Agroenergia  Agroindústria

Dendê é opção para plantio em 30 milhões de hectares da Amazônia

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Foto: Zineb Benchekchou

Zineb Benchekchou -

Famoso no Brasil por seu uso tradicional na culinária nordestina, o óleo de dendê tem importância e versatilidade tão grandes que impressionam. Está presente nas indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. Não há oleaginosa mais produtiva – um hectare de dendezeiro gera cerca de cinco toneladas de óleo por ano, contra 700 quilos com a mesma área de mamona e 500 quilos no caso da soja. Entre os óleos de origem vegetal, é o mais comercializado no mundo, dominando mais de 30% do mercado total e 45% do mercado de óleos específicos para alimentos. 

Esse domínio tem motivo. O óleo de dendê é o melhor substituto para a gordura trans, e por isso é usado em alimentos como sorvetes, biscoitos e margarinas, a fim de garantir características como durabilidade, crocância e sabor. Também integra sabões, sabonetes, detergentes, lubrificantes e glicerina, dentre diversos outros produtos. Pode ser usado, ainda, para a produção de biocombustível. 

Uma série de fatores coloca o Brasil como uma das áreas potenciais para expansão sustentável da dendeicultura. O País conta com tecnologias de produção lançadas pela Embrapa; tem participação em apenas 0,5% da produção global de óleo de dendê; e suas indústrias importam mais da metade daquilo que precisam. Além disso, a Amazônia possui, somente em áreas já alteradas, 30 milhões de hectares aptos para o cultivo da palmeira. As informações provêm do Zoneamento Agroecológico da cultura, realizado em 2010, e que fez parte do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo do governo federal. 

A expansão da dendeicultura na área delimitada pelo Zoneamento faria do Brasil líder mundial na produção de óleo de dendê, sem que fosse necessário avançar nenhum metro sobre a Floresta Amazônica. Ou seja,  plantios da palmeira podem ser ecologicamente sustentáveis e ainda fonte de desenvolvimento social e econômico para milhares de famílias na Amazônia – preocupação importante, uma vez que a cultura se tornou vilã quando os maiores produtores de dendê do planeta, Indonésia e Malásia, foram acusados de desmatar suas florestas equatoriais para dar lugar às lavouras. 

Exemplo de como esse potencial pode ser mais bem explorado no Brasil e na Amazônia é o Pará, que concentra cerca de 90% da produção nacional de óleo de dendê. Além do pioneirismo por sediar a mais antiga agroindústria do ramo no País, a Denpasa, o estado apresenta, conforme o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Rui Gomes, áreas com aptidão agrícola, oferta de mão de obra e boa logística de produção – características que favoreceram a criação de outros empreendimentos do setor. "Esta concentração de empresas no estado levou ao fortalecimento da cadeia produtiva regional", disse. 

Dendê e ciência
Nativo da África Ocidental, o dendezeiro se adaptou bem às regiões tropicais da Ásia e América. Seu óleo se tornou uma commodityde importância global e há décadas provoca interesse da ciência. No Brasil, a Embrapa foi pioneira nas pesquisas e conduz os trabalhos de conservação e melhoramento genético do dendezeiro (Elaeis guineensis), de origem africana, e também do caiaué (Elaeis oleifera), palma de origem americana. 

A partir do estudo e conhecimento dessas espécies, a Embrapa tem desenvolvido tecnologias que garantem o bom desempenho dos cultivos da palmeira no campo, com alta produtividade, resistência a pragas e doenças e melhor qualidade do óleo, além da sustentabilidade dos plantios, diminuição do custo de produção e alternativas viáveis para a agricultura familiar. Graças à pesquisa científica, o Brasil já conta com a disponibilização de sistemas de produção, tecnologias para produção de sementes, zoneamento agroecológico da cultura e uso como biocombustível. Também já foram lançadas oito cultivares, sendo sete do tipo tenera (híbridos intraespecíficos da espécie africana - cruzamento entre dendê e dendê)  e um híbrido a partir do cruzamento entre o dendezeiro e o caiaué. 

