04/01/14 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Novos tomates: pesquisa disponibiliza híbridos com resistência e alto teor de nutrientes

Informe múltiplos e-mails separados por vírgula.

Foto: Acervo Embrapa

Acervo Embrapa - O BRS Zamir apresenta alta concentração de licopeno e o BRS Imigrante é resistente a raça 3 do fungo Fusarium

O BRS Zamir apresenta alta concentração de licopeno e o BRS Imigrante é resistente a raça 3 do fungo Fusarium

Desde sempre, a preocupação da pesquisa agronômica em geral e com as hortaliças, em especial, foi relacionada à produtividade e à resistência a doenças, afinal era preciso garantir retorno ao investimento do produtor e alimentos na mesa de todos os brasileiros. E o tomate não fugiu à regra.  Nos últimos tempos, além desses requisitos, os pesquisadores trabalham para desenvolver materiais com maiores teores de vitaminas e nutrientes, são as chamadas hortaliças biofortificadas.

A biofortificação fez parte, por exemplo, das pesquisas de melhoramento que resultaram no tomate híbrido BRS Zamir, lançado recentemente pela Embrapa Hortaliças (Brasília-DF). A nova cultivar do tipo cereja alongado ("grape") representa uma nova geração de tomates nutricionalmente enriquecidos e que conserva todas as principais características inerentes do segmento "grape", como textura, cor e sabor. De acordo com pesquisador Leonardo Boiteux, que coordena o Programa de Melhoramento de Tomate da Unidade, a procura por tomates do tipo "gourmet" tem crescido muito no Brasil e o novo tomate tem respondido bem a esse mercado crescente, e exigente.

"O desempenho do híbrido BRS Zamir na parte sensorial – textura, cor e sabor -, na conservação pós-colheita e na produtividade tem sido bastante positivo, qualidades que foram comprovadas nos testes realizados em Goiás e em São Paulo e que colocam o tomate entre os melhores materiais genéticos em termos de desempenho agronômico", anota o pesquisador, para quem a combinação bem equilibrada entre os teores de açúcares e ácidos faz dos frutos do BRS Zamir uns dos mais saborosos dentro do segmento "grape".

Por outro lado, as vantagens no aspecto nutricional também não são pequenas: elevados teores do carotenoide licopeno, por volta de 114 mg/kg de peso, conferem ao híbrido uma maior quantidade do antioxidante tido como um dos mais eficazes na prevenção de doenças degenerativas e cardiovasculares. Essa substância impede a oxidação de LDL, conhecido popularmente como colesterol ruim, responsável pela formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos. Sua presença no organismo ajuda a prevenir a ocorrência de acidentes cardiovasculares, infarto do miocárdio etc.

Para os produtores de tomate, a produtividade e durabilidade pós-colheita do BRS Zamir são vantagens consideráveis – são produzidos, em média, oito quilos por planta e sua duração na prateleira chega a até 15 dias, após a colheita. Conforme Boiteux, um gene que estimula a bifurcação dos cachos aumenta o número de frutos por penca.

O cultivo protegido é preferencialmente recomendado para o novo híbrido, embora as suas qualidades também sejam mantidas no plantio em campo aberto. Nesse caso, o pesquisador José Mendonça, que integrou a equipe de lançamento do tomate, recomenda que seja priorizado o cultivo na época de sequeiro, no período de maio a setembro, quando a ocorrência de chuvas costuma ser menor com relação aos outros meses do ano.

TOMATE BRS IMIGRANTE

Assim como o segmento "grape", o mercado de tomate tipo salada, outra nova  tendência do mercado estimulada pelo aumento da demanda,  também foi contemplado com o lançamento pela Embrapa Hortaliças do BRS Imigrante, híbrido F1 para consumo in natura. A tolerância às principais espécies de begomovírus (geminivírus) e resistência às três raças do fungo Fusarium oxysporum f. sp. Lycopersici são apontadas como um diferencial em comparação a outros tomates de mesa do grupo salada.

