Olhar o alimento além da produção, com foco no consumidor e na multifuncionalidade da agricultura. Este é o principal diferencial da Embrapa Alimentos e Territórios, centro nacional de pesquisa estabelecido em Maceió (AL), que tem como propósitos prospectar e valorizar a biodiversidade, os territórios alimentares e as identidades culturais, promovendo a inclusão social, produtiva e econômica. A Unidade atua também para fortalecer políticas públicas voltadas para a alimentação saudável, respeitando as especificidades culturais e regionais dos consumidores e dando suporte aos processos de produção e consumo de alimentos. Esse nexo entre patrimônio cultural, biodiversidade e alimentos gera oportunidades de agregar valor à produção agropecuária brasileira, além de ter potencial de incrementar o turismo de experiência. Os hábitos alimentares e os próprios alimentos são fortes componentes da cultura dos povos, uma vez que envolvem não só a escolha dos ingredientes, mas passam pelos ritos, oportunidades de socialização e até posicionamentos ideológicos. Mais do que suprir necessidades fisiológicas, as tendências apontam que o consumidor moderno também busca alimentos relacionados à sensorialidade e ao prazer, à sustentabilidade e à ética. "Além de comer, o consumidor cada vez mais urbanizado quer conhecer a história do alimento, conhecer sua identidade”, afirma o pesquisador João Flávio Veloso Silva, chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios. É a partir dessa lógica, que parte da concepção de um consumidor cada vez mais consciente a respeito de seus hábitos alimentares, que a Unidade direciona suas atividades, visando ao desenvolvimento de novos processos e tecnologias também vinculados à nutrição, à saúde e à segurança alimentar. Um longo trabalho de prospecção apoiou a implantação do centro de pesquisa em Alagoas. O estudo que embasou a criação da Embrapa Alimentos e Territórios foi elaborado no início de 2016 e a efetiva criação ocorreu em 29 de junho de 2018. O objetivo é gerar informações e tecnologias, a partir de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação, que possibilitem a utilização e a valorização de produtos da biodiversidade brasileira na alimentação, o incremento da capacidade competitiva nacional e regional, o acesso a novos mercados, a inclusão produtiva e o atendimento às demandas de consumidores por alimentos diferenciados, nutritivos e saudáveis. Além de desenvolver novas tecnologias, produtos e processos alimentares, a Unidade busca ampliar o conhecimento do patrimônio alimentar nacional, promover novos modelos de inclusão produtiva e apoiar a melhoria dos sistemas de produção de alimentos nos territórios. O centro também atua no apoio à formulação e implantação de políticas públicas alimentares. A Embrapa Alimentos e Territórios busca, ainda, integrar as cadeias produtivas e a inovação agropecuária à saúde, à gastronomia e à indústria do turismo, que possuem amplo potencial de crescimento no País. Entre as suas principais linhas de pesquisa estão biodiversidade e patrimônio alimentar; selos distintivos de qualidade e origem, e certificações; antropologia e sociologia da alimentação; circuitos de produção e consumo de produtos agroalimentares; sistemas agroalimentares diferenciados; agregação de valor, gastronomia e turismo rural; e nutrição e saúde. Como tudo começou A proposta de criar uma Unidade da Embrapa em Alagoas surgiu a partir de uma oportunidade identificada pela então ministra da Agricultura, Kátia Abreu. O intuito foi somar esforços aos demais 42 centros de pesquisa da Embrapa visando responder, especialmente, a demandas contemporâneas da sociedade brasileira em aspectos relacionados à alimentação saudável, e à necessidade estratégica de agregar valor aos produtos alimentares e da biodiversidade brasileira. “A escolha de Alagoas para receber um centro de pesquisa da Embrapa fundamentou-se na necessidade da presença de instituições voltadas à implementação de políticas públicas promotoras do desenvolvimento territorial e de inovação na agricultura e na alimentação, uma vez que o estado possui indicadores muito desfavoráveis quanto à segurança alimentar da sua população. Outra razão é que Alagoas era uma das três Unidades da Federação em que a Embrapa não possuía base física no formato de centro de pesquisa, e o estado vinha reiteradamente solicitando essa presença”, complementa o pesquisador. Fortalecimento das cadeias produtivas e do turismo Com um setor de turismo vibrante, que demanda grande quantidade de alimentos de qualidade, diversidade e tipicidade, Alagoas ainda conta com uma agropecuária diversificada, com cadeias produtivas de elevado potencial, como as de fruticultura, lácteos e horticultura, estrategicamente localizadas próximas aos centros consumidores de grandes cidades, de importantes regiões turísticas e também de portos para exportação. “Essa região deverá ser muito beneficiada com o fortalecimento da presença da Embrapa e de seus parceiros”, diz Ricardo Elesbão, chefe de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. O novo centro de pesquisa já vem colaborando para o fortalecimento de várias cadeias produtivas, além de apoiar iniciativas no Canal do Sertão. O trabalho desenvolvido pela Unidade tem sinergia com outras instituições públicas e privadas tanto em âmbito regional, quanto nacional e global, reforçando ações de parceria e cooperação para a superação de desafios, especialmente na região. O apoio da Bancada Parlamentar de Alagoas tem sido fundamental para a implantação e o funcionamento da Unidade. A Embrapa Alimentos e Territórios também contribui para o desenvolvimento regional, criando estratégias de valorização de produtos agroalimentares, e estreitando a conexão destes produtos com os consumidores. Os impactos sociais almejados são aumento do emprego e da renda, geração de produtos alimentares funcionais, valorização de produtos alimentares brasileiros, agregação econômica dos produtos territoriais e geração de conhecimento sobre produtos diversos para uso gastronômico. Já são 40 empregados atuando nas áreas de pesquisa, inovação, administração e comunicação da Unidade, que está instalada provisoriamente no prédio da Secretaria de Agricultura do estado. A futura sede será no distrito de Ipioca, a 20 quilômetros do centro de Maceió, numa área de 16 hectares doada pelo governo do estado, onde será recuperada uma antiga fábrica têxtil, cujas edificações datam do início da década de 1920. O projeto arquitetônico se espelha nos centros multifuncionais alimentares na França e contempla salas de trabalho e reuniões para as equipes de pesquisa e apoio administrativo, laboratórios, cozinhas experimentais e auditórios.