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Supersafra de grãos pode acarretar problemas na armazenagem

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"O bom rendimento na safra do trigo está comprometendo o sistema de armazenagem na região Sul".  O alerta é do pesquisador Irineu Lorini, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo ele, com praticamente todo o trigo brasileiro colhido, numa safra de 5,5 milhões de toneladas – a maior dos últimos dez anos – a comercialização está sendo lenta e os grãos devem ficar estocados por mais tempo a espera de melhor preço. O resultado desta armazenagem prolongada é o ataque de pragas e insetos, além de danos a infra-estrutura dos silos.

De acordo com a Embrapa Trigo, a produção de grãos no Brasil chega a 127 milhões de toneladas, enquanto que a capacidade de armazenamento se mantém em 90 milhões de toneladas. "Este é um dos motivos que leva a exportação do trigo apesar de não conseguir suprir a demanda interna no país, ou seja, exportamos grãos na safra porque não temos onde guardar para os períodos de entressafra, quando importamos trigo da Argentina", explica o chefe da unidade, Benami Bacalchuk.

No Rio Grande do Sul, a safra de trigo foi de 2,2 milhões de toneladas para uma capacidade de moagem que não chega a 900 milhões de toneladas. "Acreditamos que o excedente deste trigo deverá ficar armazenado, no mínimo, até março quando os armazéns são necessários para a entrada da esperada supersafra da soja", avalia Irineu Lorini. No Paraná, a safra de trigo atingiu 2,5 milhões de toneladas.

Com a colheita encerrada ainda em agosto, o Estado sofre com a falta de espaço para armazenagem. "Algumas cooperativas estão fazendo barricadas nas laterais dos silos para colocar grãos até o teto. O procedimento compromete a infra-estrutura do armazém e ainda resulta no maior ataque de pragas e insetos, já que não permite a aeração dos grãos", explica Lorini.

A euforia dos produtores com a qualidade e produtividade das lavouras de trigo, segundo Lorini, acabou relegando os cuidados com a limpeza dos armazéns para receber os grãos. O processo está resultando em perdas que podem chegar a 10% do rendimento total. "A maioria dos produtores não está limpando adequadamente os silos, deixando o trigo mais vulnerável ao ataque de besouros e traças", diz o pesquisador, lembrando que os moinhos estão sendo cada vez mais rigorosos no controle de qualidade: "Se encontrarem um inseto vivo, devolvem imediatamente a carga". O custo do tratamento químico chega a R$ 1 por tonelada de grãos, mas o pesquisador alerta que não existe veneno capaz de eliminar definitivamente as pragas, que podem voltar em menos de seis meses ou mesmo desenvolver resistência ao inseticida.

Eficiência no Controle de Pragas - O Manejo Integrado de Pragas (MIP) foi implantado pela Embrapa em 1999 e hoje conta com 11 unidades demonstrativas instaladas em cooperativas de grãos espalhadas nos principais centros produtores do país. Entre as recomendações do MIP está a limpeza do armazém, que deve ser lavado com jato de água desde o ponto de  entrada até o teto do silo, passando pelas esteiras, túneis e elevadores.

"Muitas pragas se reproduzem na poeira e resíduos de grãos, causando um prejuízo que pode ser evitado através de um processo de limpeza comum que usa apenas vassoura, aspirador e água", afirma Irineu Lorini. No caso do trigo, a praga mais comum é o Rhyzopertha dominica, um tipo de besouro que estraga seis vezes mais grãos do que precisa para se alimentar. "Este inseto não sobrevive em ambientes limpos. O controle é muito fácil quando a ação é preventiva, isto é, com o inseto eliminado do armazém antes da estocagem dos grãos".

Outras medidas protagonizadas pelo MIP é o tratamento preventivo do grão com inseticida, natural ou químico, logo na chegada ao armazém; a iluminação para eliminar traças; a identificação de focos de pragas e a disseminação do conhecimento entre todos os armazenadores;  e o monitoramento semanal de pragas e insetos na unidade. Algumas exemplos bem sucedidos na implantação do MIP são as cooperativas gaúchas Cotripal (Panambi) e Cotrijal (Victor Graeff), as paranaenses Integrada (Londrina) e Coopervale (Palotina) e a goiânia Caramuru (Rio Verde) que em dois anos de monitoramento  já atingiram a meta zero de insetos na armazenagem.

Joseani M. Antunes - MTb 9396/RS Embrapa Trigo Contatos: (54) 311.3444 - joseani@cnpt.embrapa.br  

Tema: Produtos Agropecuários\Grãos\Trigo

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