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A seca é um fenômeno natural que se caracteriza pela escassez de água, provocada pela deficiência de chuva por um período de tempo. No Semiárido brasileiro, a seca é recorrente e complexa, e resulta em repercussões negativas significativas tanto nos ecossistemas quanto nas atividades socioeconômicas e na qualidade de vida da população.

 

Semiárido é uma região do país que tem influência do clima semiárido, ou seja, que apresenta altas temperaturas, chuvas escassas e irregulares, com longos períodos de estiagem. Sua delimitação é feita oficialmente pela Sudene (acesse aqui). Ao todo, a região é composta por 1.427 municípios de 11 estados, e ocupa cerca de 12% do território nacional, onde vivem cerca de 27 milhões de habitantes.

 

Embora os termos “Semiárido”, “Nordeste” e “Caatinga” às vezes sejam confundidos entre si, é importante frisar que tratam-se de conceitos diferentes. 

Semiárido é área do país que tem influência do clima semiárido, sendo a sua maior parte localizada na região Nordeste. No entanto, também inclui municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, que não fazem parte do Nordeste, mas que possuem características semelhantes de clima. 

Nordeste é uma das cinco grandes regiões do país, instituídas desde 1970, ao lado do Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. É composta por nove estados: Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. Nesta região, predomina o clima semiárido, porém não é o único, visto que em alguns locais próximos ao litoral o clima é tropical úmido e até super úmido.

Já a Caatinga é um dos seis biomas do Brasil, sendo o único de ocorrência exclusiva dentro do território nacional. Está presente na região de clima semiárido e, por isso, sua área de ocorrência por vezes se confunde com o Semiárido. 

 

O regime de chuvas da região Semiárida brasileira é influenciado por diferentes fatores climáticos. O principal deles é a a Zona de Convergência Intertropical, que atua sobre o Oceano Atlântico e é responsável pelas precipitações registradas no centro-norte da região entre os meses de fevereiro e maio. Os sistemas frontais, ou frentes frias, provocam chuva no centro-sul da região e atuam nos meses de novembro a janeiro. Já os vórtices ciclônicos de altos níveis ocorrem entre setembro e abril. Outros eventos também exercem influência na região, como o El Niño e La Niña Oscilação Sul, resultantes de alterações nos valores da temperatura da água da superfície do mar no Oceano Pacífico, do dipolo no Oceano Atlântico, dos Ventos Alísios e do comportamento da pressão ao nível do mar.

 

A seca é considerada um dos principais limitantes que afetam a segurança alimentar e a sobrevivência de mais de dois bilhões de pessoas em todo o planeta. A eficiência produtiva nas regiões mais suscetíveis às estiagens depende de uma série de medidas de monitoramento e mitigação dos efeitos negativos desse fenômeno, através do uso racional e sustentável dos recursos hídricos (água), edáficos (solo) e da biodiversidade.

 

A seca é um fenômeno natural comum no Semiárido brasileiro e que se repete anualmente. A cada dez anos, em média, há ocorrência de eventos de maior intensidade. Calcula-se que a cada 100 anos há entre 18 e 20 anos com secas intensas na região.
Os primeiros relatos de ocorrência de seca no Nordeste brasileiro datam do final do século XVI (1583/1585), quando cerca de cinco mil índios foram obrigados a fugir do sertão em função da fome. Desde então, inúmeros registros já foram feitos, considerando-se os períodos mais drásticos de seca os anos de 1615, 1692/93, 1709/11, 1723/27, 1744/45, 1776/78, 1790/93, 1831, 1844/46, 1877/79. O século XX foi um dos mais drásticos, em que se destaca o período de 1903/1904, quando passou a constar na Lei de Orçamento da República uma parcela destinada às obras contra as secas. Já nos anos de 1979/1984 ocorreu a mais prolongada e abrangente seca da história do Nordeste. 

