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Controle biológico: ciência a serviço da sustentabilidade

A Embrapa investe em pesquisas de controle biológico de pragas desde os anos 80. Essas mais de três décadas dedicadas a estudos científicos resultaram num sólido expertise que envolve cerca de 30 unidades de várias regiões brasileiras e mais de 130 projetos de pesquisa.

A premissa básica do controle biológico é controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitóides, e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias.

Trata-se de um método de controle racional e sadio, que tem como objetivo final utilizar esses inimigos naturais que não deixam resíduos nos alimentos e são inofensivos ao meio ambiente e à saúde da população.

Dessa forma, a pesquisa agropecuária espera contribuir para reduzir o uso de pesticidas químicos empregados no manejo integrado de pragas, colaborando para a melhoria da qualidade dos produtos agrícolas, redução da poluição ambiental, preservação dos recursos naturais e, portanto, para a sustentabilidade dos agroecossistemas.

Tendências do controle biológico no Brasil e no mundo

Se, por um lado, o Brasil comemora o fato de ser líder mundial no setor do agronegócio, por outro lado, essa liderança impacta numa dependência crescente de insumos importados, incluindo os agrotóxicos sintéticos, imputando ao País o triste predicado de ser também líder mundial no consumo desses produtos. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é responsável por 1/5 do consumo mundial de agrotóxicos, usando 19% dos agrotóxicos produzidos no mundo. 

Anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. No Brasil o consumo anual tem sido superior a 300 mil toneladas. Nos últimos quarenta anos, houve um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% enquanto a área agrícola aumentou 78% no mesmo período. 

Nunca se usou tanto agrotóxico nas lavouras brasileiras. De acordo com o IBGE, a utilização de produtos químicos para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas mais que dobrou em dez anos. Entre 2002 e 2012, a comercialização de agrotóxicos no país passou de quase três quilos por hectare para sete quilos por hectare. Um aumento de 155%. Além do aumento do uso de agrotóxicos sobre os alimentos, o IBGE também avaliou os diferentes tipos de agrotóxicos sintéticos pulverizados sobre as lavouras. Cerca de 30% dos agrotóxicos foram classificados como muito perigosos.

As cifras sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil impressionam e, reconhecidamente, o uso intensivo de agrotóxicos sintéticos na agricultura causa diversos problemas, como a contaminação dos alimentos, do solo, da água e dos animais; a intoxicação de agricultores; a resistência de pragas a princípios ativos; a intensificação do surgimento de doenças iatrogênicas; o desequilíbrio biológico, alterando a ciclagem de nutrientes e da matéria orgânica; a eliminação de organismos benéficos e a redução da biodiversidade.

Esses dados preocupam os diversos segmentos da sociedade e têm levado à uma demanda crescente por alternativas que atendam às restrições ambientais e às exigências dos consumidores. O controle biológico, inserido no manejo integrado de pragas, é uma das opções viáveis para atender aos anseios da sociedade na busca constante por soluções sustentáveis.

Na Comunidade Europeia, em 2009, houve a aprovação de um pacote legislativo para efetiva adoção de programas de Manejo Integrado de Pragas, que gerou uma demanda pelo uso sustentável de agrotóxicos e ofereceu oportunidades para maior inserção de agentes de controle biológico. Ações dessa natureza estão ocorrendo no legislativo brasileiro como, por exemplo, o Projeto de lei do Senado nº 679 de 2011(Art. 21ª) que criou a Política Nacional de Apoio ao Agrotóxico Natural, e o decreto n 7794, de 20/08/2012, que instituiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.

O controle biológico natural em todos os ecossistemas mundiais está estimado em 85,5 milhões de km2, já o controle biológico clássico, que utiliza inimigos naturais exóticos para o controle de pragas tem seu uso estimado em 3,5 milhões de km2 (10% da terra cultivada). O controle biológico aumentativo, o qual envolve a liberação de inimigos naturais produzidos em larga escala (nativos ou exóticos) para o controle de pragas e doenças está sendo aplicado em 0,16 milhões de km2 (0,4% da terra cultivada).

