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Queimar pastagem é sinônimo de prejuízo

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Atear fogo na pastagem cultivada pode parecer, para o produtor rural, uma alternativa atraente para renovar as pastagens e pôr fim às plantas invasoras. Geralmente, a queima é realizada no período da seca, para que as forrageiras rebrotem com as primeiras chuvas. O efeito a curto prazo é bastante positivo, pasto novo e macio para o gado se alimentar e área limpa de invasoras. No entanto, a longo prazo, os resultados são desastrosos, tanto para a pastagem quanto para o bolso do pecuarista.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande/MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Maria Ribeiro Araújo, essa técnica não é recomenda. De acordo com ela, ao realizar a queima para renovar o pasto, o produtor está queimando carne.

O comentário é demonstrado através de números. Se o pecuarista transformar o capim seco em feno ou silagem, ele obtém uma produção de quatro toneladas de feno por hectare, que consumidos pelos animais poderão produzir até 200 quilos por hectare de carne, aproximadamente, 13,5 arrobas. Ou seja, ele queima, com a arroba custando 50 reais, 675 reais por hectare. Esse cálculo, feito por Maria Ribeiro, apresenta claramente ao pecuarista o prejuízo com a queimada, isso sem levar em conta os danos ambientais, como poluição do ar e aumento do efeito estufa.

Caso a pastagem não seja transformada em feno ou silagem para alimentação animal, torna-se macega, um verdadeiro combustível para iniciar incêndio no período seco. O Estado de Mato Grosso do Sul tem cerca de 120 mil quilômetros quadrados da área de pastagem cultivada que se encontram em diferentes graus de degradação. O que, praticamente, equivale à área de três estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba. O fogo é responsável por parte dessa degradação.

Queima anual - Quando as queimadas são sucessivas, ano após ano, a pastagem pode ser totalmente destruída. O fogo mata os microorganismos do solo; esgotam-se as reservas de crescimento das gramíneas; o capim começa a desaparecer, deixando o solo descoberto e sem proteção; a ação dos ventos e das chuvas leva os nutrientes da terra e o solo vai ficando compactado e suscetível ao estabelecimento de algumas espécies de invasoras.

Depois de todos esses prejuízos, se a pastagem ainda puder ser recuperada, o pecuarista vai gastar em torno de 500 reais por hectare para recuperá-la. O retorno do investimento levará em média três anos.

Riscos para bezerros - Após as primeiras chuvas depois da queimada, o pasto rebrota rápido e bonito. Logo, os produtores soltam os animais para alimentarem-se da nova pastagem. No entanto, o rebrote tem muita água e pouca fibra. A mudança de concentração da pastagem força uma diarréia no animal nos primeiros dias, pois ele acaba alimentando-se somente de líquido. Esse tipo de diarréia é chamada de "diarréia verde", processo que não indica nenhum tipo de infecção, mas que pode ser prejudicial em animais que estão iniciando o pastejo.

O efeito nos adultos não é problemático, mas em um bezerro, a diarréia causa desidratação e o debilita, deixando-o suscetível a contrair doenças oportunistas. O pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Renato Andreotti, recomenda ao produtor rural não colocar bezerros nesta nova pastagem para evitar possíveis danos para a saúde do animal e prejuízos econômicos.

Alternativas para evitar a queimada - Existem várias maneiras de o pecuarista evitar a queima da pastagem cultivada, como por exemplo: diversificação das espécies de forrageiras, divisão de invernadas, consorciação com leguminosas, banco de proteínas, adubação de formação e manutenção, e fazer aceiros. No que diz respeito ao rebanho, a pesquisadora Maria Ribeiro aconselha que o produtor rural equilibre a taxa de lotação e faça rotação de pastagem com intervalo de pelo menos 30 dias para eliminar os parasitas da pastagem. Ainda, de acordo com ela, caso o produtor não possa fazer feno ou silagem, pode-se optar pela suplementação com uréia. Todas são alternativas para evitar que o pecuarista queime carne e jogue o lucro pela janela.

Gisele Rosso - DRT 3091/PR Embrapa Gado de Corte Telefones: (67) 368-2142 e 368-2023 E-mail:girosso@cnpgc.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Pecuária e Pastagens\Gado de Corte 

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