Agricultura familiar

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autor

Miguel Ângelo da Silveira - Consultor autônomo

 

A agricultura não se resume a uma atividade produtiva como as outras, tão somente inscritas na economia de mercado. Ademais, não se deve esquecer que a lógica do mercado se opõe aos interesses da agricultura familiar. Os produtores familiares  interrogam se na agricultura do futuro haverá espaço para eles, uma vez que cada dia mais as decisões sobre o setor agrícola são tomadas por outras pessoas melhor informadas e mais equipadas negociando nos grandes centros mundiais.

A evolução dos problemas socioambientais se dá, em boa parte, em razão dos fatores econômicos da chamada globalização da economia e da imposição de seus amargos remédios como, por exemplo, a grande competitividade internacional de mercados. Ao mesmo tempo, coloca em risco real de extinção a produção familiar que perde, a cada dia, um pouco da sua tradição, suas regras e valores. Contudo, a persistência da força produtiva dessas famílias se manifesta destacando as suas capacidades intrínsecas de produzir alimentos sadios e de qualidade; garantir empregos para os seus membros; preservar a cultura alimentar, as paisagens, os recursos naturais e o ambiente físico e biológico - fato particular que possibilita a manutenção da relação das sociedades com a natureza.

Foto:Maria Aico Watanabe 

Plantação de brócolis

Figura 1. Plantação de brócolis no sistema da agricultura familiar

 

A preservação e o fortalecimento político da agricultura familiar, associados às características intrínsecas e à importância estrutural do núcleo familiar, formam a base para o estabelecimento de futuros sistemas agroecológicos. A real sustentabilidade, como dimensão completa, está fortemente relacionada à aquisição de estabilidade ecológica, a qual pode ser obtida em sistemas mais complexos de policultura, os mais afeitos e adequados à gestão agroecológica. A agricultura familiar tem grande potencial para a agroecologia, não somente no âmbito específico do sistema de produção em si, mas no domínio dos seus atributos culturais amplos.

De um lado, o domínio do uso de insumos e técnicas e, de outro, os conhecimentos tradicionais de gestão que ultrapassam o cultivo e se orientam a toda a propriedade, com suas inter-relações e complementaridades, constituem um patrimônio cultural ainda restante após a modernização dos sistemas agrícolas. Pode-se ilustrar como uma dessas expressões culturais substanciais, a persistência de formas de solidariedade (ajudas mútuas, mutirões, etc) que se estabelecem para superar as dificuldades da produção e, num plano geral, as da sobrevivência. Além de tudo, e um pouco como resultante, a agricultura familiar tem notável capacidade de produzir excedentes para o mercado, com diversidade e quantidade apreciáveis. O cruzamento entre produção econômica, produção ecológica e sistemas de agricultura familiar (incluídos os assentamentos rurais da reforma agrária) apresenta-se hoje como uma forte demanda potencial.

 

Foto: Raquel Ghini


Figura 2. Secagem de banana: agricultura familiar
(Embrapa Meio Ambiente)