05/12/22 |   Segurança alimentar, nutrição e saúde

Missão da FAO Brasil visita comunidades de pescadoras em Alagoas

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Foto: Nadir Rodrigues

Nadir Rodrigues - Representantes da FAO e da Embrapa discutem fortalecimento das ações em parceria

Representantes da FAO e da Embrapa discutem fortalecimento das ações em parceria

Uma missão técnica da FAO Brasil, coordenada pela Embrapa, esteve em Alagoas em 1° e 2 de dezembro. A equipe visitou duas comunidades em Jequiá da Praia, no litoral sul de Alagoas, onde se reuniu com as mulheres da Associação de Pescadoras e Muquequeiras da Comunidade de Lagoa Azeda, e também com as integrantes da Associação Mulheres em Ação de Jequiá da Praia, a Amaje, que recebeu este ano o Prêmio Mulheres Rurais promovido pela Embaixada da Espanha pelo trabalho com o aproveitamento de cascas de siri, transformando-as em adubo orgânico.

O objetivo da missão foi conhecer alguns projetos desenvolvidos em conjunto pela Embrapa, FAO e outras instituições no Nordeste, além de avaliar a criação de outras ações e iniciativas em parceria para beneficiar as comunidades locais, em especial as da Rede de Mulheres Pescadoras da Costa dos Corais, de acordo com o chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió, AL), João Flávio Veloso. Doze municípios de Alagoas integram essa rede, que ainda tem conexões com outros estados nordestinos.

Rafael Zavala, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO no Brasil, e o coordenador de projetos, Sérgio Dorfler, foram acompanhados por pesquisadores e técnicos da Embrapa, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do projeto Terra Mar, ligado à GIZ Brasil, empresa de cooperação técnica alemã.

A presidente da Associação de Pescadoras e Muquequeiras de Lagoa Azeda, Eliane Matias, conhecida como Lili, mostrou com orgulho peixes e crustáceos trazidos pelos associados, resultado da pesca artesanal no mar e na lagoa.  O povoado tem apenas uma rua asfaltada, onde se situa a entidade. Ali em frente estão cerca de vinte barcos pequenos utilizados, principalmente, para a pesca de camarões.

Nesse cenário, algumas esteiras exibem peixes salgados secos ao sol, denominados “muqueca”, resultado de uma técnica artesanal tradicional da localidade. Esses peixes são um produto secundário da pesca dos camarões, que geram uma receita extra para a comunidade.

Desafios para preservar tradição
Para Lili, é fundamental valorizar e incentivar as mulheres pescadoras e os jovens, para que a tradição da comunidade seja preservada. Ela contou dos desafios que enfrentam no dia a dia, desde a falta de infraestrutura para consolidar a Associação, recém-criada e com uma sede inacabada, até a dificuldade de comercialização, levando os pescadores a venderem para intermediários os camarões e pescados por valores bem inferiores aos que os mesmos produtos alimentícios são comercializados na capital, distante a apenas 46 quilômetros dali.

Outra preocupação é integrar os jovens à atividade pesqueira. Por se tratar de uma área de águas muitas vezes agitadas e devido à ausência de um píer adequado, os pescadores do povoado têm receio de incluírem os jovens e as mulheres na atividade. Mas Janaína Matias, filha de Lili, é uma entusiasta da profissão e luta para superar esse obstáculo. Como filha de pescadores, acredita que precisa se preparar e se capacitar para ajudar a levar o sonho da comunidade adiante: viver da pesca com dignidade, renda justa e reconhecimento.

Zavala destacou a importância de apoiar as comunidades tradicionais, em especial mulheres, jovens e indígenas. O representante da FAO Brasil disse que, entre as prioridades da organização, está o incentivo a programas de capacitação para formar novas lideranças, essenciais na preservação da cultura e da segurança alimentar e sustentável dessas comunidades.

Segundo Ana Carolina Sena Barradas, analista ambiental do ICMBio, em torno de 70% a 80% dos moradores do município vivem da pesca. Assim, é preciso estimular a continuidade do ofício, oferecendo condições de trabalho e fortalecendo as políticas públicas locais voltadas à pesca artesanal.