De acordo com pesquisador melhorista Leonardo Boiteux, o BRS Imigrante é um dos primeiros híbridos de tomate que combina tolerância contra os geminivírus e o Fusarium raça 3. "A vantagem comparativa da presença de resistência a esses patógenos é muito grande no cultivo em áreas de ocorrência simultânea, tanto do begomovírus como da raça 3 do Fusarium", destaca o pesquisador, que lembra o "caráter emergencial" dos primeiros passos do projeto de pesquisa, desenvolvido a partir de uma demanda de produtores do Espírito Santo, assustados com a presença de uma nova raça do fungo nos tomateiros. "Se a demanda é emergencial, a solução é tecnológica", sublinha Boiteux, que destaca a parceria com o pesquisador Hélcio Costa do  Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper "nas fases de identificação da doença e de validação da cultivar".

Segundo ele, até 2005 só existiam no País duas raças do fungo Fusarium, facilmente controladas com cultivares resistentes. Mas o panorama não foi mais o mesmo a partir da identificação de uma nova raça até então não detectada no Brasil: nomeada como raça 3, sua presença foi percebida inicialmente no município de Venda Nova do Imigrante/ES, mas hoje é encontrada nos estados da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Todas as cultivares de tomate, até então líderes de mercado, se mostraram extremamente vulneráveis ao fungo.

Ao atacar as plantas do tomate,  o patógeno penetra pelas raízes e se instala nos vasos de xilema, tecido das plantas vasculares por onde circula a água com sais minerais dissolvidos desde a raiz até às folhas, que amarelam e murcham. Os frutos apresentam pouco desenvolvimento e amadurecem precocemente, o caule próximo às raízes mostram necrose do sistema vascular, se atrofiam e ocorre a morte das plantas.

Como o ataque das plantas é realizado através do solo, o uso de produtos químicos não garante o seu total controle. Daí a importância de híbridos resistentes, a exemplo do BRS Imigrante, que promovem a redução dos custos de produção – calcula-se que 15% desses custos são atribuídos ao uso de fungicidas, para controle das doenças causadas por fungos.

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS

Além da resistência às três raças do Fusarium,  o híbrido também se destaca pela firmeza e tamanho dos frutos, pelo sabor adocicado (4.5º brix) e pela sua duração pós-colheita. "Geralmente, os tomates com alta resistência à raça 3 do Fusarium apresentam frutos moles e com reduzida vida após a colheita, o que não ocorre com o BRS Imigrante", destaca Boiteux.

Conforme o pesquisador Aiton Reis, da área de Fitopatologia, que atuou na pesquisa, a primeira fase dos trabalhos envolveu a seleção de fontes de resistência, seguida do desenvolvimento de linhagens avançadas com características promissoras. "Chegou-se a duas linhagens, uma resistente ao Fusarium e a segunda com características agronômicas interessantes, e resistência a geminivírus, além de maior produtividade.

Em avaliações conduzidas em cultivo protegido na região de Brasília-DF, e em campo aberto em Pelotas-RS e Venda Nova do Imigrante/ES o tomate tipo salada apresentou ciclo médio e potencial produtivo de até 480 caixas de 25 kg por 1.000 plantas (12 kg/planta).

LEI DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

As duas cultivares de tomate foram desenvolvidas via contratos de parceria em pesquisa e desenvolvimento agropecuário celebrados entre a Embrapa Hortaliças e a empresa Agrocinco. Os referidos contratos são regidos pelos termos da Lei nº 10.973, de 02 de dezembro de 2004, e pelo Decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005, que dispõem sobre incentivos à inovação e garante exclusividade de comercialização das sementes pela empresa Agrocinco, que atende pelo telefone (19) 3879-6787.

