O Seminário Nacional Cozinha Sem Sobras, organizado pelo Sesc Ceilândia (DF), reuniu, em 29 de setembro, centenas de estudantes, nutricionistas, comerciários e profissionais engajados com políticas públicas alimentares. A data escolhida coincide com o dia internacional de conscientização sobre desperdício de alimentos, iniciativa lançada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e ONU Meio Ambiente para envolver mais a sociedade civil no enfrentamento do problema. O evento contou com debates sobre gastronomia social, capacitações para nutricionistas e palestras sobre desperdício de alimentos e políticas públicas alimentares. O analista Gustavo Porpino, da Embrapa Alimentos e Territórios, apresentou na palestra de abertura oportunidades de ação para o Brasil reduzir o desperdício de alimentos nas etapas de varejo e consumo. Porpino também abordou tendências sobre consumo de alimentos observadas durante os eventos da Semana do Clima, em Nova York. Ao se referir ao projeto Cozinha Sem Sobras, Valcides de Araújo, diretor regional do Sesc, salientou que o Brasil enfrenta momento econômico delicado, mas tem grande capacidade de buscar soluções criativas. Para ele, iniciativas de gastronomia social têm potencial de levar mais conhecimento aos mais necessitados, valorizam as mulheres e fortalecem a nutrição. “Incrementar o reaproveitamento dos alimentos tem potencial de levar comida saudável para 12 milhões de brasileiros, e o Sistema S como um todo pode contribuir nesta frente”, avalia. O empresário Sebastião Abrita, vice-presidente do Sesc, destacou que o setor privado precisa ser solidário e apoiar programas como o Mesa Brasil, que coordena uma rede de bancos de alimentos presente em todos os estados brasileiros. “As unidades móveis do projeto Cozinha Sem Sobras atuam em regiões de alta vulnerabilidade social e oferecem educação nutricional”, comentou sobre a cozinha móvel do Sesc que percorre regiões carentes do Distrito Federal. A nutricionista Barbara Mercini enfatizou que o aproveitamento integral dos alimentos não é restrito às classes mais baixas. “O reaproveitamento deve ser prática de todos. Precisamos desconstruir preconceitos alimentares e mostrar o impacto positivo da alimentação saudável na qualidade de vida”, citou. Para mostrar aos participantes do seminário como alimentos inusitados, tais como brigadeiro de chuchu e bolos feitos com cascas de frutas, podem ser saborosos, a chef Neide Marco, especialista em gastronomia sustentável, preparou um café da manhã com diversas receitas criativas. Ao final do evento, Neide realizou uma cozinha show. A professora de nutrição Daniela Frozi, da Universidade de Brasília (UnB), avaliou que o aumento da insegurança alimentar é “um cenário alarmante” que demanda “integração intersetorial de políticas públicas”, desde as pensadas para valorizar a agricultura familiar até ações de compras públicas de alimentos, valorização da alimentação saudável nas escolas, e mudança de comportamento de consumo. “Os avanços conquistados pelo Brasil têm histórica relação com a sociedade civil organizada e democracia participativa”, comentou. Para a professora, os programas de transferência de renda, isoladamente, não têm capacidade de reduzir significativamente a fome. “Envolve renda, participação e controle social, responsabilidade técnica dos profissionais de nutrição, atuação ética em políticas públicas integradas, entre outros fatores”, acrescentou.