Avaliação

Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021

Autor

Vera Lúcia Scherholz Salgado de Castro - Embrapa Meio Ambiente

 

De uma maneira geral, quando os pesticidas são aplicados na agricultura, se distribuem também no ambiente e conseqüentemente podem entrar em diversos organismos animais por diferentes vias de exposição. Quando estas substâncias são dispersas no ambiente, as populações das áreas próximas podem ser expostas às mesmas, por meio da inalação de gases ou partículas de água, ou comida, ou absorção pela pele através do contato com a água de chuva, de mar, de rio, de uso doméstico, entre outros. Por meio do conhecimento do comportamento do produto nos diversos compartimentos ambientais, pode-se determinar as eventuais vias de exposição ou rotas de ingresso no organismo.

Foto: Eliana de Souza Lima 

Figura 1. Pulverização de agrotóxicos sem equipamentos de proteção

 

Os dados toxicológicos são informações obtidas da experimentação em animais de laboratório ou da coleta de dados da exposição humana derivada de casos acidentais. A avaliação do risco de ocorrência de danos à saúde consiste basicamente de quatro fases que permitem o estudo comparativo entre os agentes de risco, diferentes populações e diferentes tempos de exposição.

Após a identificação de um agente como causador de um determinado efeito (fase 1), a análise dose-resposta (fase 2) determina a relação entre a dose ou quantidade do agente e a resposta biológica usando dados de testes toxicológicos experimentais e epidemiológicos. A avaliação da exposição (fase 3) analisa a magnitude e a duração da exposição ao agente e as diferentes rotas de ingresso no organismo. Por último, a caracterização do risco (fase 4) examina a associação entre uma dose e a probabilidade da ocorrência do efeito adverso através do uso de modelos matemáticos.
 
Os modelos de estudo com animais têm sido amplamente utilizados e o risco de um efeito prejudicial para o ser humano é feito por meio da extrapolação interespécies, baseada em modelos farmacocinéticos e fisiológicos de comparação. O estudo de um determinado pesticida de causar danos a organismos vivos envolve a avaliação e a integração dos dados de diversas categorias de observações. Assim utiliza-se diferentes testes experimentais na tentativa de obter-se dados imparciais dos efeitos das substâncias em estudo, uma vez que a maior ou menor gravidade de ação no organismo dependerá de diversos fatores relacionados com o ambiente, o agente e o organismo.
 
Os protocolos de avaliação de agentes químicos levam em conta diferentes vias de exposição (oral, inalatória, cutânea) em diferentes tempos de exposição. Assim, há estudos de toxicidade agudos, de curto e médio prazos, como também a longo prazo. Os estudos compreendem ainda teste de avaliação do potencial carcinogênico, embriofetotóxico e mutagênico do agente. Em relação ao protocolo de agentes biológicos, além do enfoque da toxicidade de uma possível substância produzida pelo microrganismo ou algum componente da formulação, há também a avaliação de aspectos de patogenicidade, infectividade e persistência do agente microbiano.
 
Foto: Arquivo Embrapa Meio Ambiente 
Figura 2. Experimentos toxicológicos com rato
 
 
Este protocolo consiste de 3 fases. A primeira objetiva a avaliação da preparação do agente quanto a potenciais riscos devido a patogenicidade, infectividade e toxicidade agudas. A segunda fase é realizada quando a anterior indica a existência de infectividade ou toxicidade (teste agudos e subcrônicos). A terceira fase é feita quando há indícios de patogenicidade na fase 1, sendo avaliados também os efeitos reprodutivos, orgânicos e de imunodeficiências.
 
Quando é observado um efeito prejudicial ao animal, a determinação de sua relevância para o homem é feita baseada nas condições de realização do teste. A validade do modelo utilizado depende primordialmente da sua sensibilidade, reprodutibilidade, do grau de interpretação do fenômeno biológico e da correta identificação e quantificação do efeito observado. Por último, considerando que a avaliação de risco toxicológico depende de uma comparação dos níveis de exposição com níveis que causem uma resposta biológica mensurável é, portanto, necessário se tomar conhecimento dos níveis de concentração cada vez mais aprimorados.