BRS Zamir e BRS Imigrante: os nomes de batismo dos híbridos foram homenagens prestadas por Boiteux aos que considera como "militantes da causa", como o geneticista israelense Daniel Zamir,  e "os povos imigrantes que consolidaram no Brasil o hábito de cultivo e consumo de hortaliças, especialmente do tomate".

TOMATE – UM MERCADO DINÂMICO E COMPETITIVO

Frutos de ótima aparência e de tamanho homogêneo são parâmetros de diferenciação que têm o poder de incrementar o mercado por agregação de valor dos materiais. No caso do tomate, dependendo da variedade, apresenta distintos tamanhos, formatos e composição bioquímica/nutricional. Assim, para o segmento do mercado de tomate de mesa (consumo in natura) tem sido observado que frutos com uma enorme diversidade de colorações e formatos compõem o mix da comercialização em feiras livres, super e hipermercados.

Elevação do nível tecnológico e maior especialização da mão de obra marcam os atuais sistemas de produção, que incluem a expansão do cultivo pela agricultura familiar e por grupos empresariais - no caso do tomate industrial, pela expansão da produção pelas empresas existentes.

Nos últimos 30 anos, novas cultivares e híbridos de tomate foram lançados, com alguns destaques, como o tomate do segmento Santa Cruz, por exemplo, cultivado em diversas regiões brasileiras. Esse tomate se caracteriza por frutos firmes, arredondados e bem vermelhos. Já o tipo italiano é alongado, tem sabor adocicado e é adequado para fazer molhos. Mais graúdo, o tomate-caqui tem polpa grossa com sabor um pouco ácido. Existem os híbridos comerciais do segmento "longa vida", de formato do tipo salada, e cultivares rasteiras, algumas vezes usadas também para consumo in natura.

Por outro lado, o segmento de tomates do tipo "gourmet" tem crescido e diversificado muito na última década. Dessa forma, cresce o mercado para os tomates de tamanho ideal para ser consumido inteiro ou em saladas, que são os tipos de tomate "grape", de tamanho reduzido e de sabor diferenciado que se apresentam em formatos semelhantes aos frutos da uva.  Outra novidade no mercado brasileiro são os tomates em "cachos" (tomatoes-on-the-vine/TOVs), que são comercializados em 4 ou 6 frutos ainda presos aos ramos. Exalam um agradável aroma de tomate, que funciona como indicativo de intenso sabor, apelo natural e saudável, ambos com vida de prateleira superior àquela dos tipos comuns. Por sua vez, o segmento cereja se diferencia por ser bem pequeno e de formato arredondado.

O trabalho de melhoramento genético vem agregando características de precocidade, alta produtividade, resistência às pragas, às doenças e adaptação a diferentes condições ambientais. Com essas características, foram lançadas pela Embrapa Hortaliças diversas cultivares nos últimos anos, assim como novas cultivares importadas estão sendo lançadas no mercado brasileiro. Nesse aspecto, vale salientar que no Brasil cerca de 90% das sementes de tomate utilizadas já são híbridas – nacionais e importadas.

Em termos comparativos, merecem destaque os tomates híbridos tipos salada e "grape", lançados recentemente pela Unidade Hortaliças, que apresentam como vantagens maior conteúdo nutricional e resistências às doenças, resultando consequentemente  em maior sustentabilidade para o cultivo.

Outra grande vantagem dos tomates da Embrapa Hortaliças, além da elevada produtividade e excelente qualidade dos frutos, é o menor custo das sementes. Por serem híbridos nacionais, quando comparadas com as sementes de tomates importadas o custo é cerca de 30% mais baixo.

Colaboração dos pesquisadores Nirlene Vilela e  Leonardo Boiteux.

Anelise Macedo (2.749 DF)
Embrapa Hortaliças

Contatos para a imprensa

Telefone: (61) 3385-9109

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Galeria de imagens

Encontre mais notícias sobre:

tomatebrszamirimigrantepesquisa-e-desenvolvimento