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Artigo - A carne bovina brasileira alcançará o mercado “gourmet”?

Guilherme Cunha Malafaia

Gelson Luís Dias Feijó

Pesquisadores da Embrapa Gado de Corte

 
A resposta imediata é sim, mas não será tão rápido assim esse processo. Neste artigo buscamos mostrar a ponta do “iceberg”, pois o assunto é amplo e complexo. Este texto serve, portanto, como uma linha de pensamento que poderá evoluir a ponto de orientar o que será a pecuária brasileira no futuro.

É indiscutível o progresso auferido pela cadeia da carne bovina nas últimas décadas, alçando o Brasil ao patamar de “o grande player” do mercado. O Brasil é hoje um dos maiores provedores de carne do mundo, tanto pela quantidade de carne exportada como pelas garantias de constância e qualidade dessa oferta. Os conceitos de carne ingrediente e carne culinária são plenamente alcançados pelo produto brasileiro, o que é algo positivo e negativo ao mesmo tempo. É bom porque garante os mercados ora atendidos, mas mostra fragilidade no baixo preço do produto exportado1

Sendo otimista, essa fragilidade na verdade é uma oportunidade para o país. Uma das razões para a carne brasileira ser o que é hoje é resultado dos sinais dados aos produtores no passado. Que orientação o sistema produtivo recebeu nas últimas
décadas para direcionar a produção?

Em um passado não muito distante houve um contexto de escassez. O Brasil importou até carne com suspeita de estar contaminada por radioatividade2.  A cadeia foi estimulada a aumentar a produção e respondeu positivamente e a missão foi cumprida. Logo depois, o foco mudou e o sistema produtivo passou a visar a produtividade. Viu-se que a proposta de aumento horizontal da produção era insustentável, afinal, na pior das justificativas, há limites territoriais. A cadeia foi estimulada a focar na produtividade, hoje reconhecida. O sistema produtivo novamente respondeu positivamente e vem cumprindo sua missão3

Portanto, o que é preciso para que a cadeia da carne bovina brasileira atenda aos anseios do mercado da carne gourmet? Resposta imediata, muita coisa. A cadeia precisa ser redirecionada por ações que vão dos insumos ao consumidor, passando por todos os elos da cadeia. O que se pode antever e afirmar é que o início do processo não será no produtor. O início da mudança deve partir do mercado, pois o consumidor será o “juiz” que dirá se os esforços despendidos estão sendo efetivos. O consumidor precisará reconhecer que o produto é diferenciado para então pagar de forma diferenciada.

Mas o que o consumidor deseja? Se os anseios do consumidor nacional são insuficientes para redefinir os rumos da cadeia da carne brasileira, o mesmo deve ser buscado nos mercados externos: o que deseja o importador da carne brasileira? Para ambos, aplica-se a mesma condição: o primeiro passo é conscientizar o consumidor que ele está consumindo um produto brasileiro, para então questioná-lo sobre suas impressões e preferências. Mas é questionável se o consumidor brasileiro seria capaz de reorientar o sistema produtivo, pois em geral o consumidor brasileiro costuma desconhecer a carne que consome. Na comercialização da carne bovina, é prática antiga e atualíssima a falta de informação sobre o que o consumidor está comprando, embora tenha havido avanços consideráveis em nichos de mercados, em que houve a popularização de novos cortes. 

Para agregar valor vê-se o surgimento de cortes usando e abusando do estrangeirismo. Consumidores ditos entendedores do churrasco “gourmet” pagam preço de picanha pelo “denver steak” (acém) ou “flat iron steak” (paleta), ou seja, acém e paleta com apelidos viraram carne nobre e ganharam valor porque o consumidor provou, gostou e reconheceu suas qualidades. O interessante é que isto não é um problema, mas uma das soluções possíveis para o Brasil se aproximar do mercado de carne “gourmet”. Afinal, não basta um novo nome em inglês, francês ou espanhol: a novidade exige uma forma de preparo específica que tem custo e precisa agregar valor. Um único senão dessa prática é que fazendo isso o nome fantasia é desvinculado do corte oficial que o originou, o que favorece o oportunismo. É salutar a criação de cortes novos, mas é necessário seguir a Portaria Nº 5 de 8 de novembro de 1988 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, que padroniza os cortes no Brasil. As peças comercializadas embaladas deveriam ter anúncios e etiquetas contendo o nome fantasia e entre parênteses o nome do corte padrão que lhe deu origem. Como exemplos de que o futuro da cadeia da carne bovina no Brasil precisa do esforço de todos os seus elos, uma ação institucional envolvendo governo e a iniciativa privada seria a universalização da adoção do sistema brasileiro de tipificação de carcaças bovinas para todo e qualquer animal abatido, associando-se esta tipificação com à devida rotulação dos cortes conforme os tipos de animais abatidos. O consumidor precisa conhecer e reconhecer os tipos de produtos que estão disponíveis no mercado. Uma segunda iniciativa seria a reedição da portaria de padronização de cortes bovinos, trazendo as variantes mais comuns dos cortes originais em formato similar ao elogiável catálogo da ABIEC que hoje existe direcionado à exportação4 .

Se o consumidor souber o que consome, saberá valorizá-lo apropriadamente.

 

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1 Boletim CiCarne n. 25: “Brasil recebe de 27 a 41% a menos pela carne bovina exportada do que concorrentes. Disponível em: https://www.cicarne.com.br/wpcontent/uploads/2020/10/BoletimCiCarne-25.pdf

2 Em 1986.

3 Boletim CiCarne n.08. “A produtividade do rebanho bovino brasileiro em carcaças aumentou 80% em 20 anos”. Disponível em: https://www.cicarne.com.br/wp-content/uploads/2020/06/Boletim-CiCarne-08.pdf

4 Disponível em http://abiec.com.br/en/publicacoes/brazilian-beef-cuts-book/.

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