No Brasil, em 2010, o mercado de produtos de controle biológico foi aproximadamente de U$ 70 milhões, equivalente a 2% da venda do mercado de agrotóxicos sintéticos. Estima-se que a área tratada com agentes de controle biológico no Brasil seja ligeiramente inferior a 8 milhões de hectares/ano. Embora elevada em termos absolutos, a participação percentual ainda é tímida nas culturas para as quais há alternativas biológicas disponíveis.

O perfil atual da indústria de agentes de controle biológico inclui, em sua maioria, pequenas e médias empresas especializadas, poucas estabelecidas há mais de 10 anos. Apesar do predomínio das pequenas e médias empresas, grandes empresas, tradicionalmente líderes no mercado de agrotóxicos sintéticos, estão adquirindo ou reativando divisões relacionadas ao desenvolvimento de biopesticidas, em função da perspectiva de negócios no mercado brasileiro.

Frente ao cenário positivo, as pesquisas de controle biológico representam uma oportunidade para a inovação e competitividade na agricultura brasileira e atendem às perspectivas ambientais e ao uso sustentável dos serviços ambientais. Com esse mercado crescente, que deverá duplicar ou triplicar mundialmente nos próximos 10 anos, é provável que a demanda para aperfeiçoar os processos relacionados ao controle biológico também aumente, gerando oportunidades para a pesquisa e parcerias para a inovação nesse campo.

O controle biológico na Embrapa

A Embrapa é uma das protagonistas na área de controle biológico no Brasil, com muitos resultados de pesquisa básica gerados nas últimas três décadas por cerca de 30 de suas unidades de pesquisa em todo o Território Nacional. Entretanto poucas soluções tecnológicas chegaram efetivamente aos agricultores brasileiros.

Por isso, a prioridade da Empresa hoje é agilizar a transferência dos conhecimentos e tecnologias gerados na área de controle biológico ao setor produtivo, a partir de redes sinérgicas internas ou externas com instituições de ciência e tecnologia nacionais e internacionais, em parcerias público-privadas, que efetivamente contribuam para ampliar a utilização de agentes de controle biológico, reduzindo o uso de agrotóxicos sintéticos.

Uma das ações da Embrapa nesse sentido foi a criação do Portfólio Corporativo de Controle Biológico em 2013. O objetivo é otimizar as ações relacionadas à essa área de atuação, fazendo com que os resultados de pesquisa cheguem com mais rapidez e agilidade ao setor produtivo.

O Portfólio pretende organizar as ações de pesquisa dentro da Embrapa, integrando profissionais, recursos, serviços, infraestrutura e parceiros, de forma a incrementar as pesquisas de controle biológico no Brasil e consolidar o protagonismo da Embrapa junto ao setor produtivo.

Paralelamente, as projeções mercadológicas apontam para um cenário positivo e crescente de produtos biológicos destinados ao controle biológico de pragas, com perspectivas de que dobrem ou até tripliquem nos próximos 10 anos em escala global. Isso significa que as pesquisas na área de controle biológico representam uma oportunidade para a inovação e competitividade na agricultura brasileira e oportunidades de parcerias voltadas à inovação.

Para garantir a qualidade do conhecimento básico gerado na área de controle biológico, ao mesmo tempo em que prioriza a transferência de tecnologias aos produtores brasileiros, a Embrapa atua hoje nas seguintes frentes:

- Implementação do controle biológico no âmbito do manejo integrado de pragas;

- Utilização de técnicas de manejo cultural e do solo que favoreçam a ação dos agentes de controle biológico (insetos benéficos, predadores, parasitóides, e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias com potencial patogênico sobre insetos-praga) introduzidos e de ocorrência natural;

- Formação de profissionais para o desenvolvimento e uso do controle biológico e para a implantação da cultura de utilização dessa tecnologia;

- Participação na elaboração de políticas públicas para incentivar a utilização de agentes de controle biológico, regulamentação de pesquisa, desenvolvimento e registro de produtos à base de agentes de controle biológico;

- Estímulo à criação de empresas incubadas para o desenvolvimento desses agentes;

- Desenvolvimento de produtos biológicos, em conjunto com a iniciativa privada.