O plantio do dendezeiro com outras culturas nas entrelinhas é boa alternativa para a agricultura familiar e pode gerar renda e segurança alimentar durante a fase improdutiva da palmeira, nos três primeiros anos. A Embrapa Roraima e a Embrapa Amazônia Ocidental já realizaram experimentos que comprovam a eficiência do sistema. No Amazonas, foram avaliados consórcios do dendezeiro com banana, mandioca e abacaxi. Com o abacaxi, houve amortização de 100% dos custos de implantação e manutenção do sistema no período de três anos. Os sistemas palma/banana e palma/mandioca amortizaram 86,7% e 64,5% dos investimentos, respectivamente, no mesmo período. Outros sistemas avaliados favoreceram o crescimento vegetativo da palma, como o consórcio com feijão, milho e amendoim.

Potencial da cultura

Por Felipe Rosa

A Associação Brasileira de Produtores de Palma (Abrapalma) listou quatro importantes características que destacam o potencial do dendê:

* Produz até 10 vezes mais do que outras oleaginosas;

* Bem orientada, seguindo os critérios sociais e ambientais exigidos pela legislação brasileira e pelos modernos critérios internacionais de sustentabilidade, a cultura do óleo de palma pode ter importante papel na redução da pobreza das regiões produtoras;

* No Brasil, só pode ser plantada em áreas degradadas, que não teriam outra utilização;

* Pode ajudar no sequestro de carbono, contribuindo para mitigar os problemas relacionados às mudanças climáticas.

A palmeira que sequestra carbono

Por Fabio Reynol

Um poste metálico de 23 metros de altura domina a paisagem em meio a uma plantação de 25 hectares de dendê, a 100 km de Belém do Pará. A torre é um sofisticado equipamento de medição atmosférica e tem demonstrado que o dendezal é um potente assimilador de carbono atmosférico. 

No meio da torre, a 12 metros de altura, uma fonte de luz infravermelha dispara flashes intermitentes no ar. A cada décimo de segundo, o equipamento registra o número de moléculas de carbono encontradas sobre a plantação. Os resultados são comparados às medições de outra torre, distante 300 km dali sobre uma floresta nativa.

Instalado no município paraense de Moju, o experimento começou em janeiro de 2014 e há um ano iniciou as medições de carbono. "A série registrada indica que as taxas de assimilação de carbono do dendê são altas: tão grandes ou maior que a de uma floresta primária", declara Alessandro Carioca de Araújo, pesquisador da Embrapa responsável pelo estudo. Os dados têm confirmado pesquisas com a planta na Ásia, continente de origem da palmácea.

Carioca conta que o dendê é uma ótima opção de cultura para áreas já alteradas do bioma amazônico. "Além de ser rentável, o plantio de dendê ainda pode contribuir para mitigar efeitos das mudanças climáticas, como o aquecimento global, graças à capacidade de assimilação de carbono", frisa o pesquisador. 

A pesquisa inclui também medições de carbono no solo e agora começa a fase de avaliação da biomassa. "Já sabemos que o dendê é um bom assimilador de carbono, mas é preciso saber o quanto desse elemento é retido na planta e no solo, que é a capacidade de reter carbono", explica Carioca. É justamente isso que será averiguado no estudo da biomassa.

A expectativa é que se confirmem os resultados obtidos na Malásia em que se demonstraram a grande capacidade da espécie em reter carbono. No entanto, o pesquisador esclarece que não há garantias de que a resposta no Brasil seja a mesma. "Esse desempenho pode variar devido a inúmeros fatores, como os microrganismos presentes no solo, por exemplo, mas as perspectivas são muito boas", afirma.

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Felipe Rosa
Embrapa Amazônia Ocidental

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