15/09/23 |   Agroecology and organic farming

Desafios de inovação para a agricultura orgânica são apresentados ao Mapa

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Photo: Liliane Bello

Liliane Bello -

Após dois anos de discussões, a Câmara Temática de Agricultura Orgânica do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) conheceu os resultados do grupo de trabalho formado para estabelecer uma agenda de inovação para o setor. O documento foi apresentado na última terça-feira, 12, pelo pesquisador José Antônio Azevedo Espíndola, da Embrapa Agrobiologia, presidente do portfólio Agroecologia e Produção Orgânica, e lista uma série de problemas e oportunidades indicados em questionários respondidos por produtores rurais, consultores, extensionistas e outros representantes ligados à pesquisa e à gestão pública.

Os questionários foram estruturados seguindo alguns eixos temáticos: solos e nutrição vegetal, fitossanidade, bem-estar animal, materiais genéticos animal e vegetal, comercialização e distribuição de produtos, entre outros. “O grupo de trabalho se debruçou sobre esses problemas e oportunidades e passou a discutir como eles poderiam servir de estímulo para a introdução da inovação no setor, buscando entender as demandas e atender ao setor. Por último, foi feito um exercício de sugerir ações estratégicas nos campos de pesquisa, transferência de tecnologia e políticas públicas, de forma a identificar caminhos pelos quais as instituições possam contribuir nesse processo de inovação”, destacou Espindola.

Segundo ele, a agenda é fruto de toda a evolução do setor, que começou a brotar no Brasil na década de 1970, nos primeiros encontros de agricultura alternativa, ampliando-se para um movimento amplo e que traz contribuições não apenas para produtores, mas também para a sociedade, a agricultura como um todo e o meio ambiente. O fato de apresentar práticas ou atividades agrícolas que respeitam o ambiente, como a rotação de culturas, questões relacionadas à proteção da superfície do solo, evitando problemas como erosão e impacto das chuvas, utilização de fertilizantes considerados naturais, mais adequados ao crescimento das plantas, a própria adubação verde e compostagem, entre outros processos, são exemplos dessas práticas sustentáveis.  

Ainda assim, gargalos não faltam. Um primeiro problema diz respeito à reduzida oferta local e regional de insumos e processos agropecuários para o manejo do solo e a nutrição vegetal. “Em outro aspecto”, diz o pesquisador, “foram identificadas como problema a falta de estímulo para a produção de insumos destinados ao manejo fitossanitário e a carência de práticas integradas para a solução desses problemas.” No tocante aos materiais genéticos, que são outra base da produção orgânica, verifica-se reduzida oferta de materiais adaptados para os sistemas de base ecológica. “Um outro aspecto que demandou tempo nas discussões diz respeito à comercialização e à distribuição, e, nesse sentido, há questões relacionadas ao preço inadequado dos produtos orgânicos, tanto para o consumidor quanto para o produtor, à necessidade de uma rede mais estruturada ligada à comercialização e à dificuldade de adequar mecanismos de avaliação de conformidade, que são aqueles que garantem que o produto é orgânico para que seja possível ter o registro e a rastreabilidade dos produtos”, complementou.

Como exemplo do exercício feito para a construção da agenda de inovação, o pesquisador apontou parte do processo estudado para sanar a reduzida oferta local e regional de insumos para manejo do solo e nutrição vegetal. “A partir da identificação dos desafios, foi possível identificar ações que pesquisadores, extensionistas ou outros profissionais podem fazer de forma mais concreta. Por exemplo: na pesquisa, avaliar fontes alternativas de nutrientes para o manejo da fertilidade do solo e da nutrição de plantas; na transferência de tecnologias, divulgar informações técnico-cientificas sobre insumos, processos e práticas gerados pela pesquisa e apropriados junto aos agricultores; na assistência técnica e extensão rural, que promova a apropriação desses conhecimentos pelos agricultores e pelo setor produtivo de maneira mais ampla”, citou.

Impactos potenciais

A partir da premissa de que os desafios de inovação serão vencidos e trabalhados, alguns dos impactos potenciais positivos passam pela diminuição do uso de agroquímicos – proibidos na agricultura orgânica –, maior acesso da população a produtos orgânicos, comprometimento com o meio ambiente e a saúde pública, redução da dependência química da agricultura brasileira, ampliação da oferta e da da utilização e bioinsumos, entre outros.

Além disso, Espindola destacou a importância da renovação do Plano Nacional de Agricultura Orgânica (Planapo), como política pública fundamental para incentivar o setor, e citou o quanto a construção de sua terceira edição está sendo aguardada. “A gente vê com muitos bons olhos a possibilidade de um novo Planapo. Não estou dizendo que é o único caminho, mas não consigo enxergar que apenas um setor vai trazer todas as soluções. É importante integrar a pesquisa, a transferência, as políticas públicas, as empresas e certificadoras, pra que a gente consiga encontrar possíveis soluções para esses problemas. Se cada um der uma contribuição, com certeza daremos passos mais concretos e seguros”, opinou.

Para o presidente da Câmara Temática de Agricultura Orgânica, Luiz Demattê, o trabalho desenvolvido pelo grupo de trabalho é bastante significativo e relevante para o crescimento do setor. Já a pesquisadora da Embrapa Mariane Vidal, assessora da Diretoria-Executiva de Pesquisa e Inovação e também membro do GT que estruturou a agenda de inovação da agricultura orgânica, chamou a atenção para a necessidade de encaminhamento e continuidade do trabalho. “Queremos que a Câmara Temática use este documento como orientador e direcionador de ações, inclusive de debates, mas, para além disso, é fundamental pensar em uma próxima etapa, de validação e desenho de metas de impacto com o setor produtivo. Isso nos daria uma orientação sobre como operacionalizar as ações sugeridas na agenda, com compromissos para a execução das ações”, apontou.

Além de Espindola e Vidal, que representaram a Embrapa no GT, o grupo também contou com a participação de membros do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), do Mapa, do Sebrae Nacional, do Instituto Brasil Orgânico, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), além de representantes do setor produtivo.

Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia

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