Principais desafios

- Eliminar os fatores restritivos a expansão do controle biológico;

- Quebrar o paradigma da utilização do controle biológico;

- Proporcionar agilidade para a exploração dos agentes de controle biológico (em desenvolvimento ou na forma do potencial de suas coleções) na Embrapa. 

Vertentes

O Controle biológico abrange cinco vertentes: biodiversidade, estratégias de desempenho de agentes de controle biológico, integração com ações de proteção de cultivos, impactos do uso desses agentes e a sua adoção no setor produtivo.
1) Biodiversidade – prospecção, conhecimento, conservação e valoração (espectro de atividade, biogeografia, metabólitos secundários, variabilidade genética) de agentes de controle biológico nativos e exóticos, de forma a constituir bancos de ativos tecnológicos.

2) Estratégias incrementais de desempenho de agentes de controle biológico nativos e exóticos– seleção estratégica; realização de análises de bioecologia com base em características ecológicas necessárias para boa persistência de sua atividade a campo (tolerância à alta ou baixa temperatura, resistência à seca, radiação UV, outros); definição dos estádios vulneráveis no ciclo de vida da praga alvo com vistas à ampliação das possibilidades de uso desses agentes; metodologias de produção em larga escala; formulação e avaliação da sua eficiência em relação aos insetos-alvo.

3) Integração das estratégias de proteção de cultivos – estimular técnicas de manejo que favoreçam a ação dos agentes introduzidos e de ocorrência natural.

4) Impactos do uso de agentes de controle biológico – avaliar os impactos ambientais, sociais e econômicos do uso de agentes de controle biológico, com base na sua especificidade e persistência (monitoramento da dinâmica populacional desses agentes antes e após liberação a campo).

5) Estratégias incrementais de adoção de agentes de controle biológico – formação de profissionais para o desenvolvimento e uso do controle biológico e definição de metodologias para a sua transferência ao setor produtivo, incluindo cooperativas e empresas agrícolas familiares.

Linhas de pesquisa, desenvolvimento e inovação

A pesquisa de controle biológico na Embrapa hoje abrange as seguintes áreas de atuação:

- Prospecção e introdução de agentes de controle biológico nativos ou exóticos;

- Formação e manutenção de bancos de ativos tecnológicos relacionados a inimigos naturais;

- Desenvolvimento de kits diagnósticos para identificação de pragas e seus inimigos naturais de modo a auxiliar na tomada de decisão sobre o manejo correto da praga-alvo;

- Avaliação da influência dos fatores do ambiente sobre potenciais agentes de controle biológico e sobre a interação com o hospedeiro-alvo;

- Avaliação de risco de utilização desses agentes, com foco em organismos não-alvo;

- Capacitação de profissionais para o desenvolvimento e uso do controle biológico e para a implantação da cultura de utilização dessa tecnologia;

- Desenvolvimento de metodologias de produção dos agentes de controle biológico em larga escala;

- Desenvolvimento de metodologias de formulação de agentes de controle biológico, com foco no aumento do seu potencial de persistência sobre os insetos-alvo;

- Desenvolvimento de metodologias para avaliação da qualidade dos produtos à base de Agentes de Controle Biológico;

- Desenvolvimento de processos para a integração desses agentes com outras ferramentas de manejo de pragas;

- Manejo do agroecossistema para promover serviços de regulação de pragas;

- Estratégias inovadoras de veiculação de agentes de controle biológico;

- Desenvolvimento de bases de dados, estratégias, modelos e geotecnologias para caracterização e monitoramento dos agentes em ambientes agrícolas e naturais;

- Desenvolvimento de metodologias para avaliação dos impactos ambientais, sociais e econômicos;

- Desenvolvimento de técnicas de monitoramento da presença das pragas e dos inimigos naturais para determinar o momento adequado de utilização dos agentes de controle Biológico;

- Desenvolvimento de metodologias para avaliar a eficácia agronômica dos potenciais Agentes de Controle Biológico;

- Bases de dados para fomentar as instituições de regulamentação sobre a utilização desses agentes de Controle Biológico, levando em consideração a segurança, patentes, riscos ambientais e interações, entre outros fatores.