Beneficiamento de resíduos de siri
Na Amaje, a presidente da Associação, Eliane Farias, e a vice-presidente, Josineide Pereira Gomes, conduziram os visitantes pelas histórias de lutas e conquistas da comunidade Pingo D’Água e do povoado do Algodoeiro, localizado na Reserva Extrativista Marinha (Resex) da Lagoa do Jequiá – unidade de conservação criada por decreto presidencial em setembro de 2001, onde é feito o beneficiamento de resíduos de siri, projeto desenvolvido com apoio técnico do Projeto Terra Mar, da Rede Costa dos Corais e do ICMBio.

Na sede da instituição são feitas e comercializadas peças artesanais, especialmente, a partir da fibra de bananeira e de resíduos de siri, além do artesanato com macramê e crochê, uma ação para diversificar as atividades e gerar renda para as mulheres. De barco até o povoado, a missão reuniu-se com cerca de 20 das 136 mulheres que integram a Amaje. A presidente – chamada de Luquinha –, falou com entusiasmo sobre o reconhecimento do trabalho feito com o reaproveitamento do resíduo do siri, transformando-o em adubo orgânico.

O projeto de sustentabilidade ganhou o prêmio Mulheres Rurais Espanha Reconhece, uma iniciativa da embaixada espanhola no Brasil, com apoio da FAO, para o qual competiram 482 trabalhos do País. A atividade envolve marisqueiras, pescadoras e artesãs locais, fortalecendo a agricultura familiar, além de contribuir para a limpeza da Lagoa Jequiá, onde havia o descarte das cascas, que agora são recolhidas e tratadas. No beneficiamento, as cascas são separadas e limpas; passam por um processo de secagem e depois são moídas e misturadas com outros ingredientes para virar adubo orgânico.

As associadas também mostraram a máquina forrageira e o barco a motor comprados com o dinheiro do prêmio. Ainda falaram sobre o trabalho de reciclagem de óleo de cozinha, que é transformado em sabão ecológico pelas mulheres da comunidade. “Mostramos também a beleza da nossa Lagoa. Nós queremos, no futuro, na nossa Associação, fazer um turismo de base comunitária, um turismo de vivência para os turistas que vierem nos visitar”, contou Luquinha. 

Cultura alimentar e biodiversidade

Numa reunião realizada na Embrapa Alimentos e Territórios, os representantes da FAO conheceram as principais linhas de pesquisa e os projetos desenvolvidos. O chefe de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, Ricardo Elesbão, ressaltou a atuação da Unidade, que tem um forte foco no conhecimento da cultura alimentar e da biodiversidade. A equipe técnica da Embrapa destacou cerca de vinte projetos e ações conduzidos em parceria com outros centros de pesquisa da Empresa, universidades, associações e órgãos públicos.

Entre os temas estão a promoção da segurança alimentar e a geração de renda no Semiárido, o desenvolvimento territorial no Alto Sertão de Alagoas, a capacitação de merendeiras e de boleiras alagoanas, a produção de hortaliças e, em especial, de tomate pela agricultura familiar, os produtos alimentares diferenciados, a valorização do patrimônio ambiental e cultural, e o cultivo de variedades crioulas de inhame e abóbora. Fortalecer o nexo biodiversidade, alimento, território e gastronomia é um dos principais objetivos, segundo Elesbão.

Para Zavala, o intuito é “trabalhar em parceria para fortalecer essas ações”, já que existe uma grande similaridade entre as linhas de pesquisa da Embrapa Alimentos e Territórios e os temas prioritários da FAO. Esses temas estão focados na promoção da segurança alimentar e erradicação da fome; gerenciamento sustentável de recursos naturais; sistemas alimentares mais sustentáveis para as cidades; e suporte e promoção da cooperação Sul-Sul.

“Foi uma experiência fabulosa estar em contato com comunidades que precisam da Embrapa para poder se desenvolver de maneira sustentável. Os temas de pesca artesanal, sistemas alimentares e turismo comunitário são a resposta para o desenvolvimento de suas famílias e comunidades”, afirmou Zavala. De acordo com ele, as mulheres, os jovens e as comunidades tradicionais – povos indígenas e quilombolas – foram os grupos mais vulneráveis na pandemia da Covid-19 e são os que mais precisam agora, nesse período pós-pandemia, de um apoio institucional para se desenvolverem. Veja o vídeo da missão.

 

Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Alimentos e Territórios

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