 

Mesmo com todo o aparato moderno de equipamento e tecnologia, não há nada seguro que se possa prever além de 90 dias. No entanto, registros históricos apontam que as secas são cíclicas, repetindo-se fenômenos mais extremos a cada 10 anos, aproximadamente. Desta forma, elas não podem ser previstas com precisão, mas é possível que os governos e populações estejam preparados para minimizar seus efeitos.

 

Historicamente, o alívio dos efeitos da seca no Semiárido sempre foi feito por meio de medidas emergenciais e reativas. No ano de 1891, foi incluído na Constituição Brasileira um artigo que obrigava o Estado a socorrer áreas atingidas por desastres naturais, entre eles a seca. Atividades de combate aos efeitos desse fenômeno – como construção de açudes e barragens, perfuração de poços, assistência à população com distribuição de alimentos, formação de frentes de trabalho etc. – iniciaram-se em 1909, com a criação da Inspetoria de Obras Contra as Secas (Iocs), posteriormente denominada Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Desde então, diversas medidas têm sido tomadas, minimizando os efeitos sobre a população. No entanto, embora essas ações tenham sido essenciais para o desenvolvimento da região, existem ainda significativos desafios a serem solucionados, como a erradicação da pobreza, a eliminação das desigualdades regionais e aumento de conhecimento sobre a gestão das águas, principalmente no aspecto qualitativo.

 

O conceito de convivência com a seca no Semiárido parte da premissa de que este é um fenômeno natural e inevitável, e de que é perfeitamente possível conviver com ele. Assim, traz um olhar diferenciado ao que antes era visto como “combate à seca”, entendendo que este não é um “inimigo” que possa ou precise ser derrotado.
Para a efetiva convivência com a seca, faz-se necessário um conjunto de ações que aproveitem as potencialidades da região e contribuam para melhorar a qualidade de vida da sua população, principalmente rural, garantindo produção sustentável, mínimo êxodo rural, além de contribuir para a conservação dos recursos naturais.

 

Não existe uma receita pronta e que sirva para todos. O essencial é que as famílias tenham acesso à água para consumo humano, para consumo animal e, em alguns casos, para alguma produção. Além disso, é necessário que se tenha uma gleba de terra com tamanho e qualidade suficientes para o sustento dos agricultores e de suas famílias. Isto garantido, é necessário ter sistemas de produção diversificados com cultivos alimentares, culturas de renda e, principalmente, pequenas criações, trabalhando com plantas mais resistentes, animais mais rústicos ainda que menos produtivos, além de se buscar uma harmonia com o ambiente em que se vive. Além disso, para uma efetiva convivência com a seca é importante estar preparado para o momento em que a seca vier, porque é certo que ela vai chegar. O uso de forragens conservadas, por exemplo, é uma estratégia para garantir a segurança alimentar dos rebanhos no período seco. Também são importantes estratégias para aumentar a eficiência no uso da água na produção agrícola, como aumento do teor de matéria orgânica nos solos, com o uso de adubações orgânicas, e o uso de cobertura morta para reduzir a evaporação.

 

Grande parte dos poços do Semiárido brasileiro possuem elevado teor de sal, além de baixa vazão. Atualmente, a maior parte dos produtores faz uso dessas águas sem orientação técnica adequada, o que pode comprometer a sustentabilidade desses sistemas de produção. Dentre os impactos do uso incorreto das águas salinas, pode-se citar a dispersão dos agregados do solo, em função do excesso de sódio adicionado via água de irrigação, e a salinização dos solos, que afeta a produtividade das culturas, as condições de vida dos produtores, a economia da região, os ecossistemas e a qualidade dos recursos naturais. Apesar dessas limitações, e levando em conta a grande importância da água para a região semiárida do Brasil, com o uso de tecnologia adequada, essa água pode se tornar uma alternativa de mitigação dos efeitos das secas e das alterações climáticas. Nesse sentido, conhecer a aptidão do solo para receber irrigação e também a qualidade da água disponível, bem como a adequabilidade das culturas a esses sistemas, são aspectos fundamentais para a sustentabilidade da agropecuária dependente de chuva no Semiárido brasileiro.